segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Contextualizar, perspectivar, explicar

Nota prévia
O texto seguinte não é uma opinião. Antes uma análise, tendo por base dados oficiais, que qualquer leitor pode obter nas fontes indicadas, mediante algum trabalho suplementar. Não se trata portanto de dizer mal ou de dizer bem, para usar a linguagem reles de bastantes tomarenses. Apenas de mostrar as coisas como elas são. Por muito desagradáveis que possam ser para alguns. Não foi o autor que fabricou ou inventou os factos. 
Quando todos podem ver, bastando olhar para cima, que o céu está cinzento e chove, é um erro crasso insistir em que está azul e faz sol. Trata-se contudo de uma atitude muito comum entre os políticos tomarenses e entre os seus apoiantes. Chama-se negação da realidade e nunca deu bons resultados.

Procurando informar sempre mais e melhor, tarefa em que tem obtido algum êxito, que cumpre louvar, a Rádio Hertz difundiu uma prosa técnica da NERSANT, sobre investimento no distrito de Santarém. Essa matéria noticiosa, versando explicitamente sobre criação de empresas, pode ser lida aqui.
No essencial, é possível resumir o principal do que nela é dito num simples quadro classificativo:

                                              Cidade                 Empresas criadas em 2016

                                         1 - Santarém...........................177  
                                         2 - Ourém...............................116
                                         3 - Benavente.........................100
                                         4 - Torres Novas.......................95
                                         5 - Tomar..................................77
                                         6 - Almeirim e Salvaterra........59
                                         7 - Abrantes............................58

Numa primeira leitura, o quadro supra não revela grandes anormalidades. Tomar figura num honrado 5º lugar, duas posições acima de Abrantes. Todavia, após leitura mais atenta, não pode deixar de se constatar que criar menos 100 empresas que Santarém, e menos 39 que em Ourém, se não mostra um desastre económico, indica seguramente um preocupante marasmo nessa mesma área. Tanto mais que o tecido económico tomarense e o abrantino não são comparáveis. As empresas de Abrantes exportaram no ano passado quase sete vezes mais que as nabantinas, conforme se constata aqui. Trata-se portanto à partida de coisas diferentes, apesar de incluídas na mesma tabela.
Acresce que, na primeira metade do século XIX, Tomar foi a maior e a única notável vila do território actualmente designado por Ribatejo. E, entre 1844 e 1868, foi mesmo a única cidade do depois e agora distrito de Santarém. O que nos dá uma ideia da longa descida aos infernos da cidade do Nabão. Que ainda não terminou, podendo estar ainda longe do fim. Já foi a mais importante. É agora das menos importantes, conforme mostram os números. E aquela cuja decadência económica e populacional é mais evidente. Até quando? Boa pergunta.
Há de resto outros dados que permitem enquadrar o nosso declínio populacional, o qual resulta fundamentalmente de causas económicas. Sem emprego produtivo, com a função pública a abarrotar, há que calçar os patins e rolar rumo a outros horizontes empresarialmente mais dinâmicos. É o que tem acontecido, de acordo com os dados oficiais disponíveis:
  
 Cidade                     Eleitores inscritos em 2009       Em 2013           Em 2016

1 - Santarém----------------------54.488------------------53.418------------52.452-------------menos 2.036
2 - Ourém-------------------------43.907------------------43.331------------42.863-------------menos 1.044
3 - Benavente--------------------21.245------------------22.965------------23.408--------------mais   2.163
4 - Torres Novas-----------------32.841------------------32.546------------31.959--------------menos   882
5 - Tomar-------------------------38.724------------------37.310------------36.266--------------menos 2.458
7 - Abrantes----------------------36.871------------------35.075------------34.063--------------menos 2.808

Mostram estes dados  oficiais, que podem ser consultados aqui, (e depois trabalhados), a acentuada perda de eleitores inscritos em todos os concelhos da região considerada, excepto em Benavente.
Um quadro classificativo por ordem decrescente das perdas populacionais, mostra o seguinte:

                                  Cidade           Perda de eleitores entre 2009 e 2016
1 - Abrantes-------------------------2.808
2 - Tomar----------------------------2.458
3 - Santarém------------------------2.036
4 - Ourém---------------------------1.044
5 - Torres Novas---------------------882

Concluo, porém, com um balde de água fria, sobre aqueles que eventualmente possam consolar-se com a desgraça alheia, pensando em algo do género "Afinal Abrantes ainda está pior que Tomar". Desengane-se quem assim pensa. Sendo certo que, entre 2009 e 2016, Abrantes perdeu mais eleitores que Tomar, mantém-se a tal questão das exportações, enquanto o quadro a seguir mostra já outra realidade:

                        Cidade                  Perda de eleitores 2013-2016

                                                     1 - Tomar - PS/CDU------------------1.044
                                                     2 - Abrantes - PS----------------------1.012
                                                     3 - Santarém - PSD---------------------966
                                                     4 - Torres Novas - PS------------------587
                                                     5 - Ourém - PS--------------------------468

Donde resulta que o problema não é a cor política de quem lidera, nem a importância populacional da urbe, conforme evidencia o caso de Santarém. Apesar das suas diferenças óbvias, durante o mandato ainda em curso, todos os municípios constantes do quadro conseguiram estancar parcialmente a sangria populacional, menos o de Tomar, que subiu ao primeiro lugar da tabela. Porquê?
Contra factos, não há argumentos. Por isso se diz que os factos são obstinados. 

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