terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Captura de ecrã Youtube

Economia local e Tabuleiros 

Aproveitando a ocasião

Oportunista, pensarão alguns ao ler o título. Pois. Continuem por aí. Ataquem o mensageiro, em vez de aceitarem a mensagem. Hão-de ir longe, por esse caminho. Alguns já valeram milhares de votos. Estão agora reduzidos a umas centenas. Mas ainda não aprenderam. Pode ser que com o tempo... Se ainda houver tempo.
Segundo recado: Em todas as festas importantes, cada grupo de amigos combina qual deles se manterá sóbrio, para conduzir o veículo no regresso a casa. Procuro sempre ser esse amigo sóbrio, na envolvência da permanente festa tomarense, que leva muitos conterrâneos a viver em  euforia, como se sabe uma forma benigna de bebedeira, muito comum em casos de protagonismo balofo.
Estamos em Tomar num desses momentos de grande alegria eufórica. Imagine-se! A Escola de Samba Unidos da Tijuca (um bairro do Rio de Janeiro), desfilou no Sambódromo da Marquês de Sapucaí com uma evocação de Portugal, que incluiu uma alegoria à nossa Festa dos tabuleiros. Foi o delírio em muitos lares tomarenses. Calma pessoal. Não há para tanto.
Foi patrocinado e pago pelo Turismo de Portugal, mas conforme se vê na imagem supra, os tabuleiros são pequenos (metade da altura da portadora), sem pão, sem flores coloridas, sem par masculino. E as portadoras não desfilam. Dançam. Apenas uma alegoria, sem mais. Havia muitas outras, num desfile em que cada escola apresenta milhares de figurantes, geralmente mais de cinco mil cada uma. O que são cem réplicas imperfeitas de tabuleiros, naquele enquadramento? Só quem já lá esteve e assistiu tem uma ideia mais precisa.
No meio de tudo aquilo, as dezenas de milhares de espectadores do Sambódromo, que pagaram centenas de reais cada um, para poderem assistir em directo, sentados nas bancadas, acabaram por achar a alegoria aos tabuleiros muito bonita, sem sequer saberem do que se trata. E ninguém lhes explicou. Veio logo a seguir a caravela com nossa senhora de Fátima, e passou-se a outra escola, que aquilo é uma competição, com júri e prémios pecuniários.
Foi magnífico, é verdade, e com uma enorme vantagem para os portugueses: a Cãmara de Tomar não desembolsou quase milhão e meio de euros para aquela grandiosa festa carnavalesca. E a Câmara do Rio de Janeiro também não. Mas não há almoços grátis.Tudo aquilo é financiado por patrocinadores ocasionais, desta vez e para a Tijuca o Turismo de Portugal, e pelo Jogo do bicho, uma espécie de lotaria clandestina de grande sucesso no Brasil. Com o objectivo de encantar o público, mas também de ganhar dinheiro. A enorme receita das entradas no sambódromo e dos direitos TV é depois repartida equitativamente pelas diferentes escolas.
Perante tudo isto, caros conterrâneos, chamem-me os nomes que quiserem, mas respeitem os meus pais, que já cá não estão para se defenderem, nem têm culpa por ter gerado um filho tão burro, que após tantos anos e tantos percalços, ainda insiste em escrever para os tomarenses tradicionais. Após os insultos, quando e se ainda tiverem vagar e capacidade, façam o favor de pensar um bocadinho no figurino da Festa grande, cuja próxima edição está prevista para 2027. Quais são os grandes objectivos a alcançar? Matar a fome ao povo, como antigamente, felizmente já não estamos aí. Legitimar o poder local? Já não é preciso, pois estão legitimados pelo voto livre. Promover Tomar? Como? Com que público alvo e para quê? Ocupar os tempos livres de alguma população? Com que custo? Como tornar rentável, condição para a sua sobrevivência, uma manifestação popular que nunca o foi?
Se não forem os tomarenses a debater os problemas da cidade e do concelho, sempre procurando encontrar e adoptar as melhores soluções para a comunidade nabantina, ninguém o vai fazer por nós. E vamos continuar iludidos pela compra de votos, enquanto as verbas de Bruxelas o permitirem, que tudo tem um limite.
Concluindo, foi bonito pá, os tabuleiros no Sambódromo? Foi. Mas não promoveu nada. Os  brasileiros em geral não sabem onde aquilo acontece, ou onde fica Tomar. Salvo raras excepções, nunca ouviram falar sequer. Quando me perguntam de onde sou, se digo que de Tomar, ficam com um ar perdido. Tenho de acrescentar "uma pequena cidade a 35 quilómetros de Fátima", para então ouvir "Ah, já estou a ver. Já estive em Fátima, mas a essa cidade nunca fui." É neste mundo que vivemos, caros conterrâneos. Não no das vossas fantasias bem intencionadas.

6 comentários:

  1. Muito pertinente o post que acabou de publicar.
    Tomar poderia ser em cooperação com Ourém, Fátima,Torres Novas,Ferreira do Zêzere uma arena , onde na unidade e diversidade alavancasse o que de melhor teriam para oferecer aos turistas que nos visitam.
    Deixem-se de bairrismos em excesso e tenhamos em vista de que sem dimensão não poderão ter economias de escala.

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  2. Eles vão começar a saber onde é Tomar, o professor tem ideia do impacto que teve em Portugal a lei de autorização de residência para cidadãos da CPLP de 2022???!!! Em Tomar não são tantos porque não há indústria mas no litoral e norte tem havido uma invasão. Atenção que eu sou a favor, eu também luto pela vida fora, mas eu estou admirado como é que isto ainda não foi tema de campanha. O Chega fala da islamização mas não fala da emigração CPLP.

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    1. Que sejam benvindos os que vierem para trabalhar, para pagar impostos e para conviver. Para arranjar problemas e viver da caridade pública, já cá temos em excesso.

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    2. Acabou por ser tema agora no debate na RTP entre Chega e BE, parece que estava a adivinhar. Mas quem é que consegue viver em Portugal com as ajudas do estado???!!! O Ventura disse que quer revogar essa lei, que é nociva porque abre a porta a pessoas que vêm sem contrato de trabalho nem meios de subsistência, a Mariana Mortágua diz que o BE aprova a lei porque se as pessoas vão para Portugal é porque há trabalho e assim não são exploradas pelas máfias porque estão legais.

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  3. Parece que estou a ouvir o saudoso Nini Ferreira, depois de ler a crónica anterior: -Deixem-se de fantochadas, mesmo promocionais. Os tabuleiros são património multi-secular de todos os tomarenses. Merecem respeito.

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  4. Mandei-lhe email que acho que vai achar interessante

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