sábado, 2 de outubro de 2021

 

O que resta da antiga Fábrica de  fiação de Tomar. Imagem TnR.

Política local - Economia - Decadência

A doença tomarense ainda tem cura, mas...

É o período ideal para reflectir, ponderar, pensar um bocadinho. O mandato anterior já não é. O novo mandato ainda não é. A maioria vai ser a mesma? Pois vai, mas isso mais não é que um infeliz acaso.
Após prolongada busca, julgo ter encontrado a doença da qual Tomar padece, algumas das suas causas e  um nome para ela. Tomar sofre actualmente, como todos os que pensamos bem sabemos, de decadência, definhamento, gestão improvisada, hemorragia demográfica, recessão económica, e por aí adiante. São  os sintomas. Que não adianta negar, por ser conveniente, pois estão ao alcance da compreensão de todos, embora mais de uns que de outros.
Perante estes e outros sinais, parece haver uma causa comum. Exactamente aquela descrita pelo economista Schumpeter -a destruição criadora. Em poucas palavras, (quem pretender saber mais, fará o favor de procurar nos locais adequados), trata-se da necessidade de haver falências, por obsolescência ou outras causas, para que a seguir, e em consequência, possam surgir novos empreendimentos, mais capazes em termos de criação de riqueza. De mais-valia ou valor acrescentado.
É consensual que a destruição económica tem sido geral no país, provocada pelo progresso. O que inclui sobretudo a invasão de produtos ditos europeus de baixo custo, na maioria dos casos manufacturados na China, ou outros países do extremo-oriente.
Não foi só em Tomar que faliram quase todas as unidades industriais, (Prado, Porto Cavaleiros, Matrena, Platex, Marianaia...) e fecharam grandes oficinas de automóveis, (Auto-Acessórios, Auto-Tomar, Auto Mecânica Tomarense, ARAL...) armazéns e lojas de mercearia, tabernas e etc. Isso também aconteceu nos outros concelhos médios da região.
A grande diferença reside no que ocorreu a seguir. Claramente a divisão desses concelhos em dois grandes grupos. Por um lado Leiria, Ourém, Entroncamento e Torres Novas, por exemplo, que têm conseguido a tal destruição criadora. A substituição das velhas unidades por novas empresas, mais adaptadas à realidade actual.
Por outro lado, Abrantes, Santarém, Tomar e Chamusca, onde essa substituição ainda não aconteceu, nem acontece de forma satisfatória, o que está bem à vista na perda de população.
Deixando a outros melhor posicionados os restantes casos, que tem acontecido e acontece em Tomar? Quais as causas da crise? O que impede o aparecimento de novas unidades criadoras de riqueza, em substituição das encerradas?
Na minha tosca opinião, há três causas principais: 
1 - Um hábito centenário de dependência do Estado, directamente ou via autarquia. A mentalidade dominante consiste em ter como ambição "um empregozinho público, um carrinho e uma casinha", de preferência subsidiada pelo erário público. Empreender para quê?
2 - A manifesta incapacidade dos sucessivos autarcas, que ou ignoram o que fazer, ou se recusam a fazê-lo, o que resulta no mesmo.
3 - Uma burocracia asfixiante, muito demorada e bastante gulosa, que desmotiva mesmo os investidores mais ousados, por ser fraca em termos éticos e técnicos, embora procure alardear categoria, que não tem de modo algum.
Resta apenas, por agora, uma explicação mais detalhada para o papel da autarquia. A todos parecerá evidente que um executivo municipal sem planos capazes na área da economia do desenvolvimento, o que impede a adequada gestão rentável dos recursos disponíveis, é uma porta aberta para todos os abusos por parte da nebulosa burocrática, bem implantada e com décadas de experiência no caso de Tomar. Por isso se revoltam, (dentro do possível, para não levantar suspeitas), quando alguém começa a tentar levantar o véu diáfano da fantasia, para o substituir pela nudez forte e cruel da verdade.
Aqui fica o recado. A doença tomarense ainda tem cura. Mas não vai ser fácil nem rápida, e a terapêutica ainda nem começou. Haverá finalmente coragem para tanto? Quanto mais tarde, pior maré.

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