terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Verdade e mentiras convenientes

No texto Detestam o resultado procurei levar os leitores a entender que a verdade, por muito desagradável que possa ser, é sempre preferível à mentira, ou à fantasia, que vem a ser a mesma coisa, mas enfeitada. Já no anterior Contextualizar, perspectivar, explicar, procurara fazer o mesmo. Não é de modo algum uma tarefa fácil. Tanto para quem escreve como para quem lê. Foi por isso que, com satisfação, me deparei com a escrita de alguém, que consegue dizer praticamente o mesmo, mas muito melhor que eu.
Aqui vão dois excertos e no final, após a identificação do autor, a hiperligação para chegar ao texto completo. Boa leitura e oxalá!
"Mais ainda: Vale a pena continuar a tentar afirmar os factos, e a sua verdade, sabendo que, porventura, eles não têm muita importância, porque as pessoas preferem ser enganadas, desde que o engano as conforte nas suas pré-existentes convicções; ou será porque o apelo enganador é suficientemente forte, atraente e atractivo?... ...
... ... Nestas condições, pode dizer-se que a mentira é a nova verdade. As preferências dos cidadãos em democracia deixam de se basear em opções ou programas políticos assentes na realidade, para expressar alinhamentos ideológicos ou escolhas activadas pela emoção, por uma retórica vaga e bem-sonante, sem consideração pelos factos. E todo o esforço de afirmar a verdade estará condenado."

Paulo de Almeida Sande, Mentir é verdade, Observador, 24/01/2017

2 comentários:

  1. Convenhamos, Caro A. Rebelo, que o Observador não é o melhor exemplo para aferir a "verdade". Tem a sua verdade, é certo. Analisa os "factos" à luz da sua ideologia radical de direita, seleciona os factos, dá-lhes o conveniente tratamento. Ai a ideologia!... Sempre presente. Não há volta a dar. É a luta de classes. É a vida.

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    1. Continuo a pensar, se calhar contra a corrente, que a verdade factual não é de direita nem de esquerda nem do centro. É a verdade, ponto final. Infelizmente, o camarada Sócrates importou de SciencesPo Paris o conceito de "narrativa", que permite construir verdades diferentes da verdade nua e crua. Passa a ser apenas uma questão de ponto de vista e da forma de o contar. Não nos devemos por isso surpreender que agora tenha chegado a vez de Trump. Descontente com o pouco público a assistir à sua posse, quando comparado com a de Obama, conforme documentam as fotografias, mandou dizer que os jornalistas são uns mentirosos e que, pelo contrário, a assistência à sua tomada de posse foi a maior de sempre. Quando em resposta os jornalistas acusaram o porta-voz da Casa Branca de estar a difundir mentiras, um outro membro da equipa Trump, uma simpática senhora, encontrou a nova fórmula para rotular mentiras: "são factos alternativos", disse ela sem se rir. Por outras palavras, é apenas uma outra maneira de ver as coisas. Outra narrativa dos factos. Quem te mandou a ti, socialista Sócrates...

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