quinta-feira, 19 de outubro de 2023


 
Informação

Os equívocos 

do senhor presidente da Câmara


Desde que o PS local ascendeu inesperadamente ao poder, em 2013, que se começou a notar alguma alergia à crítica dos novos autarcas, e por isso uma evidente embirração, para não dizer mais, em relação à informação livre. O presidente Cristóvão acaba de revelar-se como a origem, ou uma das origens,  dessa manifesta aversão. Num curto texto de leitura agradável, porque bem escrito, o que se saúda por ser relativamente raro, publicado no Cidade de Tomar - Suplemento, de 19 do corrente, página 10,  tenta enganar os leitores, apresentando a informação subsidiada pela autarquia como jornalismo livre.
A coisa começa logo no título pomposo "O verdadeiro jornalismo é hoje, cada vez mais, um dos pilares da democracia", quando realmente não há jornalismo verdadeiro ou falso.  Apenas informação livre ou condicionada. É certo que Cristóvão é jovem, nunca viveu ou publicou em tempos de censura à imprensa, o que pode explicar em parte a sua posição de arauto de uma falsidade evidente, ao retirar-lhe alguma perspectiva baseada na prática quotidiana.
Nada justifica, porém, o evidente ataque à informação livre e genuína, contido neste excerto, que devia envergonhar quem o escreveu: "...e de serem um farol em águas cada dia mais agitadas, das inúmeras fontes de informação, quantas delas inquinadas logo à nascença." O presidente de substituto sabe muito bem, porque é politicamente hábil, que está deliberadamente a enganar os cidadãos, ao apresentar como "um farol em águas agitadas" órgãos de informação que praticam o jornalismo à vontade do poder, publicando unicamente o que convém à maioria que governa. E nem podia ser de outra maneira. Quem paga exige obediência, sob pena de cessar os pagamentos.
É do domínio público que os dois semanários tomarenses, e as duas rádios locais, só sobrevivem graças às sucessivas ajudas governamentais e camarárias, uma destas últimas de legalidade muito duvidosa, e que num país decente já teria provocado sérios embaraços a quem ocupava o cadeirão dos Paços do concelho. Fingir que essa dependência não implica perda da liberdade de informação, a favor da versão oficial dos acontecimento, é um caso típico em que se procura "tapar a nudez forte da verdade, com o manto diáfano da fantasia".
Como se tal fora pouco, apresentando como livre aquilo que na realidade o não é, o novel presidente exagera. Involuntariamente, fugiu-lhe o pensamento para a verdade. Ao mencionar as fontes de informação "inquinadas logo à nascença", não se terá dado conta (ou deu, e então é ainda mais grave), que estava a referir exactamente os órgãos de informação na prática capados, malgré eux, pelos subsídios que recebem. Para não os prejudicar deliberadamente, pois também têm os seus direitos, quem escreve estas linhas abstém-se de mencionar casos concretos, que são conhecidos.
Denotando outrossim alguma tendência para o autoritarismo, mascarado de paternalismo, Cristóvão escreve que "é também cada vez mais difícil ao cidadão comum fazer uma triagem do que é e do que não é fidedigno". Está outra vez equivocado, sr. presidente. A ampla diversificação dos suportes de informação, tornou pelo contrário extremamente fácil separar o trigo do joio,  e fazer a tal triagem. Basta ir comparando e coando. Em Tomar, quem nesta altura duvida que a informação veiculada por Tomar a  dianteira 3, Tomar na rede, Ana Paula Pereira, Carlos Coito, Casimiro Serra, Alfredo José e tantos outros, é mais livre e completa que a dos dois semanários e duas rádios tradicionais? Nem podia ser doutra maneira. É o confronto entre a informação açaimada pelo poder local e a informação livre, escrita por cidadãos livres, não castrados pelos fins de mês.
Em conclusão, o sr. presidente tem todo o interesse em não confundir os seus pontos de vista, que são tão legítimos quanto os de qualquer outro cidadão, com a Verdade = realidade envolvente. É um conselho de quem já escrevia informação livre, dentro do então possível,  quando o jovem autarca Cristóvão ainda nem sequer tinha nascido. Citando um conhecido treinador de futebol, para mais cabal entendimento:  "São muitos anos a virar frangos!"


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