quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

 


Imagens de Justino Silva, a quem agradecemos. Buxo seco, excelente como acendalha para a lareira, substituindo com vantagem a carqueja, que convém reservar para o arroz, como propõe o Júlio, em Gouveia.

Património florestal

A morte lenta da Mata 

dos 7 montes ainda é evitável?

Começava a perder a esperança. Em três anos de sucessivas crónicas, procurando alertar os tomarenses para a acentuada degradação da velha Cerca conventual, particularmente do Jardim francês da Horta do frades, não havia grande resultado. Registou-se apenas aquela aventura foleira, em vésperas dos tabuleiros. Visivelmente complexada, a então presidente da Câmara, em vez de dialogar para encontrar uma solução, limitou-se a recorrer à direcção da entidade responsável pela mata, e decretou: é um fungo que está a atacar o buxo, garantem os técnicos, e a Câmara vai pagar um tratamento adequado por pulverização.
De nada valeu insistir na mudança de ecossistema, provocada pelo roubo de toda a água dos Pegões, que deixou de abastecer o Convento, o Castelo e a Mata. Fez-se o tratamento proposto, a Câmara pagou, os tabuleiros foram expostos em condições mais ou menos dignas, a senhora foi-se para outras paisagens mais acolhedoras e sem fungos, as contas dos tabuleiros nunca mais aparecem, e o resultado final até ao momento aí está, bem documentado nas duas imagens acima. O jardim está praticamente morto. Resta apenas a verdura espontânea, alimentada pela chuva da época. No próximo Verão a cor dominante será o castanho, em vez do verde.
Ao fim deste tempo todo, quando já começava a instalar-se o desânimo na minha cabeça, eis que aparece no facebook, na página do Gabinete de curiosidades de Tomar, uma crónica sobre o problema do jardim da Mata, que já ultrapassou os 80 comentários. Ainda bem que os tomarenses finalmente acordaram para o drama da velha Cerca conventual! Ainda mal porque parece que continuam estremunhados. Lidos os comentários na íntegra, nem um único aborda o âmago da questão. São bem variados, mas quanto à água dos Pegões, nada. Estranho. Muito estranho mesmo. Ninguém acredita na minha versão, apesar de ser a única plausível? Ninguém leu TAD3 ao longo destes últimos três anos?
A cobertura vegetal da Cerca conventual, tal como a conhecemos, incluindo o jardim entretanto implantado na antiga Horta do frades, resulta da abundante água dos Pegões, que lhe chegava via Aqueduto e depois Tanque da cadeira d'El-rei, Tanque grande, Tanque dos frades, escorrências do pomar do castelo e ribeira do 7 montes. Desviada ilegalmente a água nos Brasões, há mais de vinte anos, as camadas freáticas foram secando e a vegetação vai secando também a pouco e pouco, com destaque para o buxo, que plantado na parte mais baixa, beneficiava em simultâneo da água das escorrências, dos tanques e da ribeira. Sem a água dos Pegões, nem mesmo a rega apressada, com água da rede, antes dos tabuleiros conseguiu reverter a situação. O buxo está praticamente todo seco, não adiantando arrancar e replantar, sem antes garantir a reposição da água nos Pegões. Porque a mesma causa, vai forçosamente provocar o mesmo efeito. Ou o Lavoisier estava errado, querem ver?
A fechar persiste um enigma: Nem a Câmara, nem a Assembleia Municipal, nem a oposição que há, nem a DGPC, nem o PENSAC, nem a direcção do Convento, nem a Junta de freguesia de Carregueiros, nem os Amigos do aqueduto, ninguém tentou até agora eficazmente resolver o problema do roubo da água dos Pegões, que é um bem público. Todos sacodem a água do capote, cada um culpando os outros pela inacção. E a Cerca e o pomar do Castelo vão morrendo a olhos vistos, na indiferença quase geral. Tomar é realmente uma terra estranha. E os seus filhos são como está à vista de quem queira e saiba ver. Há excepções? Claro que há. Mas são infelizmente cada vez mais raras. Ou estarei a ver mal?



3 comentários:

  1. A água nos Brasões não foi desviada. A nascente secou. Eu sei porque tenho lá a horta ao pé do tanque. Eu uso água do poço.

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    1. Há mais três nascentes, cuja água vinha para a casa da água da Porta de Ferro (Boca do cano, Cu alagado e Vale da Pipa). Secaram todas? Desde quando? Aquele cidadão que em tempos cortou um troço do aqueduto, para poder passar com o trator, entretanto já reparou o estrago? Alguma autoridade o intimou a prestar contas? Com o aqueduto cortado entre nascentes, não me admira que o tanque que refere esteja seco.
      O problema do desvio da água para o Convento é bem antigo. No século passado, quando ainda estava o seminário no Convento e tinham um empregado, o Batista, para vigiar todo o aqueduto, apareceu numa reunião do executivo camarário um cidadão da zona dos Brasões, a queixar-se que andavam a roubar a água do Pegões. Um dos eleitos perguntou-lhe como é que sabia disso, ao que o queixoso respondeu com toda a franqueza: -É que antes roubava eu, mas agora já não chega onde tenho a horta.

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    2. Eu quero esclarecer o Professor e os leitores doeguinte: nós não roubávamos a água. A água estava sempre a correr do tanque, 24 horas, durante todo o ano, para o ribeiro. É um tanque estilo romano, de dimensões consideráveis, mas não tão grande como os da mata. Nós aproveitávamos parte dessa água para regar, por um sistema de canalizações e manifolds que já deve de ter centenas de anos. A água depois ía irrigar os lotes e escorria de volta para o ribeiro. Tudo por gravidade, obviamente. Mas a fonte secou!!! Eu nem sei onde era a nascente, nunca investiguei isso, mas era capaz de ser lá. Á muito bruto á solta por aquelas paragens que diz muitos disparates, não ligue a o que esses rudes dizem....

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