Turismo e estacionamento
Promover Tomar? Expandir o turismo?
Ou intrujar os cidadãos eleitores?
Por causa da visita do Papa, segundo alegou a Câmara, só no dia 9 de Agosto será conhecido o palpite oficial sobre o total de visitantes durante os tabuleiros. Enquanto aguardam, os tomarenses são confrontados com queixas diárias e ásperas, sobre a falta de locais de estacionamento. Ocasião para abordar as duas questões -turistas e estacionamento- em simultâneo.
Os senhores autarcas que temos são avessos à crítica e à transparência, já o sabemos. Detestam ser postos em causa, ou fornecer dados exactos. No caso da Festa dos tabuleiros avançaram, ou deixaram avançar, totais de visitantes irrealistas, e agora não sabem como descalçar a bota. Já aqui foi escrito que há uma única forma fiável de contar visitantes, turistas ou espectadores. É cobrar bilhetes de entrada, distribuir talões numerados, para fins estatísticos, ou instalar pórticos de contagem, daqueles das auto-estradas, em todos os acessos à cidade. Nada disso foi feito.
Mesmo que tivesse sido feito, nada garante que seria suficiente para a maioria socialista fornecer finalmente dados precisos sobre o total de visitantes. Temos até um exemplo anual do contrário. Tendo herdado de mandatos anteriores, do PSD, o Congresso da sopa, com entradas pagas sob a forma de bilhetes ou de pulseiras individuais obrigatórias, alguma vez indicaram preto no branco quantos vieram comer sopa e pagaram à entrada? Não consta.
Apenas houve umas vagas declarações do tipo "Apontamos para cerca de 2.500 pessoas, mais que no ano passado." E no entanto seria bem simples fazer as coisas de forma asseada: Vendemos 2.350 pulseiras, a 5 euros cada uma (números supostos), o que dá um total de 11.750€. Como pagámos 100 euros a cada um dos 37 fornecedores de sopa, num total de 3.700€, restaram 8.050€, dos quais foram entregues ao CIRE, conforme compromisso anterior, 5 mil euros, restando um lucro ilíquido de 3.050€, para cobrir despesas com pessoal, veículos e combustível. É assim tão díficil publicar a verdade factual?
No caso dos Tabuleiros, não havendo outras referências além do "olhómetro" de cada um, andam para aí a cozinhar números, sem ter em conta algumas realidades comezinhas. Exemplos:
1 - Mil autocarros trazem um máximo de 55.000 pessoas;
2 -50 comboios do Ramal de Tomar trazem um máximo de 30.000 pessoas;
3 -Mil auto-caravanas transportam um máximo de 3.000 pessoas;
4 - Mil automóveis trazem no máximo 4.000 pessoas.
5 - Mil autocarros + mil auto-caravanas + mil automóveis, representam uma fila contínua de 15 quilómetros.
Tudo somado, dá um total de 92.000 pessoas. Acham que veio assim tanta gente aos tabuleiros? Cinquenta comboios, dá uma média de 5 comboios diários, exclusivamente com visitantes. Parece-vos que há em Tomar e arredores, estacionamento próximo para mil autocarros, mil automóveis e mil caravanas, em simultâneo? Onde, se até os moradores, que conhecem bem os cantos à casa, se queixam de que não há estacionamento suficiente? Agora imaginem os visitantes, mesmo com GPS...
Não será melhor começar a descer à terra, encarar as coisas como elas são, e projectar finalmente pelo menos dois grandes parques de estacionamento de 500 lugares cada um, na área urbana? O mundo da fantasia é muito bonito e agradável, mas só para crianças e adolescentes mal resolvidos.
O mordomo falou, logo no início, em milhão e meio de visitantes durante os 10 dias da festa. Uma média de 150 mil por dia. Terão estado em Tomar 150 mil visitantes, em qualquer dos dias anteriores ao grande cortejo? E 300 mil no dia do cortejo, para compensar as falhas anteriores?
Até para intrujar, convém ser moderado. Não ir além do razoável. Já o Aleixo, que era quase analfabeto, dizia na década de 40 do século passado:
Prá mentira ser segura
E atingir profundidade
Deve trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade
Neste caso dos tabuleiros, houve bastantes visitantes, lá isso é verdade. Mas muito menos do que os previstos pelo mordomo, que terá sido vítima da usual megalomania tomarense, quando se trata de gabar as nossas coisas. A paixão é incompatível com o bom senso e o rigor. E quase todos temos uma paixão por Tomar e pelas coisas tomarenses.
Como lhe disse há duas, quando aqui há uns anos estive nas Falas, em Valência, a terceira cidade de Espanha, vi o que são 200 000 pessoas segundo os dados da polícia local. nunca tinha visto tanta gente junta.
ResponderEliminarAgradeço o seu comentário. O pitoresco desta situação reside quanto a mim no facto do total de visitantes durante a Festa não ter qualquer importância, para além da fama, uma vez que não havia entradas pagas. Mas só gente de pouca cultura e ainda menos cabeça arriscará dizer que os tabuleiros foram um sucesso, porque veio muita gente. Durante a Revolução francesa também houve sempre muita gente para ver a guilhotina a funcionar.
EliminarNestas condições, 100 mil ou 900 mil "c'est du pareil au même". Deixem-se disso e comecem mas é a pensar na indispensável reforma da festa, respeitando o essencial -o cortejo.
O seu comentário evidencia um dos grandes problemas tomarenses -a falta de Mundo. Só quem nunca viu uma grande multidão, daquelas mesmo a sério, como por exemplo o Carnaval no Rio, é que poderá sustentar que estiveram mais de 100 mil pessoas em Tomar, no dia do grande cortejo. E já estou a ser generoso.
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