quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Imagem Tomar na rede (editada), com os agradecimentos de TAD3.
 

Política local - Contas dos tabuleiros

Pressionar e tentar politizar? 

Ou alguém que desconhece o estatuto do cargo?

https://radiohertz.pt/tomar-festa-dos-tabuleiros-contas-serao-apresentadas-no-dia-19-de-fevereiro-hugo-cristovao-lamenta-pressao-sistematica-em-torno-dessa-divulgacao-ha-tentativa-de-politiza/

A situação foi tão intempestiva que o melhor é começar por ler o link supra, para se ter a certeza da enormidade. Falando como presidente da Câmara em exercício, Cristóvão lastimou "pressão sistemática" e "tentativa de politizar a festa", após anunciar finalmente a apresentação das contas da edição 2023 dos tabuleiros, para 19 de Fevereiro próximo. Sete meses após o evento, na era dos computadores!
Enquanto cidadão, Hugo Cristóvão pode dizer o que lhe aprouver, posto que vivemos num regime aberto, com liberdade de expressão. Já como presidente da Câmara, o caso muda de figura. As suas infelizes considerações fazem pensar que estamos numa república africana, com o ditador a desabafar, para depois mandar prender os adversários pela calada. Não é o caso, bem entendido, mas como dizem os franceses "petit à petit l'oiseau fait son nid". A pouco e pouco, para lá caminhamos. 
No final dos anos 20 do século passado, quando o Salazar disse, num discurso radiofónico, "Sei muito bem o que quero e para onde vou", poucos terão percebido o alcance da afirmação. Só depois da constituição de 1933 é que muitos se deram conta, mas já era demasiado tarde. A polícia política não era para brincadeiras.
Como é evidente, não houve nem há qualquer pressão sistemática para apresentar as contas. Apenas o normal exercício da liberdade de expressão, usando as contas da festa como pretexto para demonstrar a sua falta de organização adequada. Na política pura e dura é assim, como o senhor eleito devia saber, pois é a sua vida desde há dez anos. Discorda-se publicamente, porque não somos inimigos, mas apenas adversários circunstanciais.
Sobre a tentativa de politização da festa, é melhor nem falar, pois é terreno minado.. Não se pode politizar o que sempre foi político, e os tabuleiros são exactamente isso -uma manifestação política, com objectivos políticos. Ou já nos esquecemos que política é afinal o conjunto de assuntos da polis = cidade? Politizar os tabuleiros, senhor presidente, seria uma nova modalidade de chover no molhado, de nula eficácia.
Tanto a alegada "pressão sistemática", como a pretensa "tentativa de politização", são apenas dois sintomas de uma maleita que dá pelo nome de alergia à crítica, pouco compatível com o exercício de funções de responsabilidade no poder democrático.
Abreviando, que a crónica já vai longa, e destina-se a um universo que gosta pouco de ler, o que se tem procurado fazer, desde há mais de vinte anos, é denunciar o modelo ultrapassado de organização dos tabuleiros, que  em vez de darem lucro, custam cada vez mais fundos públicos. Há muitos interesses ocultos e o povo parece gostar assim, mas um milhão e trezentos mil euros gastos pela Câmara com a edição de 2023 é claramente um exagero. Mesmo para comprar votos com dinheiro dos contribuintes.
Para se ter uma ideia mais palpável do rombo orçamental, basta dizer que a dita comparticipação camarária daria para comprar dez ambulâncias novas, e ainda sobraria dinheiro para contratar mais bombeiros e subsidiar médicos de família, no sentido de se fixarem em Tomar. Ou para ir gratificando a PSP local, de forma a termos adequado patrulhamento diurno e policiamento nocturno.
Porque em caso de doença súbita, qualquer cidadão, de esquerda, de centro ou de direita, precisa é de uma ambulância no quarto de hora seguinte. Não de um tabuleiro muito bonito, ou de uma rua bem ornamentada. Aqui vai um exemplo recente, para se poder ver que em Tomar se vive mal, estamos mal servidos e mal equipados.
Há umas semanas, estava eu sentado à beira-mar, ali junto às ruinas da Ponte dos ingleses, no limite da Praia de Iracema, quando ao levantar-me senti uma tontura, que me impediu de caminhar normalmente. É uma maleita antiga e recorrente, relacionada com a bilis. Depois de conseguir vomitar passa, mas nunca fiando.
Imediatamente a companheira contactou a Polícia Militar, e cinco minutos depois chegaram dois motociclistas da patrulha rápida. Informaram-se e chamaram uma viatura com 3 militares, que chegou nos dez minutos seguintes. Ouviram o que se pretendia, perguntaram se não seria melhor uma ambulância, acabando por me trazer até à porta de casa, assegurando-se de que não era preciso mais nada, e desejando as melhoras. Tudo sem papéis. Apenas os nomes e a morada. Numa cidade de um país do terceiro mundo, com milhares a dormirem ao relento, mas com vista para o mar...
Se um dia destes, estando aí em Tomar, sentado algures na margem do Nabão, a admirar a poluição, sofrer o mesmo percalço ou algo semelhante, chamando a PSP, a GNR ou os bombeiros, eles também aparecem cinco minutos depois? É que, em caso de síncope cardíaca, por exemplo, a diferença entre 10 e 30 minutos, pode ser a diferença entre a vida e a morte. E como em Tomar nunca há ambulâncias suficientes, e as outras corporações de bombeiros ficam a pelo menos vinte quilómetros, só podem chegar meia hora mais tarde. É demasiado.
Os tabuleiros são sem dúvida um património a preservar, e a festa é muito linda, mas há maneira de manter a tradição, ganhando dinheiro em vez de gastar milhões, que fazem tanta falta noutros sectores.
Desculpem-me o português vernáculo. Parece ser mais um daqueles casos em que os artistas não sabem fazer a coisa, pelo que até os tomates os incomodam. E o pior é que não querem aprender., detestando quem lhes pretenda ensinar.



