Política local - Autarquia - Tomada de posse
Uma política estapafúrdia
Assisti ao acto de posse dos eleitos nabantinos apenas durante alguns períodos e via net, a mais de sete mil quilómetros do cine-teatro. Será a causa da minha estranheza? Seja ou não, continuo sem entender duas ou três coisas elementares: Porquê a posse dos eleitos no palco de um cine-teatro, e não no lugar tradicional, que é o salão nobre dos Paços do concelho? Que outros concelhos fizeram algo semelhante? Para quê todo aquele aparato decorativo? Qual a necessidade de um momento musical durante o acto? O poder local é uma festa permanente, que começa logo no acto de posse?
Porque será que no palácio de Belém, presidência da República, não há nada dessas coisas durante a tomada de posse do governo? Não têm recursos para tanto? São menos importantes que a ilustre câmara de Tomar, cuja maioria foi eleita com menos de 8 mil votos, num conjunto de 33 mil possíveis? Ou será singelamente porque não há, felizmente, nem no governo, nem em Belém, eleitos com ideias de adolescentes obsoletos?
De acordo com o resumo já publicado na informação local e regional, acertei em cheio, porém sem qualquer mérito, pois era evidente. Reeleita com quase a mesma votação de há quatro anos, a cabeça de lista do PS convenceu-se de que está cheia de razão. Que os seus raros críticos que assinam por baixo, entre os quais este vosso conterrâneo inconveniente, não passam afinal de uma cambada de invejosos que só desejam o mal dos outros, ou seja dela e dos seus acólitos.
Assim, julgando-se fortemente apoiada por uma larga maioria, que comprou em grande parte, já anunciou as suas prioridades para o novo mandato, as quais vão agravar a situação do anterior. Apesar dos sucessivos alertas contra as chamadas obras ornamentais, que são investimentos não reprodutivos e com posteriores gastos fixos, vindas até de conhecidos socialistas locais, como o economista José Rogério ou quem escreve estas linhas, os tomarenses vão ter direito a mais uns milhões de euros desperdiçados em obras não prioritárias e de utilidade duvidosa na actual conjuntura.
Uma dessas obras é a requalificação (entenda-se "ornamentação") da margem direita do Nabão até S. Lourenço. "Para devolver o rio aos tomarenses", na versão oficial. Não seria antes mais adequado resolver o problema da poluição do rio, por enquanto uma simples promessa? É que assim sempre se poderia tomar de novo banho no Nabão sem riscos para a saúde, como antigamente, enquanto que as anunciadas obras de devolução só permitem que se vá cheirando o pivete, como acontece agora à saída da ponte velha, do lado do Convento de Santa Iria.
Outra iniciativa de largo alcance é a construção pela câmara de habitações de renda controlada, numa altura em que a população concelhia vai diminuindo a olhos vistos. Se calhar a maioria PS estará convencida de que os tomarenses fazem as malas devido à falta de alojamentos de renda acessível, quando afinal os motivos são outros. Falta de empregos, falta de perspectivas, falta de estruturas, falta de planeamento adequado, falta de investimento produtivo...
(Já depois de escrito o essencial desta crónica, verifiquei que a habitação de renda controlada é afinal uma prioridade do governo PS, que a transmitiu aos seus autarcas. O de Torres Novas, por exemplo, também vai investir nessa área, mas promete igualmente mais qualidade de vida, para travar a fuga da população. Em Tomar ninguém falou nisso:
Com o bairro 1º de Maio, a Srª dos Anjos, o Bairro da Caixa, a Choromela e por aí adiante, Tomar já é em grande parte uma cidade de assistidos. Com as novas construções agora anunciadas, passará a capital dos assistidos e outros dependentes, quando o que faz falta são investidores, empreendedores, empregadores, e por aí adiante. Mas com este tipo de política estapafúrdia, é difícil que apareçam. Ninguém gosta de se envolver em salganhadas burocráticas. Os detentores da concessão da Estalagem de Santa Iria que o digam...
O terceiro e último ponto da intervenção da srª presidente devia dar que pensar a todos os que nela votaram. Se estivessem habituados a pensar um bocadinho. Imagine-se que a eleita socialista com maioria absoluta disse que está contra as transferências de competências para as autarquias, por parte do governo. Adivinha-se porquê. Só lhe interessam os fundos, nomeadamente os europeus, mas não as inerentes responsabilidades. Assim sendo, cabe perguntar, só para ficar escrito: Quando um eleito pelo povo recusa e critica novos poderes, novas competências, algo está errado, não está?!
Pois.. promessa de mais habitação (??) e margem direita do nabão (500m em mais de 20km de rio..)
ResponderEliminar- revisão do PDM - já nem sequer é objetivo, já está tudo resolvido, publicado em DR, etc (só os Tomarenses é que não sabem)
- redes de água e esgotos - nada é dito - objetivos, pressionar, projectar, pedir financiamento..
- PRR - nada é dito
- infraestruturas - fibra óptica - como o concelho vai ficar todo coberto até ao fim deste ano (...) está resolvido nem entra para os objectivos
- poluição do Nabão.. deve estar relacionado com os "territórios em rede", cultivar contactos de proximidade..
Mas está certo - mais vale ser honesto e dizer o que vai fazer em vez de prometer tudo e depois nada fazer (...)
Sobre a descentralização - mas afinal não estavam já preparados?
https://maisribatejo.sapo.pt/2020/01/29/autarcas-do-medio-tejo-com-a-ministra-alexandra-leitao-para-esclarecer-descentralizacao-de-competencias/