quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 


Turismo - Estruturas de acolhimento

A Rota Templária Europeia

Segundo a informação local, no próximo dia 16, haverá na Biblioteca Municipal uma série de palestras sobre os templários, para comemorar mais um aniversário da morte de Gualdim Pais, o mestre fundador do castelo "por nome Tomar". Tudo sob a liderança da comissão científica da Rota Templária Europeia. TREF no acrónimo inglês, porque hoje em dia tudo o que não tenha algo de inglês, não vale nada em termos académicos. Presunção e água benta...
Para maior precisão no que segue, convém esclarecer que a Rota templária europeia é um acordo intercidades, que por enquanto engloba apenas quatro urbes. Além de Tomar, uma em Espanha, outra em França, a terceira em Itália. Todas são maiores que Tomar. Bastante maiores. Temos de reconhecer que é pouco, para tanto alardo na informação local.
A ideia inicial da Rota Templária provém dos "itinerários culturais europeus", patrocinados pela UE, os quais por  sua vez beberam na milenar peregrinação a Santiago de Compostela. Trata-se portanto, e antes de mais, de prover ao desenvolvimento do turismo, sobretudo na sua vertente histórica e patrimonial.
Aproveitando a presidência rotativa da Rota, Tomar instituiu, na boa tradição burocrática lusa, uma "comissão científica", que não se vislumbra para que possa servir na prática, no quadro de uma associação visando o desenvolvimento do turismo. Parece-me óbvio que não está em causa a honestidade ou o gabarito académico dos ilustres membros da dita. Trata-se apenas de uma questão de congruência.
Não está a ver de que se possa tratar? Pois faça favor de reparar nos temas de algumas palestras previstas para o dia 16, e depois tente apurar qual a respectiva relação com uma rota templária europeia, virada sobretudo e naturalmente para o incremento turístico.
Estarão já a ensaiar, no sentido de transformarem a referida comissão científica num novo "albergue espanhol", onde cabe tudo, mas cada um só encontra o que para lá levou antes?
Antevejo que alguns integrantes da TREF me vão acusar de tudo e mais alguma coisa, usando a conhecida técnica do novo socialismo. Tentar desqualificar de antemão qualquer contraditor, para evitar discutir a questão  central. Mesmo assim, arrisco acrescentar o meu ponto, pois foi para isso que iniciei este texto.
Se os respeitáveis eleitos e outros membros da TREF quiserem ter a amabilidade de estudar o quadro de vida nas outras três cidades que integram o acordo, nomeadamente indo verificar in loco, hão-de constatar que todas já resolveram os problemas turísticos básicos que em Tomar se arrastam há décadas: estacionamento, sinalização, informação e acolhimento digno.
Conviria portanto, no meu tosco entendimento, que os integrantes da Comissão científica da TREF agissem agrupados junto da autarquia, no sentido de pelo menos arranjar um plano capaz de iniciar a solução para as lacunas apontadas. Se  assim não fizerem, estarão apenas a queimar dinheiros públicos para entreter o pagode, pois é até contraproducente incrementar a vinda de turistas a Tomar, onde são mal recebidos por evidente falta de condições de acolhimento.
Por favor, ponham-se nomeadamente no lugar de um visitante menos advertido, que chega a Tomar num sábado à tarde, encontra um quarto vago na Pensão Luanda, ali frente ao jardim da Várzea pequena, mas tem de ir estacionar o carro no novo parque de estacionamento junto à estação da CP, por não haver lugar alhures. Muito prático, não é? E tranquilizador, com os ciganos logo mais abaixo.
Nestas condições, organizar sessões comemorativas será só para inglês ver, para ficar na fotografia e para justificar subsídios. Nas actuais cirunstâncias, há que reconhecer, implementar acções tendentes a incrementar o turismo entre cidades templárias, é assim como colocar o carro à frente dos bois, no que concerne a Tomar. O pessoal vem, é mal recebido, e depois vai aconselhar os amigos a não virem. É o que acontece nesta altura, em que os profissionais de turismo só aceitam passar por Tomar por causa do Convento, e só em último recurso. Se puderem evitar, pisgam-se para terras mais hospitaleiras. Temos mesmo um exemplo concreto. O Guide du Routard, o principal guia turístico para francófonos, elaborou há meses uma lista das 17 principais atracções monumentais em Portugal.  O Convento de Cristo figura em 7º lugar, mas é o único em que não é referida a cidade onde se situa. Porque será?
Apesar de tão grave situação,  hoteleiros e restauração nabantina parecem achar que está tudo bem.  Não protestam nem pedem providências. Estão no seu direito, numa terra em que a ignorância parece ser uma virtude apreciada. Para quê preocupar-se? Alguém há-de resolver. Como sempre. E se desta vez assim não for?
Com mais ou menos turistas, com mais ou menos restaurantes e hotéis, como mais ou menos rotas e comissões científicas, a minha pensão de reforma é sempre a mesma no fim do mês. Ah se não fosse esta malvada consciência cívica!

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