Sala de aula do Centro escolar da Linhaceira. Na mesa do professor, ao fundo à esquerda, a copiadora-impressora. No tecto, o difusor de ar condicionado.
Autarquia, educação e ensino
Vítima do próprio veneno
Um escândalo. E dos grandes. À escala local, já se vê. A notícia do link supra provocou uma pequena tempestade, lá para as bandas da Linhaceira e arredores, a julgar pelos comentários pouco amenos no Facebook. Um caso típico de intoxicação com o próprio veneno.
Quem escreve estas linhas, e milhares de outros antes e depois, frequentaram o ensino público no verão e no inverno, sem aquecimento central nem ar condicionado, salvo talvez nas serranias do norte e nos contrafortes da Serra da Estrela, e não houve mortos nem feridos provocados pelo clima. Mais tarde, já formados, alguns voltaram às mesmas salas como professores, e por ali andaram durante mais de trinta anos, sem climatização. Nem sequer umas ventoinhas nos meses mais quentes.
Apareceu bem mais tarde o socialismo "à la Sócrates", durante o qual houve modernização dos edifícios escolares, designadamente com a instalação de ar condicionado. Melhoramento tão necessário que ainda hoje a escola secundária Jácome Ratton, em Tomar, por exemplo, não liga o ar condicionado, por falta de verba suficiente para pagar o acréscimo de consumo de energia eléctrica.
Os melhoramentos do tempo do Sócrates foram o rastilho, logo aproveitado pelas empresas construtoras, para a inclusão nos projectos de novas escolas de ar condicionado e aquecimento central. Foi o que aconteceu no Centro Escolar da Linhaceira, cuja edificação tardou a ser acabada. Mas tem ar condicionado, que não funciona com deve ser, segundo alguns encarregados de educação. Coitadinhas das crianças, com pais assim! De tanto quererem proteger, acabam por contribuir para formar cidadãos inadaptados, porque irrealistas.
Sem adequada formação económica, os papás e as mamãs ouvem falar da festa dos tabuleiros, que custou milhão e meio de euros, animação cultural da feira de Santa Iria, coisa para cem mil euros, e milhões de euros anuais de subsídios para as colectividades, algumas só para manterem a porta aberta, e põem-se a pensar que há dinheiro para tudo.
Os mais evoluídos pensarão até que estamos novamente no reinado de D. Manuel I, com o comércio dos escravos, as especiarias e a embaixada ao papa, integrando elefantes e um rinoceronte, quando em algumas mansões nobres havia infiltrações por falta de reparação dos telhados. Só que agora em sentido inverso, com os emigrantes qualificados aos milhares em demanda de melhores condições de vida por essa Europa fora, mas felizmente as embaixadas de milhares de milhões de euros, de Bruxelas para Lisboa. Um país de pelintras e pedintes exigentes, porém pouco produtivos.
Compreende-se portanto o desabafo daquela mãe chorosa, lastimando a transpiração da sua criancinha, vítima do ar condicionado desligado, por maldade do presidente Cristóvão, está-se mesmo a ver. Não direi que é muito bem feito, porque não sou vingativo. Mas tão pouco posso deixar de constatar que o presidente substituto está a ser vítima do veneno semeado pelo próprio partido. A megalomania e a falta de discernimento atempado, têm destas coisas. Há ar condicionado instalado. Falta verba para pagar a energia eléctrica que consome. E também falta pessoal de acção educativa. Quem semeia ventos, colhe tempestades.
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