quinta-feira, 18 de maio de 2023


Política económica

Cidade do Conhecimento e Cidade Templária 

dois mundos separados pela mesma língua

Um fã no palco, uma marcha imparável de sucessos e o show Chris Martin: como os Coldplay conquistaram Coimbra à primeira noite – Observador

Coimbra ostenta o título de cidade do conhecimento, por ser sede da mais antiga universidade do país, como Tomar se proclama cidade templária, porque a venerável ordem de cavalaria fundou o castelo inicial. Separadas por apenas 80 quilómetros e pela língua comum, comportam-se afinal como a irmã rica e a irmã pobre. Com um detalhe picante: a irmã rica, ou com a mania disso, não é Coimbra. Querem ver?
Segundo a informação nacional, foi um sucesso o primeiro dos quatro concertos dos Coldplay, no Estádio universitário de Coimbra (link e imagem supra). Apesar dos preços elevados dos bilhetes, houve lotação esgotada e a ASAE deteve sete pessoas por especulação na venda de entradas. Prevêem-se 200 mil espectadores pagantes, nos quatro concertos programados. Milhões de euros de receita.
Na Cidade templária, 80 quilómetros mais abaixo, estão previstos não quatro, mas dez concertos, durante a Festa dos tabuleiros. Todos no antigo Rossio da vila, entretanto avacalhado pelo novo-riquismo reinante, No estádio seria demasiado popularucho. Ainda se ignora, a mês e meio de distância, quantos espectadores haverá, mas serão certamente muitos. É tudo à borla,  de forma que nunca saberemos ao certo se serão 5 mil, se 50 mil, se 500 mil. É à vontade do freguês. Decerto como no Congresso da sopa: "Cerca de..." "Apontamos para..."
Uma coisa é gerir uma Câmara pobre, como a de Coimbra -Cidade do Conhecimento, o que implica produzir valor acrescentado, sem onerar o orçamento municipal. Outra coisa, bem diferente, é liderar uma Câmara rica como Tomar -Cidade Templária, onde se pode gastar à vontade, porque o orçamento de Estado cobre tudo. Até as asneiras de alguns autarcas. Gente rica é outra coisa.
Mas tenho a impressão que em Coimbra não há cortes no fornecimento de água, não há falta de médicos, o Registo civil não tem falta de funcionários, nem há falta de limpeza urbana, ou de WCs públicos a funcionar. E o Politécnico local tem muitos alunos, apesar da Universidade. Andarão a gastar centenas de milhares de euros, para tentar inscrever as Festas da Rainha Santa no Património imaterial da UNESCO? Não consta. 
Deve ser do clima: modéstia, persistência e coragem em Coimbra, euforia, exaltação, ilusão e esbanjamento em Tomar. E depois ainda têm a lata de afirmar que é só má língua. Era bom era!


3 comentários:

  1. "Coimbra -Cidade do Conhecimento, o que implica produzir valor acrescentado, sem onerar o orçamento municipal."

    Infelizmente, desta vez não é bem assim:

    Oneram e oneram bem. Sem necessidade, com aquelas receitas de bilheteira.
    440 mil euros pagaram os desgraçados dos contribuintes coimbrões, como costumo dizer, incluindo os que não gostam de Coldplay e os surdos.
    O mal é generalizado e fico cada vez mais com a ideia de que o saque está instalado nas autarquias.

    https://observador.pt/2023/04/08/camara-de-coimbra-vai-votar-apoio-de-440-mil-euros-a-everything-is-new-pelos-concertos-dos-coldplay/

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    1. Se no final dos 4 concertos previstos, as receitas superarem largamente os encargos da autarquia, os 440 mil euros terão sido um investimento e não uma despesa. Salvo se a organização respectiva é privada e se tratou de um subsídio para angariar votos e boas vontades, à moda de Tomar, como parece resultar do link que indica.

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  2. Lida a peça da Observador, concluí que se trata de outro mundo- o dos grandes eventos à escala internacional, que dão nome à cidade que os acolhe. Como o Websummit em Lisboa, ou as JMJ. Pouco ou nada a ver portanto com os provincianos eventos nabantinos, com entrada franca. Mesmo se os 440 mil euros de subsídio de Coimbra são um exagero, os autarcas vão justificar-se, dizendo que se não aprovassem, os concertos iriam para outra cidade, com os inerentes prejuízos.

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