terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Uma das vertentes do problema

Com ligações familiares a Ferreira do Zêzere, a pensadora e professora universitária aposentada Maria Filomena Mónica visita Tomar com frequência. Desta vez, decidiu abordar, na secção que mantém no Correio da Manhã a triste, vergonhosa e muito perigosa situação do Aqueduto dos Pegões. Fê-lo com aquele poder de síntese que é apanágio das cabeças bem formadas, no caso em Oxford, o que não é pouca coisa. Numa frase lapidar que chega a ser cruel -Seis quilómetros e 58 arcos em ruínas. Sempre atento, apesar de labutar lá longe, José Gaio reproduziu prontamente, como sempre faz. Obrigado José Gaio. Sem a tua acção, a informação tomarense seria bem mais pobre. Os órgãos aqui sediados nunca estão para essas coisas. Falta de meios, dizem os seus responsáveis. O que é verdade. Sobretudo falta de vontade e de coragem.
Tal como no recente caso dos sanitários, é bem possível que esta crítica venha a provocar celeuma no microcosmo local, uma vez que provém de alguém de fora. Caso tivesse origem num escriba indígena, mais ninguém falaria no assunto. Assim são os tomarenses em geral. Aqueles cujo horizonte são as muralhas do castelo e os montes da Serra, porque vivem numa cova.

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Os Pegões altos, quando ainda forneciam água às hortas do Seminário das Missões.

Cabe realçar que esta severa mas justíssima crítica ocorre depois e apesar de repetidas acções de limpeza, levadas a cabo por voluntários, num raro caso nabantino de excelente empenhamento cívico, que cumpre louvar. Torna-se assim óbvio que essas iniciativas, apesar de muito úteis, foram insuficientes. Faltou-lhes uma sequência lógica. Um objectivo final. Exactamente a mesma carência de que padecem em geral os empreendimentos tomarenses. Termina-se uma fase e não se sabe como prosseguir, devido à ausência de planos estruturados e estruturantes.
No caso dos Pegões, a sua integração plena no conjunto monumental Castelo dos Templários/Convento de Cristo, do qual faz parte, com tudo o que daí tem de resultar. Principalmente a sua reabilitação indispensável e urgente, que restabeleça o eco-sistema que deixou de ter manutenção quando o Seminário das Missões foi expulso do Convento.
O que se compreende. Gerido pelo IGESPAR a partir do Palácio da Ajuda, em Lisboa, o imponente conjunto monumental nabantino apenas parece interessar àquela entidade estatal enquanto fornecedor de verbas, facultadas pela venda de ingressos, que em 2016 terão rendido cerca de milhão e meio de euros (295.000 visitantes x 6 euros - entradas gratuitas). Por isso, o Castelo e os Pegões não contam para nada, constituindo apenas uns empecilhos, que convém ignorar tanto quanto possível.
Perante tal situação, sabedora de que nessa área as coisas também não vão nada bem, nem para lá caminham, Anabela Freitas já anunciou a pretensão camarária de vir a partilhar a gestão do Convento. Compreende-se, por ser lógico. O palácio da Ajuda fica a mais de cem quilómetros e os Paços do Concelho a pouco mais de cem metros. Compreende-se também, porque milhão e meio de euros é muito dinheiro. Compreende-se finalmente, porque  é a autarquia  que tem de assegurar os acessos, o estacionamento e a iluminação exterior do monumento. Mas é o IGESPAR que arrecada os euros.
Há porém uma condicionante, que temo possa ser redibitória (causa de anulação, para os menos versados em vocabulário): Que credibilidade pode ter a pretensão camarária de cogerir o Convento, se a actual maioria relativa nem sequer se mostra capaz de gerir de forma aceitável os sanitários públicos, afinal uma mera gestão de merda?

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