segunda-feira, 24 de julho de 2023

 



Turismo

A desconfortável situação nabantina


Distraídos com festas, música, passeios e subsídios, os tomarenses parecem viver felizes, excepto quando toca a pagar. No hipermercado, na estação de serviço ou no banco, dão-se conta que algo não está bem. Que as coisas não acontecem como habitualmente. Que se passa afinal em Tomar, quando nas cidades vizinhas se vive melhor e mais barato, embora alguns se esforcem por nos convencer do contrário?
Digam o que disserem, os factos são teimosos. Somos cada vez menos e mais velhos. Porquê? Alguns dos que em Tomar se interessam por estas minudências, vítimas inocentes da ideologia dominante, dirão que não há razão para alarme. Que nas outras terras vizinhas também há emigração e a população está igualmente cada vez mais velha. Têm razão, mas não vão ao fundo da questão: Em Tomar tanto a fuga da população como o envelhecimento são bem mais graves que nos concelhos vizinhos, de acordo com os dados oficiais disponíveis. Porquê?
Assim à superfície das coisas, desde 2013 que somos governados por uma maioria legítima, com uma singular actuação. Há dinheiro a rodos, para festas, eventos vários e subsídios abundantes para todas as colectividades, mas faltam obras essenciais, básicas, e coragem para corrigir o que está mal. As asneiras que foram fazendo, por vezes propositadamente. Adormecida pelas  benesses interesseiras, a população aplaude, ou não se manifesta, em vez de protestar.
Sem pretender ser detentor da verdade, ou único intérprete credível da realidade, penso ter a obrigação cívica de publicar o que segue. Quer queiramos ou não, a época da indústria em Tomar já foi. Já passou e não volta com a mesma força. E o quartel  general também não. Agora é o turismo o motor económico local, como mostram o incremento hoteleiro e as centenas de milhares de visitantes anuais atraídos pelo Convento, apesar dos erros cometidos. Faculta empregos mal pagos e precários? E daí? No Algarve, em Lisboa, Madrid, Roma ou Paris é diferente? Não consta, e os envolvidos não se lastimam. Trabalham. Só em Tomar é que preferem a crítica apriorística, sobretudo quando devidamente lubrificados pelos tais subsídios abundantes. Que não vão durar sempre. Tudo tem um fim, e parte do dinheiro vem de Bruxelas.
Examinando com alguma atenção o trabalho passado desta maioria socialista, aparece uma série de factos, à primeira vista sem nexo, mas afinal interligados. Fecharam o parque de campismo. Impedem os autocarros de descer do Convento à cidade. Não providenciam lugares de estacionamento para turistas nem para autocarros de turismo, nem junto ao Castelo-Convento nem na área urbana. Nunca mostraram qualquer intenção de melhorar a cobertura sanitária, ou de implementar sinalização turística capaz.
Temos portanto uma Câmara sem programa nem projecto adaptado, que ignora para onde vamos, porque nem vislumbra um caminho possível. Mas que disfarçadamente, assim como quem não quer a coisa, vai procurando limitar aquilo que eles julgam erradamente ser o "turismo dos pobres".
A senhora presidente, agora de saída, para ir integrar precisamente uma estrutura regional de turismo, foi bem clara a dada altura.  Afirmou  que o turismo de excursão, de fraco poder de compra, não interessa. Que devemos procurar atrair os visitantes de elevado poder de compra, que fiquem vários dias. Louvável propósito, obviamente postiço, pois não foi dito como  alcançá-lo, e muito menos demonstrado que o excursionismo e o campismo são de fraco poder de compra,  o turismo dos pobres. Serão mesmo?
Alguns comerciantes locais mais antigos, ainda se lembram do tempo em que o parque de campismo estava aberto e albergava centenas de turistas na época alta, muitos deles estrangeiros, forçosamente de alto poder de compra, dada a diferença de ordenados entre Portugal e a Europa do norte. Ficando em Tomar regra geral uma ou duas semanas, acabavam por gastar muito mais do que os tais turistas de alegado alto poder de compra, que ficam uma ou duas noites nos hotéis locais, quando ficam. Fechar o parque de campismo foi assim uma machadada no turismo e na economia local, embora os responsáveis o neguem, por ignorância. Os católicos bem vão dizendo: Perdoa-lhes pai! Eles não sabem o que fazem. Neste caso, o que fizeram.
Acresce que o encerramento do parque de campismo não foi uma asneira isolada. As onerosas obras levadas a cabo pela gerência de António Paiva e sucessores PSD, apenas facultaram 7 lugares de estacionamento para autocarros junto ao Convento, tendo provocado em simultâneo a impossibilidade prática dos mesmos autocarros descerem à cidade. A estrada do Convento ficou mais estreita após as obras, tornando impossível o cruzamento de dois veículos pesados num pequeno sector. Em vez de mandarem corrigir a anomalia, para restabelecer as condições de trânsito anteriores, os senhores autarcas PS optaram por proibir o trânsito descendente de pesados. Evitam assim que os tais turistas de excursão desçam à cidade, uma vez que são de fraco poder de compra. Serão mesmo?
Um dos nichos mais florescentes do turismo moderno é o dos cruzeiros. Lisboa já se equipou e vai recebendo cada vez mais barcos, vindos tanto do Mediterrâneo como da Europa do norte. E os comerciantes lisboetas esfregam as mãos de contentes, Cada um destes monstros transporta mais de mil turistas, e em cada escala organizam excursões para visitar designadamente os monumentos mais interessantes das proximidades. Tomar tem ficado de fora, não por ser longe, mas por não dispôr de estacionamento suficiente, nem de locais para tomada e largada de passageiros, o que irrita os motoristas e os operadores turísticos. Cada cruzeiro dá origem a excursões de 20 ou 30 autocarros, que obviamente não podem operar em Tomar. nas condições actuais. Os turistas de cruzeiro também são de fraco poder de compra?
Durante a recente Festa dos tabuleiros, só não foi um escândalo a nível nacional aquela imagem de centenas de excursionistas a palmilhar quilómetros a pé, (ver imagem) designadamente porque os tomarenses já estão por tudo, aliciados pelas benesses locais, mas também porque as equipas televisivas foram importunadas nos controles dos arredores, por questões de vestuário, e voltaram para trás em protesto. Por isso só houve reportagem capaz na SIC.
Em conclusão, para lá das festas, dos eventos, dos lautos subsídios para a cultura e desporto, bem como da  apregoada intenção de promover Tomar, os factos indicam que temos na autarquia uma maioria de cangalheiros inconscientes do desenvolvimento turístico local. E quem diz desenvolvimento turístico, está a falar de incremento económico, sem o qual não pode haver melhoria das condições de vida. Quero crer, apesar de tudo, que os nossos autarcas são pessoas honestas e bem intencionadas, que todavia não se dão conta dos malefícios de algumas decisões que vão tomando. Seria ainda mais trágico se assim não fora.


