quarta-feira, 20 de outubro de 2021

 

Aspecto do Coro alto, com parte do fechamento superior derrubado pelo tornado

Património - Janela do capítulo

Manobra ardilosa do músico Abrunhosa


Foi o Tomar na rede que trouxe o assunto para a blogosfera local:
O conhecido artista portuense aproveitou a participação num evento, patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos no Convento de Cristo, para logo a seguir se deixar fotografar junto à Janela do Capítulo. Depois publicou a foto no facebook, incitando o governo a "descativar a verba para restaurar a Janela do capítulo".
Como qualquer outro cidadão, Abrunhosa tem liberdade de opinião e o direito de publicar as suas ideias. Não é isso que está em causa. O que se condena é a  tentativa ardilosa para pressionar o governo, enganando os cidadãos. Isto porque resulta evidente que Abrunhosa se limitou a transmitir uma mensagem que alguém lhe encomendou. E que esse alguém está a defender os interesses ligados ao restauro e manutenção dos monumentos a cargo do Estado, via DGPC.
Ninguém poderá negar, pois se assim não fora, como explicar que o cantor portuense soubesse haver uma verba cativada para restauro da janela manuelina do Convento? Onde foi Abrunhosa buscar o vocábulo restauro, que na circunstância resulta ambíguo?
Na verdade, a Janela do capítulo não está danificada, nem corroída, pelo que não necessita de restauro. O que os mandantes de Abrunhosa pretendem é limpar a janela, retirando-lhe a sua patine de séculos, que a protege da actual poluição ácida, para a deixar com aspecto de nova, como a sua irmã da fachada sul, parcialmente escondida nas arcadas do Claustro principal. Numa frase sintética, pretendem lavar a janela, a jacto  de água com areia. Como já fizeram, com resultados desastrosos, nomeadamente nos portais dos Jerónimos e no da  Igreja da Atalaia. No caso dos Jerónimos até houve bronca, que está documentada na imprensa da época.
Porquê então esta insistência condenável, que já dura há anos? Porque é como os Jogos Santa casa "É fácil, é barato e dá milhões.". Aquando da adjudicação da obra, garante-se que será um trabalho manual minucioso, executado por técnicos altamente qualificados, usando os instrumentos, as técnicas e os produtos mais avançados, mas depois veda-se tudo com muito cuidado, para evitar curiosos, instala-se o compressor e assim sucessivamente. Naturalmente após ter "convencido" a fiscalização que está tudo a correr pelo melhor.
Há provas de que assim irá acontecer de novo? Claro que não. Mas há um exemplo que pode ser usado como uma prova ao contrário. Ei-lo:
Aquando do tornado de 2011, o Coro alto manuelino, que inclui a Janela do capítulo, sofreu danos consideráveis, nos janelões e no fecho da fachada sul. Dez anos mais tarde, continua praticamente tudo na mesma, aguardando restauro. Aí sim, complexo, demorado, carecendo de profissionais canteiros e vidraceiros altamente qualificados. Supõe muito trabalho manual, em vez de simples lavagem com jacto de água e areia fina. Custa muito em mão de obra, que tem de ser bem paga. Por isso não interessa aos empreiteiros que usualmente trabalham para a DGPC, que nunca reivindicaram qualquer concurso para esse fim. Não é fácil, não é barato, nem dá milhões a ganhar. 
Cada qual tem todo o direito de ganhar a sua vida como melhor entender, desde que respeite normas elementares de cidadania, designadamente a honestidade de procedimentos. A ardilosa manobra Abrunhosa foi um manifesto exagero na má direcção.
Deixem a Janela do capítulo em paz! Restaurem o Coro alto!

Sem comentários:

Enviar um comentário