quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 

Imagem Rádio Hertz online, com os nossos agradecimentos.

Política local

A Câmara está a precisar 

de uma boa limpeza

TOMAR – António Lourenço dos Santos (PSD) questiona ‘utilidade’ dos eleitos da Assembleia: «O que estamos aqui a fazer? Só para assinar folhas de presença e receber umas dezenas de euros nas nossas contas?» | Rádio Hertz (radiohertz.pt)

O título esteve para ser diferente: Durante o naufrágio a festança continua. Depois de amanhã vamos ter mais festa rija. Com homenagens, condecorações, discursos, muitos aplausos, música, paparoca e bebida. Com um progresso e um retrocesso. Progresso, porque a música já não vai ser à borla. Entradas  a 7 e 10 euros, o que se aplaude. Já ia sendo tempo. Retrocesso, porque não lembra ao cabeça rachada, mas lembrou ao actual presidente: vão ser condecorados todos os presidentes de câmara vivos, desde o 25 de Abril. Alguns, se soubessem o que é ter vergonha na cara, nem lá apareciam, ou já teriam recusado. É o poder local a homenagear-se a si mesmo. Um despautério.
Enquanto isto, tal como no afundamento do Titanic, em que a orquestra continuou a tocar durante o desastre, também em Tomar a desgraça se agravou durante as festanças. Dois respeitáveis cidadãos, não dependentes do estado a que isto chegou, protestaram contra a inépcia camarária, e foi grande a repercussão. Um dos queixosos, arquitecto em regime liberal, insurgiu-se contra o indeferimento de um projecto de sua autoria, com fundamento em documentação que não está em vigor, o que considera um inaceitável atentado de tipo mafioso à sua competência profissional.
O outro, empresário,  deputado municipal eleito na lista do PSD, clamou em plena Assembleia Municipal (ver link) que requereu documentos há dois anos, através da mesa da quele órgão, os quais ainda não lhe foram fornecidos. Pergunta por conseguinte o que está a fazer de facto no parlamento municipal. Realmente, a dúvida é legítima.
À primeira vista sem ligação, ambos os casos têm afinal uma origem comum a camarilha mafiosa que dirige de facto a autarquia na área da gestão do território, e cujos integrantes se recusam obstinadamente a comportar-se como honestos servidores públicos. Procuram, pelo contrário servir-se, havendo provas disso mesmo.
No caso do arquitecto, apesar de já terem reconhecido que houve um erro dos serviços, e até indicado a culpada, tardam em anular  o despacho anterior e aprovar o projecto. Pretendem retaliar, punindo o queixoso por ter ido para alguma informação local que está banida, em vez de lubrificar adequadamente os decisores. Há hábitos difíceis de abandonar...
Na mesma linha, recusam fornecer os documentos solicitados pela mesa da AM, usando argumentos falaciosos, porque entendem que os deputados municipais, mesmo do PSD, não têm nada que andar a tentar meter o nariz onde não são chamados. Tudo isto contando com a anuência tácita da maioria PS, que apenas almeja manter-se no poder, e da oposição, incluindo a extrema-esquerda, mantida em obediente silêncio pelos subsídios.
De forma que, para os membros da camarilha, foram três vitórias importantes. Contra o arquitecto, contra os deputados municipais PSD, e beneficiando da festança do 1º de Março. Lamentando ter de desiludir, parece-me que terão sido triunfos pírricos. Mais uns quantos, e estarão derrotados sem remédio.
As próximas legislativas poderão dar já alguma indicação útil. Veremos. Mas são as autárquicas de 2025, que vão modelar o futuro. Não estou a ver, a esta distância, grandes hipóteses para os socialistas, nem mesmo, em certa medida, para os social-democratas, tantas são as queixas. Vai depender de inúmeros factores. Entretanto o partido do Ventura já encontrou o slogan adequado: "Vamos limpar Portugal".
Em Tomar, vem mesmo a calhar. A Câmara está a precisar de uma boa limpeza. Com decapante e tira-nódoas. Quatrocentos servidores públicos trabalhadores, podem muito bem executar capazmente as tarefas dos actuais 618 funcionários camarários. Uma vez sufocada a camarilha, tudo se torna muito mais fácil e agradável para todos.


2 comentários:

  1. Já agora estou intigado com que tipo de documentos é que os eleitos que compõem a mesa têm obrigação de produzir???!!! Seria um trabalho para o secretário da mesa, penso ainda ser o eterno e afável João Vital. Não estou a ver o presidente, ou os vices a terem de passar os textos a computador, geralmente!!!

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    1. Boa tarde Helder. Desta vez você está a ver mal a questão exposta. O que se passa é o seguinte: Nos termos regimentais, os deputados municipais quando pretendem obter cópia de qualquer documento camarário, necessário para as suas tarefas, devem requerer o dito por intermédio da mesa da AM, ao contrário do que pode fazer qualquer cidadão que, ao abrigo da lei do direito à informação, pode solicitar os documentos que pretenda consultar directamente à Câmara. O que aconteceu no caso relatado pelo deputado municipal laranja é que requereram documentos administrativos através da mesa da assembleia e passados dois anos ainda não receberam alguns, o que é uma vergonha, convenhamos. Culpa da mesa da AM? Da maioria PS? Da tal camarilha? Inclino-me para esta última, tal como está na crónica, porque desde há anos que sei muito bem o que a casa gasta. Em última instância mandam informar que infelizmente não foi possível localizar o processo solicitado, como já aconteceu comigo.

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