sábado, 15 de julho de 2023

Tabuleiros e outros eventos locais


António Freitas e Luís Ferreira 

dois tomarenses que tentam  melhorar Tomar



António Freitas é jornalista e promotor de excursões no país e no estrangeiro. Profissional de turismo, portanto. Tem denunciado no Facebook o que lhe parece que está mal na área do turismo em Tomar, e nesse âmbito defende melhorias substanciais no actual modelo organizativo dos tabuleiros. Entradas pagas nos eventos, instalação de melhores equipamentos de acolhimento e maior atenção ao turismo organizado, nomeadamente aos excursionistas, campistas e caravanistas.
Luis Ferreira, ex-vereador, ex-chefe de gabinete de Anabela Freitas e ex-dirigente do PS, tem vindo a escrever, igualmente no Facebook, que a Festa dos tabuleiros evoluiu muito favoravelmente, no sentido de se transformar num festival, assim fugindo do anterior ambiente soturno da padralhada, e promovendo o turismo de elevado poder de compra, nomeadamente aumentando a média de pernoitas em Tomar. Defende que o que conta é o retorno efectivo.
Ambos têm mantido um civilizado debate na citada rede social, o que se saúda por ser novidade em Tomar, e permitir finalmente aos tomarenses interessados perceber melhor o que lhes vai acontecendo. Leitor atento de ambos, estou mais de acordo com as posições de António Freitas, que se queixa designadamente das manifestas insuficiências no acolhimento aos excursionistas, ao campistas e aos caravanistas. Alega que percorreu durante a festa o terreno à volta da cidade, tendo contado cerca de 800 autocarros e mais de 1,500 caravanas, estacionados conforme calha, em geral bem longe do centro. Menciona a incapacidade das sucessivas comissões para estabelecerem, por exemplo,  locais de tomada e largada de passageiros na área do centro histórico, como acontece em Viana do Castelo, por exemplo.
Luís Ferreira, por seu lado, averba a seu favor o facto de ser o único defensor do modelo actual da festa, que tem exposto as suas posições de forma clara no Facebook. Alguns outros limitam-se a insultar quem não está sempre de acordo com o clero dos tabuleiros. Nunca se habituaram ao debate sereno da coisa pública. 
Infelizmente para ele, a posição que defende, de transformação da festa numa espécie de festival de dez dias, alegadamente mais atractivo para os turistas de maior poder de compra, que assim ficariam mais noites em Tomar, possibilitando maior retorno, mas também uma fuga ao carácter litúrgico de procissão católica do evento, não tem sustentação na realidade nabantina.
Tomar não é uma estância balnear, onde os veraneantes alugam por temporada de oito ou quinze dias, e por ali vão consumindo. Como vem acontecendo há longos anos na costa portuguesa, com destaque nesta região para a Nazaré, S. Pedro de Moel, S. Martinho do Porto ou Pedrógão. Em Tomar o turismo é sobretudo de índole cultural e no pobre estado actual de organização, em geral quando os visitantes ficam uma noite, já não é assim tão mau. Havia, é certo, o parque de campismo, dos melhores do país e com uma clientela nacional e estrangeira que ficava durante semanas, mas a Câmara encerrou-o, por razões nunca cabalmente explicadas. Se calhar tentando agradar aos hoteleiros tradicionais, convencidos de que sem campismo... Mas a clientela potencial não é a mesma.
Quanto à recorrente alegação de Luís Ferreira de que os visitantes festivaleiros ficam durante mais noites de hotel, a mesma cai pela base e passa à categoria de balela, quando se fala com gente do sector. Tomar a dianteira 3 conversou com um gestor hoteleiro local, o qual informou que, apesar da festa durar dez dias, conseguiu pouquíssimas reservas para 5 dias. A grande maioria foram reservas de duas pernoitas. Dado o estatuto da unidade em questão, não é crível que nas outras tenha sido diferente. Por conseguinte, o assumido anticlericalismo de Luís Ferreira, conhecido membro de uma loja maçónica, leva-o a embelezar demasiado o modelo que defende de Festa dos tabuleiros-Festival de eventos, para afastar a beatice.
Mas tanto António Freitas como Luís Ferreira, cujo tomarensismo é incontestável, estarão de acordo para reclamar uma séria reforma do modelo de organização dos tabuleiros, a fazer quanto antes, bem como a instalação de adequadas estruturas permanentes de acolhimento, à altura do nosso património, do continente e da época em que estamos. Já chega de adiamentos, tipo aeroporto de Lisboa.


1 comentário:

  1. Também é recorrente. Após a Festa aparece sempre gente a dizer que era preciso refletir sobre a forma como as coisas correram, o que esteve bem e o que seria preciso melhorar. Aparecem mesmo algumas pistas, como as que os protagonistas que o Rebelo citou, deixaram no Facebook.

    Sou mais radical e digo que todo o processo deve ser revisto, a única coisa que não é questionável é a cor dos fatos das raparigas, e mesmo isso...

    Pois bem, como é prática em Tomar, pouco se pode discutir. Não é oportuno:
    "ainda não se apresentaram as contas", "a cobertura do déficit terá de vir de outro orçamento", "a comissão ainda não reuniu", "ainda é muito cedo para a próxima", "já é muito tarde para se fazerem alterações", "não se pode modificar por causa do registo da UNESCO" (argumento miseravelmente usado para o nome das freguesias nas fitas e que colocou a Junceira outra vez em pé de guerra), "já passou, todos trabalharam muito e para a seguinte logo se verá".

    (Por cenas destas, temos a porcaria do PDM com que vamos viver.)

    Deste modo nunca se fizeram canais organizados para recolha de propostas de melhoria. Nem era preciso muito. Bastava um inquérito, não de respostas pré-definidas, mas com recolha de sugestões, quer em papel, quer por via informática.
    Alguém que olhasse para o que ficou escrito e o que tivesse cabimento seria para implementar.
    Podia ser uma tarefa coordenada pelo vereador com o pelouro da cultura e do turismo, com os chefes de departamento ou divisão respetivos e com os Mordomos que exerceram a função. 5 ou 6 pessoas, para evitar o plenário. Produziam um guia de orientações para a festa seguinte.

    Há sempre a tentação de se fazer um ajuste direto para alguém fazer este trabalho, mas não era preciso - já é tempo de se usarem recursos disponíveis.

    Logística, planeamento, financiamento, infraestruturas, sustentabilidade (quanto desperdício para quem anda sempre a encher a boca com o ambiente!) - tudo pode ser avaliado e eventualmente melhorado.

    Mas para quem tem suficiente auto satisfação, não é preciso mexer.
    A Festa é liiiiinda (não consigo reproduzir o esganiçado).

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