terça-feira, 25 de julho de 2023

 


Intervenção cívica

Uma explicação necessária


Conquanto escreva apenas para me entreter, honrando o meu dever de cidadania, sem qualquer pretensão de agradar, de ter muitos leitores ou de me candidatar ao que seja, por demasiado tardio, sinto que devo uma explicação a quem me lê por opção.
Resolvi há pouco tempo deixar de partilhar as minhas toscas crónicas no Facebook. O que não impede que outros o possam fazer, se assim o entenderem. Não tendo justificado a minha decisão, por considerar que já sou adulto há tempo suficiente para não dever explicações a ninguém, ficou a dúvida sobre a minha intenção. E naturalmente terão aparecido algumas ideias menos apresentáveis, porque muito afastadas da verdade e demasiado próximas da fantasia maledicente.
Aqui vai portanto uma singela explicação. Comecei a partilhar os meus escritos no Facebook para tentar ampliar o leitorado, o que foi conseguido. Passou-se de menos de cem leitores por texto, para por vezes mais de 500, e até além de mil, mais raramente. Dei-me todavia conta de que havia um inconveniente, e dos grandes.
Notei nalguns comentários certa agressividade, como se eu tivesse ousado invadir a privacidade do leitor, colocando-o frente a textos que ele não procurou e nunca teria escolhido, por serem de natureza estranha aos seus hábitos de leitura. Senti-me escorraçado e um estrangeiro rejeitado, na minha própria terra natal. Foi particularmente evidente, e penoso, num curto debate escrito com uma conterrânea da comissão dos tabuleiros, em que a senhora me julgou até capaz de fazer milagres, quando eu nem sequer acredito em tal coisa.
Daí a minha decisão de regressar às origens e de por aqui ficar. Agradável ou agreste, divertido ou chato, só lê Tomar a dianteira 3 quem antes teve o cuidado de procurar essa leitura. Serão por conseguinte leitores esclarecidos, exactamente aqueles que me interessam, até porque por vezes os outros, aqueles que se sentem invadidos, demonstram alguma dificuldade para entender cabalmente aquilo que vou escrevendo. Não por má vontade das partes. Apenas porque o português deles é demasiado curto, tal como o meu, que não consegue chegar ao nível mais básico, porque escrever simples não é nada fácil. E depois ainda resta a questão dos temas, quase nunca convergentes. 
Donde resulta quase sempre uma conclusão semelhante aquela da ocorrência com um proprietário alentejano, que foi visitar a sua herdade. Estava ele conversando com o pastor do rebanho de cabras e ovelhas, quando passou um avião da TAP, demasiado baixo. -Que bicho será aquele? perguntou o pastor. -Ignoro, respondeu secamente o patrão, ante tão inesperada pergunta. -Ca ganda ingnoro, rematou o pastor.
Continuamos assim neste país, 49 anos após o 25 de Abril. Que deu a liberdade a todos, mas se esqueceu de formar cidadãos, segundo Ramalho Eanes. O que me levou a recuar às origens, após uma tentativa feliz, todavia parcialmente malograda, pois não pretendo importunar ninguém, que não seja eleito nem  funcionário superior da autarquia nabantina. É isto.


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