1 comentário:

  1. É sempre um prazer ler as suas crónicas diárias.
    O diagnóstico que faz de Tomar, relativamente ao Turismo é quase coincidente com o que faço, com alguns pontos que não explicita porque também são resumos, mas que no meu ponto de vista são importantes.
    Não vejo diálogo com os operadores turísticos que afinal são quem sabe do assunto e podem trazer a Tomar mais turistas.
    Nem só a CMT atual não percebe nada do assunto, como também é uma vergonha como é "apresentado " o Convento de Cristo, afinal a principal razão porque os turistas vêm a Tomar.
    E isso é da responsabilidade da inefável diretora do Convento e também do governo.
    Não existem audio guias para alugar, com a correspondente sinalização do monumento, não existem exposições temáticas dentro do mesmo, a entrada é ridícula para um monumento destes, e os serviços que devem ser associados ao monumento inexistentes.
    Por outro lado , os restantes monumentos da cidade e concelho quase sempre fechados, sem ninguém que os possa explicar aos turistas.
    O turista para vir a um local , cada vez mais quer conteúdos , e não me refiro a festarolas à borla.
    No entanto o turismo não deve ser o único setor da economia para retomar a atividade económica de Tomar, sem um setor industrial decente não é possível voltar a atrair emprego qualificado a Tomar, mas onde, se não temos uma zona industrial ??

    ResponderEliminar