quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

 


Directora do Convento de Cristo. Imagem Tomar na Rede, com os agradecimentos de TAD3


Economia local - Autarquia - Administração pública

Caminho de Ferro, Convento de CristoFesta dos tabuleiros

Aqui, no nordeste do Brasil, a sete horas de avião de Lisboa, três temas ocupam a actualidade de hoje, para quem escolheu viver longe da terra, por ser bem mais confortável. São o Caminho de Ferro-Ramal de Tomar, o Convento de Cristo e a Festa dos Tabuleiros, por ordem alfabética, para evitar mal entendidos.
Significativamente, a mostrar a pobreza da nossa democracia, dos três temas, só o último depende da Câmara local. Os outros são do domínio reservado do Estado que temos. Vamos a eles, aos problemas, claro.

Caminho de Ferro - Ramal de Tomar

Creio que quem tenha vivido bastantes anos em Tomar, e seja razoável observador, já se terá dado conta de que os tomarenses em geral padecem de três maleitas, por esta ordem: 1 -Medo; 2 - Conservadorismo; 3 - Inveja.
A questão do Ramal de Tomar  que agora surge mais uma vez, resulta da junção do medo com a inveja. Medo de vir a perder a Linha Expresso Regional do Metro de Lisboa, exactamente aquilo que hoje é na realidade o ramal. Inveja porque o governo quer roubar tudo aos tomarenses. Neste caso o seu brinquedo, que também serve para ir trabalhar.
O curioso da questão é que a srª presidente da Câmara também acredita que querem levar as principais linhas de passageiros. para a faixa costeira. Mas entretanto apoiou com entusiasmo a fusão Médio Tejo-Lezíria do Tejo-Oeste, liderada pela metrópole regional que é Leiria, cuja estação REFER fica a alguns quilómetros da cidade, mas é na faixa costeira. Ou não? Conviria explicar tal incoerência, pelo menos aparente.

Convento de Cristo

É crónico. De cada vez que termina a comissão de serviço da direcção do monumento, a DGPC atrasa-se na abertura do respectivo concurso. Deixa a marinar. No caso do Convento até se sabe porquê, nestes últimos mandatos. Procura-se a melhor maneira de garantir que quem está fica, uma vez que a sua vinda inicial nem foi bem uma promoção, mas um exílio imposto. Procuram portanto conseguir um "concurso com fotografia", sem que se note demasiado.
Sei do que falo, e não me move a inveja. Fui convidado para o lugar, ainda no tempo do IPPC, e não aceitei. Agora já não tenho idade.
No meu entendimento, os grandes monumentos Património da humanidade deviam ter um director de exploração turística e, sob a sua alçada, um responsável pela conservação e restauro. Directores de departamento e chefes de divisão são qualificações de outro tempo que já foi e não volta. De Nova Iorque a Pequim, só em Lisboa é que parece que ainda não perceberam. Ou não querem perceber?

Festa dos Tabuleiros

Na sequência do recente esbulho, praticado por um caramelo que resolveu registar como coisa sua o modelo das samarras e capotes alentejanos, (e conseguiu, o magano!), um amigo alarmou-se e perguntou-me se não havia o perigo de fazerem o mesmo com a "nossa" Festa dos Tabuleiros. O tal medo, que atazana a generalidade dos tomarenses, quando se trata de encarar o futuro.
Sei que vou chocar muita gente, mas como sempre procurei falar claro e urinar a direito, não era agora, passados os 80 que ia mudar. Até parecia mal. Agreste uma vez, agreste até por cá andar.
A Festa dos tabuleiros já conheceu três fases. Na primeira, anterior a 1950, era um cortejo de oferendas, organizado pela Misericórdia de Tomar, a favor dos pobres. A partir de 1950, sob a égide de João dos Santos Simões, -o Jones da fábrica- inspirado nas práticas do salazarista António Ferro, passou a ser uma festa financiada pelo governo e de "beija-mão" à câmara não eleita de então. Manteve no entanto, com algum sucesso, a sua vertente assistencial, distribuindo gratuitamente a pesa (carne, pão e vinho) a centenas de pessoas carenciadas.
Já depois de 1974, a Festa transformou-se num cartaz turístico e de propaganda da autarquia, em que a própria distribuição de vinho e alimentos se tornou folclórica porque residual. Já não há pobres sem ajudas que a justifiquem. A Cáritas, por exemplo, distribui a quem precisa alimentos gratuitos, ao longo de todo o ano.
Dada a evidente inutilidade caritativa, o problema reside no custo da festa, que em 2019 já abrigou a Câmara a desembolsar mais de 600 mil euros em subsídios não recuperáveis, o que corresponde a mais de 15 euros por habitante. É um manifesto exagero, que a alegada promoção turística não justifica de forma alguma. Tanto mais que, organizada por quem saiba e com respeito integral pela tradição, a festa podia dar lucro substancial. É portanto mais uma grande oportunidade perdida.
Dois obstáculos impedem a sua adaptação ao mundo moderno. 1 - A Câmara não quer perder o controle da respectiva comissão organizadora. Para ter a certeza de que vai poder desfilar à cabeça do cortejo. Como no tempo do salazarismo, só que agora já não se justifica, uma vez que estão legitimados pelo voto livre, o que lhes garante o direito de encabeçar o cortejo. 2 - Os mais ligados à festa são todos acima de qualquer suspeita, corajosos e capazes. Mas têm medo de lhes tocar a organização do novo modelo e de não virem a estar à altura. Ou, pior ainda, que apareça alguém de fora do círculo, e lhes mostre como se faz, de forma a ganhar-se muito dinheiro. Já viram o escândalo que seria, ao constatar-se os anos entretanto perdidos? Por isso o melhor é mesmo continuar naquela fase tão tomarense em que não fazem nem deixam fazer. Nem coiso, nem saem de cima
Como escrevia amiúde o saudoso VPV, o mundo está perigoso! Sobretudo em Tomar, devido à idiossincrasia nabantina.

