Obras camarárias
Dos carrilhões de Mafra às obras ornamentais tomarenses.
É sabido que não se pode contar com os tomarenses para qualquer reclamação, protesto ou manifestação de tipo político. Só para lamentos e outras cantilenas, desde que pela calada. A actual maioria PS também sabe disso, e aproveita para abusar.
O rei D. João V, soberano absoluto, resolveu a dada altura mandar edificar Mafra, e até mandou ali instalar dois carrilhões em vez de um, porque lhe pareceram baratos e o dinheiro vinha do Brasil. Tudo só para ornamentar.
Séculos volvidos, em Tomar a maioria PS parece não ter aprendido nada. Agora que tudo indica ser consensual a inutilidade das obras da Várzea Grande, da Nun'Álvares e da Torres Pinheiro, insusceptíveis de gerarem ou contribuirem para gerar qualquer valor acrescentado, insistem no modelo, sem apresentarem qualquer argumentação aceitável.
A srª presidente anunciou a requalificação da margem direita do rio "para devolver o Nabão aos tomarenses". Pela parte que me toca, agradeço mas não quero o Nabão de margens ornamentadas para coisa nenhuma. Considero que se trata de mais uma asneira monumental, uma evidente estragação de recursos, do mesmo tipo dos carrilhões de Mafra, desta vez com verbas europeias, em vez do ouro do Brasil.
Simples embirração minha? Que não, que não! Uma vez terminadas as prometidas obras do mandato, tal como já estão concluídas todas as anteriores do mesmo tipo, que ganhou a cidade? Que ganharam os tomarenses? Tudo aquilo criou empregos produtivos? Gerou valor acrescentado transacionável? Resolveu problemas graves e urgentes.?
Em todos os casos a resposta é negativa. Na Várzea, e nas vias agora embelezadas ainda aproveitaram para modernizar as redes de distribuição de água, gás e electricidade, bem como os colectores do saneamento. Na margem do rio nem isso. Devem seguir o modelo usado frente ao mercado, com alguns pesqueiros bacocos, umas árvores e muitos candeeiros, decerto para os peixes conseguirem ler durante a noite. Ou será para identificarem os pescadores furtivos?
Entretanto muitos turistas continuarão a ir ao Convento sem visitar a cidade, ou mesmo a ir-se embora sem sequer terem entrado no monumento, ou descido ao burgo. Tudo por falta de condições mínimas de acolhimento, designadamente estacionamento, sanitários, informação e segurança. Mas isso agora não interessa nada, como dizia em tempos uma célebre animadora televisiva. Importante mesmo é ir gastando os fundos europeus, para dar nas vistas.
De António Paiva, que até deixou obra importante, mas enterrada em grande parte, os tomarenses mais metidos nestas coisas da política local, dizem agora cobras e lagartos, quando na altura se mantiveram mudos e quedos. Nessa mesma linha, já estou a imaginar o que vão dizer dentro de alguns anos sobre uma presidente cuja obra se limita a festarolas, obras ornamentais e habitação a custos controlados, designadamente o realojamento dos ciganos. Vai ser bonito vai!
Dos carrilhões de Mafra às obras ornamentais tomarenses, as circunstâncias mudaram e muito. A mentalidade ainda é a mesma. Infelizmente. Por isso a cidade vai de mal a pior.
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