domingo, 18 de fevereiro de 2024



Imagem Rádio Hertz, com os nossos agradecimentos.

Habitação social

A moda das tranças pretas 

e dos apartamentos a custos controlados

É música antiga, do século passado. Um fado nobre, do titular Vicente da Câmara, no qual canta a tendência das meninas da alta sociedade lisboeta de então para imitarem a pobre mas bela vendedora de violetas, a menina das tranças pretas. Era a moda.
Décadas mais tarde, sucedem-se as modas, e o hábito imitador mantém-se. Maiorias autárquicas eleitas sem programas nem ideias, não têm outro remédio senão adoptar o que se vai fazendo nas homólogas liderantes. Seguem a moda. Temos assim em Tomar ciclovias sem bicicletas, "encosto" de caravanas sem parque de campismo, ou skatódromo quando  faltam ambulâncias, instalações sanitárias e lugares de. estacionamento. Há mais exemplos.
Fiados na sua boa estrela, Cristóvão e seguidores resolveram agora seguir a moda da "habitação a custos controlados". Excelente, pensam eles, para criar mais dependentes do Estado. Esqueceram porém dois detalhes essenciais. De forma algo surpreendente, a acreditar nas sondagens, nem todos os dependentes do Estado tencionam votar PS, nem coisa que se pareça. É um dado novo, que a confirmar-se nas urnas, pode vir a  pôr em causa toda a política do governo e das autarquias que controla.
Mais grave ainda, no caso de Tomar, onde o presidente Cristóvão não se cansa de falar na construção de perto de cem alojamentos a custos controlados, impõe-se a pergunta: Faz sentido construir habitação subsidiada, numa terra cuja população está a diminuir há mais de vinte anos? Estão convencidos que os novos alojamentos vão atrair cidadãos pagadores de impostos?
Casas novas de renda moderada para quem, se a população residente é cada vez menos, o que logicamente deixa alojamentos devolutos? Só podem ser portanto para desprotegidos, migrantes, imigrantes ou oportunistas. Vizinhos problemáticos. que regra geral ninguém quer, o que leva a mudar-se logo que possível. Com um pouco de azar, em vez de atraírem população, os novos alojamentos podem pelo contrário vir a contribuir para acentuar o êxodo. Como já está a acontecer com o caso Flecheiro.
Acresce um detalhe importante, que pode  mexer no meu bolso. Tenho na cidade alguns alojamentos modestos, em casas recuperadas no centro histórico, arrendados a preços de mercado, pois não herdei nada, nem sou nenhuma instituição de solidariedade social, financiada pelo Estado com os meus impostos. Uma vez concluídos os tais "alojamentos a custos controlados", as rendas serão logicamente muito mais acessíveis, o que pode levar alguns dos meus rendeiros a mudar-se para muito mais barato e mais moderno.
Pergunto: A ser assim, que mal fiz eu a Deus para o PS local me prejudicar duplamente, mandando edificar com os meus impostos alojamentos mais baratos para os meus rendeiros? O voto deles é mais importante que o meu? A autarquia e o governo vivem dos meus impostos, ou dos dependentes do RSI?
Em tempo de campanha eleitoral, será melhor pensar mais um bocadinho, pois quem anda à chuva molha-se, pelo que é conveniente vestir a gabardine antes de sair de casa. Refletir atempadamente nunca fez mal a ninguém.

ADENDA

Após ter lido a crónica supra, António Alexandre, provedor da Santa Casa, publicou no Facebook este comentário, que aqui se reproduz, com a devida vénia ao autor e ao Face:

António Alexandre
Mais uma vez o meu caro fala do que interessa a Tomar e com clareza mostra, que o caminho está errado, foi errado e querem continuar no sentido errado das coisas.
Propaganda errada, investimento errado.
Espero que nas próximas eleições, os eleitores comecem a dar sinais claros de que o voto é a arma do povo e que deve ser usado com eficácia.
Tomar merece mais e tem pouco.

4 comentários:

  1. O Professor fala arrendar a preços de mercado mas não disse que não pode fazer o que quer, o professor não pode aumentar as rendas como quer, o mercado é regulado. O mais extraordinário é que essas habitações a serem construídas são financiadas pela UE.

    Os seus se são no centro histórico são provavelmente feitos de adobo, são bons termicamente, ao passo que o meu é de alvenaria simples, é horrível em termos térmicos, já com 60 anos, e se eu alugar vou ter uma renda muito baixa. Só para pintar (está de momento em execução) vou ultrapassar os 5 mil euros, um T2 pequeno!!! Como disse se eu algum dia tiver de alugar vai ser uma renda baixa, não sei se conseguiria 450 euros no momento, ficava com 326 euros depois dos 28% de imposto, e ainda teria de pagar a um agente imobiliário ou a alguém para me olhar por aquilo. Ficaria com menos de 300 euros por mês.

    E depois teria de tirar as minhas colecções de livros, de dvds, relógios, etc... se eu lá deixasse desapareciam. E se eu lá metesse alguém depois para tirar de lá para fora era o cabo dos trabalhos, íam-me dizer que tod a gente tem direito a um tecto, que eu não moro lá, etc...

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  2. Professor o mal não é Tomar mas sim o país no geral. Tomar não é um microcosmos, está aberto ao exterior. Para o professor ver como o governo gasta mal o dinheiro, estive a ver agora no programa contas poupança da sicnoticias.pt que o governo está a dar um cheque de 750 euros a quem fizer cursos na área digital. Não interessa o curso, não interessa a idade, não interessa as qualificações que o formando tenha, pode ir da quarta classe ao doutoramento, o único requesito é estar empregado, tem de ser um trabalhador, não importa a área, se estiver desempregado já não recebe nada. Isto é uma maneira tão estúpida de investir e de gastar dinheiro....

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    1. Parece-me evidente que uma coisa não pode ser desligada da outra, somos um mesmo país, com as suas qualidades e os seus defeitos. Noto contudo que cidades vizinhas, como Leiria ou Ourém, que outrora eram terras pequenas como Tomar, sobretudo Ourém, agora já nos ultrapassaram e de que maneira. Tomar tem 34 mil eleitores, Leiria 140 mil e Ourém 50 mil. Porque será que se vão desenvolvendo e Tomar não? É do clima húmido?

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    2. Tomar é que é bom, Professor. É a cidade onde o património se renova. Os velhos de Ourém até vêm fazer os cursos na universidade sénior em Tomar. De ourém e de outros lados. Somos poucos mas bons.

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