3 comentários:

  1. Sobre a ferrovia.. Incrível, ninguém sabe nem se preocupa em saber.. João Tenreiro e Anabela Freitas referem que:

    >>"O Entroncamento vai desaparecer por completo e por consequência o ramal de Tomar"
    - Errado, ainda agora foi reaberta após grandes obras a ligação entre Linha da Beira Baixa e Beira Alta (que esteve fechada 10 anos..)
    - A linha do norte está a ser ampliada até onde é possivel

    >>"Desvio da ligação Lisboa-Porto para o litoral"
    - O que vai acontecer é uma nova linha em alta velocidade . A linha do norte irá continuar ao serviço e provavelmente como mais oferta e ligações interegionais , em virtude de as ligações rápidas diretas passarem para nova linha. O que é uma evidência é que a linha está saturada sem slots livres para carga e passageiros (não é uma linha moribunda, pelo contrário!)

    >>"Desvio da ligação a Espanha para sul, acabam o Talgo e o Sud Express"
    - Lamento informar mas já não existem ligações internacionais via Talgo ou Sud Express.. E pelos vistos não irão ser repostas
    - Lamento informar mas a nova linha que está a ser construída no Caia serve principalmente para mercadorias - ligações transeuropeias do Porto de Sines e de Lisboa. Para essa linha ser economicamente viável para passageiros é necessário fazer a terceira ponte sobre o Tejo (ainda nem o aeroporto sabem , quanto mais)

    >>"Pode Tomar perder alguma importância em termos de nº passageiros"
    Será possível perder ainda mais passageiros?? (ver nota abaixo sobre estação Fátima, que foi abafada por Caxarias..)

    >>"Terá que se ligar [o interesse de Tomar] da ferrovia à rodovia e aeroporto.."
    -Tomar não se pode queixar de rodovia, tem IC9 e A13. IC9 inclusivamente irá ter em breve um nó de ligação direto à A1 em Fátima, mas as pessoas sabem o que está a acontecer à volta? Ourém sabe, ao estar a fazer/melhorar ligações dos Parques Industriais ao IC9..


    MAS o debate em Tomar (e perguntas ao governo) deviam passar por:

    - Quais as propostas que a CM Tomar e oposição apresentaram na discussão pública do Plano Ferroviário Nacional (o CDS ao que parece apresentou uma, eu outra, mais desconheço..)?

    - As valências da estação de Fátima-Chão de Maçãs-gare foram transferidas há 20 anos para o concelho de Ourém para Caxarias, com a oposição envergonhada de Tomar.. Um processo vergonhoso, argumentando Ourém na altura que era mais rápido chegar a Fátima.
    Pois bem, há uns anos bons que existe o IC9 e é bastante mais rápido, confortável e seguro fazer a viagem desde a estação na Sabacheira até Fátima, Tomar e um dia.. Até a nova estação de alta velocidade de Leiria!

    -E o que a CM Tomar tem feito nos últimos tempos (apesar de ser só intenções)? ..negociar com a IP o esvaziamento completo do agora "apeadeiro" para colocar lá Espaço Cidadão da Sabacheira, Museu do Brinquedo ..(?!)
    Acresce que estrategicamente Tomar deveria valorizar a única estação que tem na linha do Norte (a 10min da cidade, enquanto Entroncamento está a 25 minutos), já que em breve irão haver outros operadores de passageiros para além da CP

    - O Médio Tejo terá acesso por ferrovia à alta velocidade (em Leiria)?
    Recentemente o Governo aprovou a interligação da linha do Oeste à nova linha de Alta velocidade (a nova estação de Leiria irá receber comboios de ambas as linhas permitindo o transbordo direto, implicando um ramal/desvio da linha do oeste de +10km). Porque não fazer o mesmo com a linha do Norte (nova linha 35km a partir do Entroncamento ou mesmo de estação Fátima/Sabacheira)?

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    1. Tomar nem sequer tem, nem parece haver interesse em ter, um plano local de turismo, só com estacionamento, sinalização, sanitários e ligação de transporte urbano entre a cidade e o convento, quanto mais agora planos com acessibilidades e conexões à futura rede de alta velocidade. Estão convencidos que bastam os eventos e os generosos subsídios para garantir o futuro. E o povo parece gostar assim. Quanto menos progresso melhor, para evitar chatices.

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  2. Porque carga de água é que os tomarenses se haveriam de se chatear com estes assuntos , isso é lá com eles !
    E eles a salivar !

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