Festa dos tabuleiros
Dar música e dança ao pessoal
Tem prosseguido no Facebook o debate (mais ou menos) sereno entre António Freitas e Luís Ferreira, já aqui referido anteriormente. As posições são conhecidas. Freitas pugna por mudanças substanciais no modelo organizativo da festa grande, insurgindo-se designadamente contra as aselhices na área do estacionamento, os eventos à borla que não permitem controlar a afluência, e a hora tardia de início do cortejo, que prejudica gravemente os excursionistas.
Ferreira não discorda, porém sempre vai atacando os "excursionistas de garrafão e farnel", afirmando que não interessam a ninguém, e garantindo que a edição 2023 dos tabuleiros foi a melhor de sempre, na transição de uma festa paroquial para um grande festival de música, como mostram os 20 concertos gratuitos do programa. Quando confrontado com os elevados custos suportados pelo orçamento camarário, este ano superiores a um milhão de euros, ao que tudo indica, o ex-chefe de gabinete lança uma resposta ideológica, de grande aceitação popular no vale nabantino. -"Até podiam ser dois milhões de euros. É uma festa popular, o povo gosta e a felicidade não tem preço."
Tolhido por tão audaciosa posição, Freitas vai insistindo na necessidade de reformas urgentes, que sabe serem praticamente impossíveis no estado actual das coisas, e Ferreira rejubila ao constatar que a sua ideia festivaleira vai fazendo o seu caminho. Não surpreende, uma vez que, se Freitas é organizador e guia de excursões, o seu contraditor, além de político experiente, já foi músico profissional, ao que consta também excelente executante numa filarmónica local. É portanto natural que goste de dar música e dança ao pessoal, mesmo depois de ter saído da política activa.
Pegando na sua ideia subjacente de transformar a festa nabantina num grande evento musical, tendo o cortejo dos tabuleiros como um dos seus momentos altos, mas apenas isso, não custa imaginar o sonho de alguns galegos, finalmente realizado. Há uns anos, numa deslocação promocional de um grupo de pares com tabuleiros à Galiza, quando o desfile mal tinha começado, ouviu-se uma voz potente: -Então, não dançam? e foi o espanto na delegação tomarense, segundo o mordomo que então acompanhou o grupo.
Mais de quinze anos depois, parece chegada a altura de responder em Tomar à pergunta galega. Seguindo a directriz de Luís Ferreira, já estou a ver um futuro grande cortejo, de pelo menos 700 tabuleiros, com cada acompanhante tocando um instrumento musical, e as portadoras dançando com os tabuleiros à cabeça, enquanto as manageiras, os manageiros e os aguadeiros, de barrete preto ao ombro, vão fazendo de coro dançante, à americana.
Segundo a mãe do autor destas linhas, que dançava com um cântaro cheio de água à cabeça, pesando entre 15 e 20 quilos, não custava nada, estando o cântaro cheio. O problema era só quando estava meio, por causa da estabilidade e do equilíbrio. Pode portanto dizer-se que um cortejo dos tabuleiros com nova coreografia, era bonito, envolvente, novo, grandioso e sem perigo, lá isso era. Mas respeitaria a tradição? Aguarda-se a resposta popular, uma vez que alegadamente "a festa é do povo, para o povo e paga pelo povo". Que remédio... Mas Luís Ferreira já deve ter uma resposta pronta, do tipo "A felicidade não tem preço". Bem ao estilo socrático, quando o então chefe de governo declarou na tv que as dívidas do Estado não são para pagar.
De forma que, se o PS volta a ganhar em 2025, vamos ter decerto tabuleiros musicais e dançantes em 2027, faltando apenas escolher a música, estabelecer a respectiva coreografia...e alinhar os mais de dois milhões de euros que custará a folia. Assim uma espécie de mix Moulin Rouge et Folies Bergère, naturalmente à borla e numa modesta povoação que já foi cidade.
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