segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Os tomarenses e a crise

É para mim cada vez mais evidente que há em Tomar duas visões diferentes, praticamente opostas, da actual realidade económica concelhia. A esmagadora maioria da população, composta por pensionistas, funcionários públicos e uma pequena minoria de empregados, considera que vai tudo bem ou, no mínimo, menos mal, desde que não venham aí mais medidas ditas de austeridade. São os instalados ou rendeiros do sistema. Há depois o outro grupo, bem mais reduzido e muito mais jovem, composto por cidadãos que não têm emprego e também não o conseguem arranjar no concelho, por não haver investimentos criadores de emprego, nem condições para que venha a haver. São as vítimas da crise.
Sendo muito tomarense e estando à vista de todos, a grave e já prolongada situação de crise não é contudo um exclusivo nabantino, nem sequer português. Quem se interesse um pouco por estas aborrecidas questões de economia política, (muito menos excitantes que um bom desafio de futebol, por exemplo), sabe bem que os gráficos de médio-longo prazo, que mostram a evolução das várias economias locais, regionais, nacionais e/ou internacionais, são praticamente sempre tipo dentes de serra, em altos e baixos. Um pouco como os gráficos anuais das temperaturas nos países temperados. Com uma diferença fulcral. Enquanto nesses gráficos meteorológicos em Agosto o tempo é sempre bastante quente e seco, e em Dezembro sucede sempre o oposto, em economia as coisas não são assim tão pendulares, nem coisa que se pareça. Nunca se pode prever quando começa uma crise ou sequer quanto tempo vai durar. É esse o grande problema dos economistas e de Tomar.
Enquanto os  acomodados ou instalados, os tais rendeiros do sistema -entre os quais me incluo, conquanto não partilhe os seus pontos de vista dominantes- nada fazem, ou toleram que se faça, que possa vir a alterar a presente situação, numa atitude doentiamente conservadora e egoista, as vítimas da crise vão-se queixando e agindo praticamente em vão, por serem minoritários e em muitos casos inconscientes.
Mas, perguntarão alguns, com o clássico cinismo tomarista, fazer o quê? Que condições são essas, sem as quais os investidores criadores de empregos não vêm?
Conforme foi dito mais acima, as crises acontecem por todo o lado. Sucede contudo que a sua gravidade e duração podem ser maiores ou menores consoante a atitude dos governantes e dos governados envolvidos.

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O Parlamento britânico

Em Tomar, por exemplo, apesar da evidência da crise, há quem negue a sua existência, ou insinue que nada se pode fazer, porque isso lhe convém. A uns para manter o poder, a outros para evitar qualquer mudança. Há também e sobretudo quem não tenha arcaboiço intelectual suficiente para compreender o meio social em que vive, mas esteja convencido do contrário. São infelizmente muitos. Não admira por isso que nada se faça para tentar reverter a trágica situação presente. Para agir adequadamente, importaria antes de mais ter coragem e conhecer as causas do problema, o que não é de todo o caso. Mesmo e sobretudo no que se refere aos nossos eleitos, salvo uma ou outra excepção.
Inversamente, por essa Europa fora, governantes e técnicos especialistas vão tentando prever o que pode vir a acontecer, construindo cenários virtuais para o caso de... Eis um exemplo: Pragmático, como são em geral os anglo-saxónicos, o governa britânico já anunciou que, caso seja necessário, reduzirá os impostos e outros encargos dos empresários, como forma de os ajudar a ultrapassar a eventual crise provocada pelo Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia.
Reduzir impostos e outros encargos implica sempre uma de três hipóteses, ou uma mescla das três: encolher a despesa do Estado, aumentar os impostos dos cidadãos, agravar o défice das contas públicas.
Exactamente como em Tomar. Para criar condições favoráveis ao investimento, será necessário reduzir taxas e outros encargos, bem como acabar com a infernal burocracia autárquica. O que implica, neste caso, uma vez que autarquia não pode mexer directamente nos impostos dos cidadãos, reduzir as despesas com pessoal (cerca de 40% do orçamento) ou agravar as contas do Município, caso haja bancos que aceitem ir por aí.
Não há outro caminho e quanto mais se protelar pior. Porque, enquanto se mantiver a situação actual, os investidores continuarão a procurar municípios mais cooperantes. Com a água mais barata, sem derramas e sem dever esperar anos por uma reles autorização camarária, por exemplo...
E não adianta vir empolar os 42,5% de aumento das exportações tomarenses, entre 2013 e 2015. Conforme já foi demonstrado aqui, apesar desse progresso, que é naturalmente de louvar, também nessa matéria não passamos afinal de anões megalómanos.

anfrarebelo@gmail.com

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