segunda-feira, 17 de julho de 2023



Formação profissional em turismo e hotelaria

 

Tomarenses ou equiparados já nascem ensinados?




O título poderá parecer estranho a alguns leitores, pelo que se passa a explicar. Resulta da junção de três factores, afastados uns dos outros, porém convergentes na vertente que se pretende salientar. O primeiro factor é a reacção dos responsáveis locais, logo que se esboça alguma crítica aos eventos que vão realizando ou subsidiando. O segundo é a grave situação da Escola profissional de Tomar, que pertence à Câmara e outras entidades, com um "buraco orçamental" da ordem dos cem mil euros, e que já nem paga a renda, alegadamente por falta de alunos. O terceiro e último elemento é duplo. Trata-se da celebração de protocolos entre as câmaras de Abrantes e Torres Novas e o Turismo de Portugal, para a formação profissional na área da hospitalidade (turismo, hotelaria, restaurantes e afins).
Como é sabido, na terra gualdina qualquer opinião discordante, sobretudo quando amplamente apoiada em factos, desencadeia imediatamente reacções menos cordatas e algo estrambóticas da parte dos visados. Certamente porque se consideram sempre muito competentes naquilo que fazem, e portanto incapazes de falhar ou sequer de agir menos bem. Basta pensar no ocorrido com a recente Festa dos tabuleiros. Já algum responsável veio a público reconhecer falhas, ou assumir responsabilidades? E quantos já atacaram os malvados dos cidadãos que ousaram emitir opinião menos favorável sobre a organização da festa?
Neste contexto nabantino, de gente competente em qualquer área, mesmo desprovidos de formação profissional, ou anos de "tarimba", não é de estranhar que a situação da Escola profissional seja muito grave, alegadamente devido à falta de alunos. Provavelmente foi mal planeada, o seu corpo docente não era se calhar uma maravilha, devido a falhas no recrutamento e falta de meios, e o ambiente local também não ajuda, posto que estamos numa terra pequena, onde toda a gente julga que sabe tudo, para o melhor e para o pior, e a actividade profissional na área turística e hoteleira tem má imprensa. Numa comunidade local onde raramente há dúvidas, algo está mal.
Mesmo aqui ao lado, Abrantes e Torres Novas, terras pequenas como Tomar, mas sem os excelentes recursos turísticos nabantinos, têm de ir fazendo pela vida. Nesse sentido, ambos os municípios celebraram há pouco protocolos com o Turismo de Portugal, para a formação profissional na área turística e hoteleira, na Escola de Turismo e Hotelaria do Oeste, dividida entre Caldas da Rainha e Óbidos.
Situação assaz curiosa, esta de duas câmaras do Médio Tejo fornecerem alunos à região Oeste, quando se sabe que existe uma boa escola de hotelaria e turismo em Fátima, concelho de Ourém, no Médio Tejo, e uma outra escola profissional menos reputada em Tomar. Apesar disso, é uma posição mais aceitável que a da Câmara de Tomar, que nessa área tão sensível e importante da actividade económica local e regional, nem faz nem deixa fazer. Não consegue ter uma escola profissional de bom nível, nem celebra protocolos para enviar alunos para outras escolas, fora da região. Cai-se assim numa inesperada divisão da actividade económica. Em Tomar temos os turistas, os recursos e as empresas  da área. Em Torres Novas e Abrantes vão incentivando a formação profissional. Depois, no vale nabantino, enquanto uns se queixam da falta de empregos, outros afirmam ter muita dificuldade no recrutamento de profissionais.
Tendo em conta o antes exposto, nomeadamente quanto a críticas a eventos menos conseguidos, fica-se com a impressão de que em Tomar prevalece entre os responsáveis a ideia implícita, segundo a qual os tomarenses, e outros que para cá vêm, não necessitam de formação profissional, nem de experiências laboral, porque já nascem ensinados. Por isso a cidade e o concelho vão de sucesso em sucesso, até ao desastre final, quando já não tiver remédio algum. Mas vão calmos e contentes, felizes segundo um PS local, o que também é importante.
A comparação será cruel, porém irresistível, pois o comportamento é similar: Fico triste e meditabundo, quando sentado ao fundo da Corredoura, vejo passar qualquer camião de gado para o matadouro, com os animais todos muito calmos, decerto por ignorância.


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