8 comentários:

  1. As contas têm demorado sempre um ano a serem apresentadas, e tem havido pressão, nisso eu concordo com o presidente. Só que nada justifica esse atraso e por ser tradição não quer dizer que esteja correcto e o dever dele enquanto autarca é melhorar e corrigir o que está mal feito. Se calhar o que está a motivar este interesse é o facto da contribuição da câmara ter ido de 270 mil euros para um milhão e trezentos mil!!! Será da inflação, como justificou a vereadora FF???!!! É uma inflação de mais de 400%, mas até podia ter sido mais porque não houve controle de custos.

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    1. De acordo com o artigo 37º da Constituição, que a todos obriga por igual, "todos têm o direito de informar, de se informar e de ser informados". Por conseguinte, solicitar ou reclamar as contas da festa, ou qualquer outra coisa, não é fazer pressão, mas apenas exercer um direito constitucional.

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    2. Agora espera-se que os partidos da oposição da assembleia municipal, onde como sabemos o PS não tem maioria absoluta, exerçam o seu trabalho de fiscalização e oposição e passem as contas a pente fino e façam uma recomendação ao executivo para que não seja a câmara a adaptar-se á comissão de festas, que não pode ter um cheque em branco para gastar o que quiser que depois a câmara paga, mas sim gastar de acordo com um orçamento. Também a assembleia municipal deve de combater a ideia de que a festa dá lucro, que é mentira como sabemos, tem de se acabar com essa falácia. O executivo irá dizer que se trata de um ataque á festa e a Tomar mas a oposição tem de lembrar o povo aquilo que o professor escreveu, o dinheiro não chega para tudo e é uma irresponsabilidade gastá-lo assim. Tenho muita curiosidade, porque gosto muito de números, em saber quanto foram os patrocínios, de que muito se falou. Em 2019 foram 81000 euros, em 2015 foram de 53500. Quanto será em 2023???!!! Há contratos de patrocínio? Faturas tem de haver de certeza? O Professor não está sozinho na sua curiosidade....

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    3. Sempre que precisa, o PS consegue maioria na AM, recorrendo às três "muletas" do costume: BE, CDU e presidente de Carregueiros. Mediante contrapartidas, bem entendido. Na política ninguém dá nada a ninguém, nem há almoços grátis. Por isso, o mau da fita sou eu, por causa da alegada má-língua, ao escrever estas coisas inconvenientes. É tudo gente séria, acima de qualquer suspeita. Estão na Câmara e na AM para defender os interesses do concelho, desde que coincidem com os deles. É o que se consegue arranjar numa terra pequena, em que os melhores já bateram asa há muito tempo.

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  2. O Sr. presidente só deve estar a gosar, quando diz que as pressões para que as contas sejam apresentadas, se devem a tentativas de politisação das festas, eu a ultima festa dos tabuleiros que participei foi em 1969, na seguinte já estava na tropa, naquela altura era outra festa, mas isso nós sabemos, os da nossa idade, no ultimo ano gostava de participar pela ultima vêz na festa grande, e fui aceite no bodo, quando o sr. presidente quiser, eu até fiquei parvo com o que vi posso mostrar-lhe onde está a politiquice da festa, desde a escolha do mordomo até aos outros que são sempre os mesmos, ao esbajamento de materias á falta de um armazem onde se guardem as coisa não pereciveis para a festa seguinte, como estou reformado ofereci-me a tempo inteiro para ir aqui ou ali, negativo, sempre os mesmos, depois da festa lá vieram convites para filiação no partido, mas nem todos, afinal sr. presidente onde é que ficamos, venham lá as contas desta vêz pago eu uma rodada.

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  3. Já agora como adenda lembrei-me desta, neste momento em Tomar não há ninguêm que conheça melhor a festa que João Victal, por essa razão foi contatado por vários orgãos de informação, depois de estarem fartos de balelas, porque eles tambêm não são parvos, quando aqui veêm já fiseram trabalho de casa, depois encontram pra ai uns ou umas festarolas e sabem que é tudo palha, então resolverem a questâo e fiseram várias entrevistas com o João, claro que a gamela não gostou, mas era tarde a coisa estava quente, e o João era importante para a festa, assim que a dita acabou mudarem as fechaduras da sede na casa V. Guimarães sem dar noticia a ele, embora todos os outros ou pelo menos alguns tenham sido avisados, bom desta vês deve ser o sr. presidente a pagar a rodada

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  4. O Professor viu a reportagem do jornal nacional da TVI sobre as câmaras andarem a oferecer bilhetes para as touradas e ter sido criada uma plataforma chamada "Basta de Touradas"? Estamos a falar de valores mixurucas quando comparados com Tomar!!!

    As autarquias involvidas defendem-se dizendo que estão a promover a cultura e a tradição.

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    1. Meu caro Helder
      Aqui em Fortaleza só vejo a CNN, a Recordnews, a EURONEWS, e de tempos a tempos a FRANCE24 no computador. De Portugal só aqui chega a SIC, mas é preciso pagar e eu nem à borla!
      Por falar em borla, as poucas touradas tomarenses ali para os lados da Praça da República, mesmo à borla até o Gualdim Pais lhes vira as costas, com o escudo a proteger, porque nunca se sabe!

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