domingo, 30 de julho de 2023

 

Turismo e Património

Convento de Cristo Empresa Pública



Nas terras pequenas, alguém tem de abordar na informação local os grandes temas. Aqueles que condicionam o nosso futuro como comunidade. Pode não servir para nada no imediato. Mas fica escrito, para memória futura. Para mais tarde recordar.
Julgo que terão lido nos jornais que o governo publicou legislação sobre a administração do património do Estado. Ao princípio, em 1974, era a Direcção Geral da Fazenda Pública. Depois apareceu o IPPC, com o Lucas Pires. Seguiram-se o IPAAR, o IGESPAR e a DGPC. Aparece agora, finalmente, uma separação de águas. Os museus e monumentos, até agora na alçada da DGPC - Direcção-Geral do Património Cultural, passam a integrar a Empresa Pública Monumentos e Museus de Portugal. É o caso do nosso Convento de Cristo-Castelo dos Templários-Aqueduto dos Pegões, que vão passar a ser geridos como uma empresa pública, da qual se espera que dê lucro. Sejamos optimistas. Esqueçamos a TAP, a REFER, o METRO, e tantas outras. O Convento não é um serviço público essencial, apesar de alguns considerarem o contrário, e ainda bem.
Quem diz empresa pública, diz gestão empresarial, com criação de valor acrescentado, na melhor das hipóteses. No caso do Convento não vai ser nada fácil, porque se trata do monumento mais complexo do país. Um aglomerado edificado ao longo de cinco séculos, sem plano de conjunto. Tomando o Corredor do Cruzeiro como ponto de referência, estamos no 4º piso, com a Charola Templária, quatro séculos mais antiga, igualmente no 4º piso, porém cerca de metro e meio acima do piso do citado corredor,  e todavia no nível térreo, que corresponde ao primeiro andar do Claustro da Lavagem. Percebeu? Não se preocupe. A maior parte dos leitores e dos visitantes do monumento também não.
Tal complexidade obrigaria a ter visitas guiadas, a partir do momento em que se quisesse evitar que haja visitantes perdidos, buscando a saída, quando ainda não percorreram sequer metade do monumento, como acontece todos os dias, durante a alta estação. E quem diz visitas guiadas para todos, admite a existência de pessoal suficiente, tanto em número como em qualidade, muito longe da situação presente.
Mais pessoal, mais encargos, mais dificuldades, não tardará que a futura direcção da antiga Casa da Ordem se dê conta da estranha situação,  no que concerne ao total de visitantes anuais. Apesar de livre da obrigação de manter a igreja aberta ao público e de acesso gratuito, ao contrário do que acontece na Batalha e em Alcobaça, o Convento tem menos visitantes com bilhete do que aqueles dois outros monumentos.
Praticamente em igualdade de circunstâncias no que concerne a grandes vias de acesso, os futuros gestores, se estiverem à altura dos cargos que ocupam, cedo se vão dar conta dos dois maiores estrangulamentos que impedem o aumento de visitantes do Convento. A gritante falta de estacionamento na proximidades, que força muitos potenciais visitantes a irem-se embora sem visitar, por não terem onde parar o carro, e a ausência de um meio de ligação rápida e não poluente entre o Centro histórico e o Castelo.
Não tardarão portanto esses responsáveis a pressionar a Câmara, no sentido de fazer a parte que lhe cabe -os indispensáveis parques de estacionamento e a urgente ligação mecânica cidade-castelo. Sem projectos, nem ideias fundamentadas para os encomendar, os autarcas tomarenses vão tentar sacudir a água do capote, como é habitual por esse país fora, e já está a acontecer com os homólogos de Trás os montes.
Informados de que o Museu Abade de Baçal e o Museu da Terra de Miranda não integrarão o património da futura empresa pública, sendo entregues às respectivas autarquias, (como S. João Baptista e Santa Maria dos Olivais?), os presidentes de câmara de Bragança e de Miranda do Douro, em vez de agradecerem, já protestaram junto do governo. Consideram essa decisão uma despromoção. O hábito de viver à custa dos fundos do governo central, (os impostos de todos os contribuintes), está de tal forma enraizado, que qualquer proposta de mudança é logo considerada uma blasfémia, um atentado aos direitos adquiridos.  Antes mesmo de qualquer negociação.
Regressando a Tomar e ao Convento, sendo previsível que a autarquia oferecerá forte resistência às pretensões dos futuros gestores daquele monumento, tudo pode acontecer. É plausível que a prazo, estes possam mandar instalar parques de estacionamento a oeste do edificado, assim desviando boa parte dos potenciais visitantes da cidade, como já hoje acontece com os turistas em autocarros, impedidos de descer pela Estrada do Convento. A iniciativa privada local é que perde, mas terá de continuar a pagar as suas obrigações fiscais.
Fica aqui este modesto alerta, uma vez que as autárquicas são já em 2025, com grande probabilidade de que este tema faça parte da campanha eleitoral. A não ser que os tomarenses continuem a preferir balelas agradáveis a realidades complexas. Pode acontecer uma vez mais, ajudando à decadência que depois se vai lamentando...atribuindo a culpa aos outros.

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