Candidatura da Festa dos tabuleiros a Património Imaterial Mundial da UNESCO
Mentir a falar verdade
Na política, uma das grandes habilidades é conseguir enganar os cidadãos, segundo as conveniências de quem governa, sem todavia lhes mentir abertamente. "Com a verdade me enganas", costuma comentar o povo, na sua sabedoria milenar. Em Tomar, durante os dois primeiros mandatos da actual maioria PS, tudo correu pelo melhor, na área da intrujice política, graças à exagerada complacência da oposição PSD.
Pouco tempo decorrido, factos convergentes indicam que esses tempos de calmaria são coisa do passado. A nova oposição social-democrata tem-se mostrado mais sabedora e mais agressiva. Confrontada com tal mudança, e com um estilo a que de todo não estava habituada, a srª presidente necessitou de reforços, o que implicou intervenções directas do seu vice e, mais recentemente, da vereadora da cultura, cujo gabarito intelectual desconheço. Sei apenas que transformou o salão renascentista do piso térreo da antiga Comissão de Iniciativa e Turismo, numa espécie de escritório de advogado com excessiva tendência para bebidas espirituosas, tal é a desarrumação.
Ou antes, sabia, pois agora apurei que também sabe mentir a falar verdade. Aldrabar quem a ouve, em linguagem corrente. Segundo a Rádio Hertz, o sr. vereador Carrão abordou a questão da candidatura da Festa dos tabuleiros a património imaterial da humanidade da UNESCO:
A senhora vereadora do pelouro foi lesta na resposta, mas respeitando a verdade apenas à sua maneira. Como os leitores mais informados bem sabem, a questão tem a ver com um ajuste directo de 75 mil euros mais IVA, em 2018/19, para elaboração do processo de candidatura acima referido, e que ao cabo de mais de dois anos continua envolto em mistério. Segundo as últimas informações oficiais disponíveis, foi "devolvido para aperfeiçoamento", em 21 de Agosto passado. Porquê? É a resposta que se aguarda, e que a srª vereadora se furtou a fornecer:
https://radiohertz.pt/tomar-filipa-fernandes-acredita-num-desfecho-positivo-na-candidatura-da-festa-dos-tabuleiros-a-patrimonio-cultural-imaterial-nacional/
Preferiu informar que acredita estar próxima a inscrição dos tabuleiros no Património Imaterial nacional. O que, verificação feita, é verdade, mas só uma parte da verdade. Está pendente a inscrição dos tabuleiros, mas apenas no "Inventário Nacional do Património imaterial", o que não é bem a mesma coisa, e serviu para intrujar quem esteja menos informado neste sector.
Aludindo ao caso das Festas do Povo de Campo Maior, a vereadora turística disse que a candidatura há pouco aprovada em Paris foi iniciada em 2018, o que não corresponde à verdade. Aquelas festas alentejanas foram incluídas no tal inventário nacional em 2018, e só agora, três anos mais tarde, foram aprovadas e inscritas na lista mundial do Património Imaterial da UNESCO.
Estamos portanto perante realidades diferentes. Campo Maior já é Património imaterial mundial. Os tabuleiros tomarenses ainda nem sequer integram o inventário nacional, condição prévia indispensável para apresentar a candidatura à UNESCO. Que vai levar o seu tempo.
Nestas condições, se quisesse respeitar a verdade, a srª vereadora teria dito o óbvio: Caso não haja mais percalços pelo caminho, (como por exemplo aquela aborrecida imagem da exploração da mulher portadora do tabuleiro, que os representantes dos países muçulmanos adoram, mas os nórdicos e os norte-americanos detestam), a Festa tomarense conseguirá a aprovação da UNESCO lá para o final deste mandato, ou mesmo no início do próximo. Quando a srª vereadora já estiver noutra situação menos cómoda, ou próximo disso. Porque, como referiu Lincoln, "é possível enganar alguns durante um certo tempo, mas impossível enganar toda a gente durante muito tempo".
Sem comentários:
Enviar um comentário