sábado, 14 de outubro de 2023

Política local

Três pontos reticentes...


Como é do conhecimento quase geral, (ou devia ser), três pontos seguidos em final de frase, são as chamadas reticências. Significam que há questionamento em relação ao conteúdo anterior e/ou ainda que algo ficou por escrever. Donde o título desta crónica.
Devagar, muito devagarinho, algo vai mudando em Tomar, para que tudo possa continuar na mesma. Agora até temos três vereadores, todos do PSD, que escrevem crónicas nos meios de informação local. São eles Lurdes Fernandes, Tiago Carrão e Luís Francisco, que aqui saúdo e aplaudo. O caminho faz-se andando e a democracia local pratica-se intervindo.
Na edição desta semana d'O Templário, na página 8, com o título Tomar 0, 1, 2, 3, o vereador Luis Francisco explicita os seus pontos de vista sobre a política autárquica local. Seguem-se três curtos apontamentos sobre esse escrito.
Começa-se, com pena, por assinalar que o troço frásico "Outros haverão", usado pelo autor a dado passo, não existe em português escorreito. Pelo menos naquele português a que se referia Pessoa, quando escreveu "A minha pátria é a língua portuguesa", que é o que me leva a escrever esta tentativa de correcção.
Há, na língua portuguesa, falada e escrita em Portugal, dois tipos de verbos: os pessoais e  os impessoais. Aqueles conjugam-se normalmente em todas as pessoas e tempos, simples ou compostos. Estes, os impessoais, apenas na terceira pessoa do singular. Exemplo: Choveu, chove, chovia.
Há também um verbo com as duas formas. O verbo haver pode conjugar-se normalmente (Eu hei, tu hás, ela/ele há, nós havemos, vós haveis, eles hão-de (ou hadem, na versão rural/popular), ou na forma impessoal: houve, havia, haveria, há, haverá, houvera, sempre no singular. Por conseguinte, "Outros haverá", e não o que escreveu Luís Francisco, certamente por mero lapso.
Segue-se, na mesma crónica, uma referência à necessidade imperiosa de haver uma estratégia para a cidade e o concelho, exactamente aquilo que vem faltando em Tomar. À boa maneira dos jesuítas, o PS local vai afirmando que estamos No rumo certo, mas esquece-se de dizer para onde. com o péssimo resultado que está à vista de todos.
Luís Francisco sustenta que essa estratégia não pode ser a do partido A, B ou C, mesmo se aprovada em eleições livres, devendo antes resultar de amplo debate no parlamento municipal. Hipótese tentadora para as formações partidárias que nunca tiveram nem têm qualquer estratégia, que procura contrariar a vontade popular livremente expressa.
Se um partido ou coligação se apresenta ao eleitorado com uma determinada estratégia (boa ou má, não é isso  que está agora em causa), e vence as eleições com ou sem maioria absoluta, a que propósito irá depois submeter a sua proposta à Assembleia municipal, se ela já foi implicitamente validada pelo voto popular? Só para fins recreativos?
Terceiro e último ponto reticente -o Ramal de Tomar. Luís Francisco aborda a sua expansão "para Norte-Nordeste, como chegou a ser projecto no passado." Há obviamente um lapso. O articulista refere-se certamente à ligação ferroviária Tomar-Nazaré, defendida nos anos 20 do século passado pelo Dr. Vieira Guimarães, mas isso seria para Oeste, ou Noroeste, consoante o traçado. Basta olhar para o mapa. Expansão "para Norte-Nordeste", só se for por via subterrânea, sob o sistema montanhoso Montejunto - Estrela. 
Quem anda à chuva molha-se. Mesmo entre duas linhas  ferroviárias, se não houver cobertura.


 

1 comentário:

  1. São "estratégias" destas dos PSD onde nos apercebemos da imbecilidade destas ideias

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