Festa dos tabuleiros - Polémica
Por isso os excursionistas palmilharam quilómetros...
António Freitas teve a amabilidade, que agradeço, de reproduzir na sua página Facebook algumas das minhas crónicas sobre os tabuleiros e a necessidade imperiosa de mudar de modelo organizativo. Inesperadamente, Luís Ferreira, progenitor da actual maioria socialista, respondeu contestando, como é seu direito e de todos. Só lastimo que uma das melhores cabeças socialistas locais se enrede nos seus próprios problemas ideológicos, e a partir daí construa uma realidade à sua medida, por vezes algo cómica e ao arrepio do socialismo tal como o entendo.
Começa o meu estimado conterrâneo por escrever que omito o indiscutível. Situação deveras curiosa, porquanto ignorava até agora que, na política ou alhures, havia situações indiscutíveis. Mas admitamos o axioma. De que se trata afinal? Do facto de eu não ter mencionado um alegado novo figurino da festa grande nabantina, "a mais organizada e profissional de sempre." Terá sido mesmo assim? Parece-me que não, e por isso não referi. Omiti, segundo Ferreira. Só que não é possível omitir o que não existe de facto. Ou será?
Sucede na verdade que, salvo quanto a instalações sanitárias, bebedouros e alguma sinalização, tudo precário, não notei qualquer melhoria nas estruturas de acolhimento. Continuou a não haver planeamento à altura das circunstâncias. Nem podia, pois a prosa do ex-dirigente socialista local explica, logo a seguir, em que consistiu a tal organização mais profissional de sempre: Na tentativa de transformar a festa dos tabuleiros numa espécie de festival musical, com dois palcos em simultâneo, como forma de tentar atrair turistas individuais, pretensamente de maior poder de compra e que ficam mais tempo na hotelaria local. E até avança com o exemplo do festival Bons sons, em Cem Soldos, que é afinal o oposto daquilo que Ferreira pretende demonstrar. As entradas são pagas, na ordem das dezenas de euros por pessoa. Praticamente todos os visitantes são individuais, mas não recorrem à hotelaria clássica, fazendo campismo rural improvisado, porque o parque municipal foi fechado pelo PS, e usam os transportes públicos. O contrário do que defende o ex-chefe de gabinete, inimigo declarado dos excursionistas e dos mochileiros.
É de resto insólito, caricato até, ler um socialista dos melhores, a defender com unhas e dentes o "turismo dos ricos", em detrimento do excursionismo e do campismo. O inverso das posições dos partidos de esquerda por essa Europa fora, desde o advento das férias pagas, pela primeira vez concedidas a todos os trabalhadores pelo governo da Frente popular, em França, em 1936.
Após esta estrambótica posição do ex-vereador socialista a favor do "turismo dos ricos", já só nos falta agora aparecer em Tomar alguém do Chega a defender os mochileiros e outros viajantes de menores recursos. Afinal outra edição do que já acontece na cova nabantina com os ciganos. Os socialistas protegem e ajudam aquela etnia, que o Chega ataca.
Tudo isto porque impera no vale do Nabão um apego ao que está e ao que já foi, impedindo o arejamento inevitável face à nova realidade envolvente. No caso concreto da festa dos tabuleiros, profissionalizar a organização, instalar estruturas de acolhimento perenes, passar a cobrar entradas, excepto aos moradores e aos tomarenses de nascimento, para começar, e fazer a festa anualmente. Sob pena de morte lenta inevitável, embora linda de se ver. Porque também há belos funerais, após os quais se ouvem os mesmos comentários que agora fazem a propósito dos tabuleiros e das ruas: "foi lindo", "magnífico", "maravilhoso", "fantástico", "comovente", "uma maravilha", "a população esmerou-se", "foi uma enchente", etc. etc. Só falta o "Viva o morto!", homólogo do abundante "Viva a Festa!", por razões óbvias.
É a esta conclusão que o estimado conterrâneo Luís Ferreira, e muitos outros, recusam chegar, o que os leva a tentar mobilar com ilusões o seu universo discursivo. Quanto mais tarde pior, meus irmãos tomarenses, porque fica cada vez mais caro a todos nós, contribuintes forçados. E apesar da despesa cada vez maior, muitos visitantes vão-se embora pouco satisfeitos, sentindo-se enganados. Ficamos todos mal na fotografia. "E não habia nexexidade", diria o diácono Remédios, que não faz parte do clero dos tabuleiros. Por enquanto?
Curioso que as 2 pessoas mencionadas, aparentemente da mesma área política, e o próprio blogger não viverem em Tomar, o que como é óbvio não impede as suas análises.
ResponderEliminarQuanto ao blogger, tem a sua residência, paga os seus impostos, a água, a luz e o estacionamento em Tomar, onde costuma votar.
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