segunda-feira, 10 de julho de 2023

 



Imagens de António Freitas, com os agradecimentos de Tomar a dianteira 3


Problemas com uma enchente anunciada

Excursionistas caminheiros forçados


As imagens falam por si. Julgando vir assistir ao desfile dos tabuleiros, milhares de turistas e de excursionistas foram forçados a tornar-se caminheiros, palmilhando quilómetros para chegar à cidade e depois para regressar ao meio de transporte, estacionado algures no campo. Tudo sem condições de segurança, caminhando pela faixa de rodagem, na ausência de passeios ou meros espaços de resguardo para caminhantes.
Ficaram satisfeitos, apesar de tais desventuras? Voltarão um dia? Recomendarão a vinda à festa tomarense? Basta colocar-se por momentos no lugar deles, para obter a resposta. Andamos a queimar dinheiro numa festa alegadamente promocional, que afinal pouco ou nada promove, por evidente falta de condições mínimas de acolhimento. Quem parte não leva saudades. Comprei o Público, para ver a opinião sobre o magnífico cortejo dos tabuleiros. Nem uma linha publica sobre a festa. Mas inclui duas páginas sobre o festival NOS ALIVE, que acabou ontem.
Pouco habituados a pensar um bocadinho, os entendidos locais, sobretudo os que integram o clero da festa e do poder local, perante o desastre evidente e previsível, arranjaram logo uma desculpa de circunstância: "Nenhuma terra está preparada para uma enchente assim, e nós também não." O fatalismo habilidoso do costume.
Têm a certeza? Para não obrigar a ir muito longe, já foram alí a Fátima-Cova da Iria, e olharam para aquilo com olhos de ver? Então há ou não há uma terra preparada para enchentes assim, praticamente aqui ao lado? Nunca tinham reparado? Mas nem sequer é longe. Podem fazer o favor de ir confirmar. Os piores cegos são os que não querem ver, porque não lhes convém.
O que tem faltado em Tomar é gente com mais modéstia e menos vaidade. Mais recato e menos cabotinismo Que saibam ouvir e não sejam obstinados. Mais virados para beber conhecimentos do que vinho ou cerveja.
Dirão que agora já é tarde para fazer tantos parques, tantos sanitários, tanta sinalização. Nunca é tarde para começar a trabalhar no bom sentido. E mesmo que fosse, há que mudar de hábitos. Em vez da megalomania e do desejo de palco, do protagonismo balofo, o realismo e a modéstia discreta. Se em minha casa, na melhor das hipóteses, só tenho 10 lugares à mesa, não vou convidar 60 ou 70 amigos para o meu almoço caseiro de aniversário, sem antes providenciar lugares confortáveis para todos.
Não havendo manifestamente condições para receber tantos visitantes, há que organizar-se de outro modo, que até fica muito mais barato, porque dá lucro. Entradas pagas, tanto para o cortejo como para as ruas ornamentadas e para os concertos. Com preços a doer, porque o que é mesmo bom custa caro, e permite limitar a afluência. Bem organizado, com a cobrança automática longe da cidade, permite dizer aos candidatos a visitantes, quando seja caso disso, "Lamentamos, mas está esgotado. Não há mais bilhetes." Como se faz por essa Europa fora.
Em Veneza (Itália),  há vídeo-vigilância permanente, e logo que na Praça de S. Marcos ou na Ponte do Rialto, por exemplo, há demasiadas pessoas por metro quadrado, de acordo com uma norma fixada anteriormente, fecham-se as cancelas automáticas e ninguém mais entra na cidade, salvo os residentes permanentes, até que a densidade humana diminua para níveis aceitáveis pré-definidos. Para grandes males, grandes remédios. Sempre assim tem sido. Só em Tomar é que ainda não.
Se assim não procedermos, ainda um dia vamos provocar alguma tragédia, sem querer. Já viram o que seria um incidente sério, tipo incêndio, tromba de água, explosão, desabamento,  no meio da multidão que invadiu Tomar? Por onde passariam os meios de socorro? Quanto tempo levariam? Quantos mortos evitáveis provocariam?
Antigamente, quando ainda éramos um país de marinheiros e de pescadores, dizia-se que "quem vai para o mar, avia-se em terra." Mas Tomar sempre foi sobretudo uma terra de funcionários e de militares, E aqueles muitos conterrâneos que se julgam descendentes dos grandes navegadores, é melhor descerem à terra. São descendentes dos que cá ficaram, com tudo o que isso implica. Falta mundo aos tomarenses, para lhes abrir a mente. E isso nota-se. Os outros concelhos avançam, e nós vamos ficando para trás. Contentes, mas cada vez mais atrasados. Culpando os outros pelas nossas evidentes carências.



3 comentários:

  1. A ditadura da cerveja .
    Cerveja de 3ª categoria num copo de 20cl a 2euros ,bem assim como sumos ,águas e coca-colas .
    Produtores de vinho de alguma dimensão no concelho serão perto da meia dúzia ,estava algum na Várzea grande ,ou noutro local ?

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  2. Como a nossa presidenta diz foi o bairrismo que permitiu receber tão bem 800000 pessoas na maior festa nacional. Viva a festa

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    1. Já ouvi chamar-lhe muita coisa, agora bairrismo é a primeira vez. Não haverá alguma confusão com "burrismo"?
      Quanto às 800 mil pessoas, se foram só 400 mil já não é mau. O exagero por enquanto ainda não paga IRS. É o que safa alguns políticos e respectivos acólitos.

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