quarta-feira, 24 de maio de 2023

 


Sondagem sobre a importância da Festa dos tabuleiros

A USUAL MANIA DAS GRANDEZAS

Mandaram-me o questionário de uma sondagem sobre a importância da Festa dos tabuleiros, ao qual já respondi, mas que me tem dado voltas à cabeça. É que, ao contrário do que poderão pensar os leitores, não gosto de "dizer mal". Mas como fazer, quando o documento em análise é mesmo de fraca qualidade? Faça favor de clicar no link seguinte e dê a sua opinião, respondendo ao questionário  se assim o entender: www.tinyurl.com/tabuleiros23
Se bem deduzi, o citado documento, encomendado por um consórcio IPT - CMT, que o mesmo é dizer Politécnico e Câmara, destina-se a integrar o processo de candidatura dos tabuleiros a património cultural imaterial da UNESCO. Mesmo não sendo sociólogo, frequentei em tempos, com aprovação final, três unidades de crédito sobre "questionários sociológicos". Sei portanto minimamente do que falo. E posso dizer sem hesitar que este questionário sobre a importância da Festa dos tabuleiros é infelizmente muito fraquinho.
Para não complicar inutilmente, dou só três exemplos, mas haverá muitos mais, se necessário. O primeiro, para alertar que no documento se promete confidencialidade e anonimato, quando afinal não há nenhuma garantia real, o que pode inibir os cidadãos solicitados e até suscitar dados pessoais falsos, para despistar. Numa terra pequena como Tomar, basta agrupar as respostas sobre a situação civil da ou do questionado, para se ficar a saber quem é.
Um exemplo, com os meus dados pessoais, tal como indicados no questionário:
Masculino, mais de 66 anos, reformado, viúvo, professor e Guia Intérprete de turismo, residente na freguesia urbana, agregado familiar de duas pessoas, despesa mensal 1500-2000 euros, rendimento mensal superior a 2 mil euros. Já viram quem é, ou querem também o nome e a fotografia?
A segunda falha do dito questionário é sobre a afluência à Festa dos tabuleiros. São dadas várias hipóteses, todas padecendo de evidente megalomania, e vontade de influenciar as respostas: Entre 0 e 500 mil pessoas, entre 500 mil e um milhão, entre um milhão e milhão e meio. Está-se mesmo a ver a "habilidade". Mesmo os leitores mais sensatos e comedidos são praticamente forçados a responder "entre 0 e 500 mil visitantes", por falta de melhor opção, como por exemplo 50 mil,  100 mil ou 200 mil visitantes. No final, os autores do processo de candidatura poderão escrever nas suas conclusões, respeitando a verdade, que houve uma maioria de respostas "entre zero e 500 mil visitantes", quando na realidade muitos gostariam de ter respondido "entre zero e 50 mil",  ou "entre 50 e100 mil", por exemplo.
A terceira asneira consiste em não ter considerado o fraco nível cultural tomarense, face a questões complexas como esta da sociologia dos tabuleiros. Numa população com uma reduzida percentagem de gente com formação superior, fará algum sentido questionar se a Festa do tabuleiros "Cria uma cultura turística local", ou "uma cultura turística regional" ?
Eu próprio, com sólida formação superior e profissional na área, bem como uma longa experiência laboral internacional, não sei definir muito bem o que é isso de "cultura turística local ou regional". Agora imaginem a maioria dos cidadãos questionados. Vão responder ao calhas, é o que é.
A futura candidatura dos tabuleiros, a apresentar na UNESCO, em Paris, vai ser minuciosamente escrutinada por representantes de vários países com assento no ICOMOS, os quais não estão nada habituados a brincar em serviço, e que depois vão aceitar ou recusar o dossier. 
Relendo o questionário, quer-me parecer que os seus patronos e os seus autores se esqueceram desse detalhe, que altera tudo. Porque a UNESCO - Paris não é de forma alguma a DGPC - Palácio da Ajuda, nem coisa parecida. Se fosse, nem eu me teria dado ao trabalho de escrever esta crónica, para suscitar eventuais correcções, que são indispensáveis, embora a maioria PS local possa achar que não. Afinal é esse o grande problema tomarense. Elegemos por três vezes seguidas um executivo de "achistas", para os quais a opinião alheia só conta quando é favorável. Se for desfavorável ´"é só má-língua".

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