domingo, 3 de outubro de 2021

 






Autarquia - Obras - Ocupação da via pública

Obras em S. João Baptista:  
Um triplo abuso

As obras em curso na igreja de S. João Baptista mostram um triplo abuso por parte da autarquia e do empreiteiro contratado. Antes de mais, assumir obras de conservação e restauro, numa igreja monumento nacional, que depende da DGPC, tal como o Convento de Cristo, e portanto do governo, representa um manifesto abuso por parte da Câmara.
Trata-se, é verdade, de fundos europeus, mas mesmo assim a autarquia terá de desembolsar 15% de 1,8 milhões, ou seja a bagatela de 270 mil euros, no mínimo. É muito dinheiro para quem, por outro lado, alega não ter verbas disponíveis para obras indispensáveis e urgentes nas ruas adjacentes (Rua Nova, Rua Aurora Macedo, Rua do Teatro, Rua do Pé da Costa de Baixo parte da Rua Infantaria 15 e Largo do Quental) que não foram requalificadas no tempo de António Paiva, já lá vão 15 anos. Um grave abuso, portanto. Um erro de gestão. Uma evidente prepotência.
O segundo abuso está no extraordinário custo das obras. Tratava-se inicialmente de acabar com umas infiltrações na parte mais recente do templo, as capelas do lado da Corredoura. Paulatinamente, acrescentaram todos os telhados, umas estruturas, alguns rebocos...e até escavações arqueológicas no valor de quase 100 mil euros. Com que intuito? A defesa do interesse público? Ou os lucros do empreiteiro e respectivas escorrências? Que esperam encontrar nas escavações na Corredoura?  Ferraduras do cavalo do Gualdim? A arca do Yacub el Mansur? O tesouro dos templários? Ou é só para armar ao pingarelho?
Desiludam-se! A Corredoura não era nada por onde corriam os cavaleiros templários, de resto incapazes de subir ou descer a calçada de S. Tiago, pois os cavalos escorregavam, mas mais prosaicamente uma das  vias urbanas largas (como a Rua da Graça e a dos Arcos), nas quais as carroças e carros de bois circulavam de ambos os lados, separados pela regadeira central, de esgoto a céu aberto, por onde corriam as águas domésticas e da chuva. Daí o nome de corredoura = por onde corre a água. Têm dúvidas? Pois façam o favor de ver em Évora ou Estremoz, por exemplo.
Terceiro abuso, a ocupação da via pública. Que se saiba, dado que a autarquia nunca foi, nem é, muito transparente nestas e noutras coisas, não há deliberação alguma a isentar da taxa de ocupação da via pública. Assim sendo, quanto está a pagar o empreiteiro? Por quantos metros quadrados? Qual a justificação para semelhante abuso? Na Rua de S. João, a grua ocupa todo o passeio norte, sem qualquer resguardo ou indicação para peões. Na Corredoura, ocupam metade da largura da rua, para uma escavação que tem menos de um metro quadrado.  Na Praça então é um fartar vilanagem. O estaleiro ainda não chega até à estátua do Gualdim, mas já faltou mais. Os veículos que queiram sair pelo desnível próprio, rumo à Rua Direita, já não o podem fazer. Têm de galgar o passeio. E os peões passam por onde?
Perante tudo isto, impõe-se uma vez mais a pergunta: Quem manda de facto na Câmara? Os eleitos? Ou determinada camarilha, que faz o que quer, zelando pelos seus interesses particulares?
O comportamento abusivo do empreiteiro mostra que, tendo honrado determinados compromissos, se julga com todos os direitos, entre os quais a total impunidade, se calhar prometida por algum técnico superior mais ousado. Por isso abusa livremente, como está à vista de todos, frente aos Paços do Concelho.
Ao longo de décadas, tem havido várias obras em S. João Baptista. Algumas até mais importantes que as actuais. Como por exemplo quando se instalou a estrutura em betão para reforçar o pináculo da torre sineira. Ou quando se rebocou toda a referida torre e a fachada do templo. Mas nunca o respectivo estaleiro ocupou tanto espaço no exterior. Nem coisa parecida. Apesar de os andaimes serem então de madeira e feitos caso a caso. Mas também é verdade que, no tempo da outra senhora, não havia necessidade de justificar com aparato o custo das obras, geralmente a preços módicos. Agora é o que se pode ver...
Tudo isto já nem sequer é vergonhoso. Em Tomar até a velha vergonha na cara emigrou há muito. Tristes tempos estes!

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