Alguns leitores terão estranhado a reprodução de um texto de Luís Ferreira na mensagem anterior. Nada de extraordinário contudo. Quer se goste ou se deteste, Ferreira é o único político e eleito local que vai informando os eleitores através de um blogue. Há também o vereador Cristóvão, é verdade. Mas esse só publica quando o diabo se constipa, coisa bem rara, como se sabe.
Dialogar ou tentar dialogar com a população é agora não só necessário como indispensável, tal é a gravidade da situação tomarense, conforme já entendeu o agora deputado municipal independente Luís Ferreira. Donde a minha citação do detestado ex-chefe de gabinete, apesar disso e na minha opinião, um dos mais inteligentes e lúcidos políticos locais. Só peca por ser fraquinho em termos de ética e de recato.
Durante séculos, a cidade e o concelho dependeram totalmente da Ordem, primeiro dos Templários, depois de Cristo. A partir de 1834, consumadas a extinção das ordens religiosas e a confiscação dos seus bens, em Tomar sucederam-se os estrangeiros, com fábricas de tecidos e de papel, bem como uma considerável presença militar. Designadamente para facultar aos industriais de então alguma tranquilidade face ao numeroso proletariado nascente.
Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, já com as fábricas em crise, devido à manifesta obsolescência da respectiva gestão, dos equipamentos e da produção, foram as centenas de graduados militares que asseguraram o progresso da economia concelhia, centrada no comércio.
Embora os tomarenses disso se não dêem conta, o falhado Golpe das Caldas, em Março de 1974, está na origem da angustiante situação de crise que agora vivemos. Com efeito, foi uma coluna militar ida de Tomar, do Regimento de Infantaria 15, que cercou o então Regimento de Infantaria 5, onde se encontravam os militares revoltosos, exigiu e conseguiu a sua rendição, após o que procedeu à sua detenção.
Vitoriosos pouco depois, em 25 de Abril, os militares que haviam sido enxovalhados nas Caldas da Rainha pouco mais de um mês antes, nunca perdoaram aos seus camaradas de armas, idos de Tomar para os reprimir. Quarenta e dois anos passados, a consequência aí está. Já não há Quartel general, nem Hospital militar. Apenas uma unidade designada como regimento mas que, em termos de efectivos aquartelados, nem um batalhão chega a ser. O que não surpreende, por não ser caso único. Segundo o Expresso, o Regimento de Comandos está reduzido a 260 operacionais, menos de duas companhias. O Estado-patrão está cada vez mais na penúria. E sem dinheiro, resta reduzir despesas. Sobretudo com pessoal.
Extinta a Ordem, falidas as fábricas, idos os militares, com o Estado reduzindo progressivamente a sua presença, pela primeira vez na sua já longa história, Tomar está entregue aos tomarenses. Depende só de si própria. Que o mesmo é dizer, dos seus habitantes. Os quais, quer queiram quer não, estão confrontados com um angustiante dilema -ou mudam ou mudam-se.
Caso resolvam mudar, o que duvido, tendo em conta os antecedentes, (mas a esperança é sempre a última a morrer), terão antes de mais de se implicar fortemente na actividade política local, deixando de considerar implicitamente que se trata de algo sujo e vergonhoso, como tem sucedido até aqui. Só depois poderão em conjunto procurar um novo modelo de desenvolvimento local e regional. O turismo? Deixem-se de brincadeiras, que o assunto é sério!
Se, pelo contrário, insistirem no actual posicionamento obstinado, contra o que erradamente julgam ser os arautos da desgraça, atitude que me parece muito provável, pois os hábitos têm a vida dura, então o melhor será começar já a comprar as malas, enquanto não encarecem muito, devido à procura elevada. Isto depois de terem encontrado novo local de aterragem, coisa pouco fácil nos tempos que correm.
Infelizmente, após demasiados anos de deixa andar e outros erros políticos, a inevitável escolha de cada tomarense que não seja pensionista, é agora evidente: ou muda ou se muda. Já não restam outras hipóteses razoáveis, para quem ainda tenha esperança de singrar na vida e alento para isso.
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