Parte da fachada poente do Coro alto manuelino do Convento de Cristo. Os botaréus, de que se fala na crónica infra, são aquelas partes circulares de ambos os lados, à esquerda com anjos, à direita com D. Manuel I sucessivamente como duque de Beja, mestre da Ordem de Cristo, rei e Imperador.
Nos tabuleiros, o espaço da estatuária é o dos pães, enquanto os troncos de coral deram lugar a fiadas de flores, naturais ou de papel.
Tabuleiros tradicionais
Aplausos para o pessoal de Carregueiros! Todos gente porreira!
Andava ansioso, buscando uma ocasião para finalmente "dizer bem", louvar algo, apoiar alguma coisa na minha amada terra. E ela aí está, a tal ocasião -A festa dos tabuleiros em Carregueiros, cujo desfile é hoje, 28 de Maio. Realização modesta, quando comparada com a irmã camarária, porém autêntica porque legítima e anual. Como as colheitas. Pouco ou nada a ver com a "tradição Santos Simões - Estado Novo".
Vão desfilar 40 tabuleiros, todos feitos localmente, em parte pelas suas portadoras, e enfeitados com flores naturais, porque seria um ultraje enfeitar com flores de papel, quando as fábricas tomarenses que havia fecharam todas, e muitos habitantes são os antigos operários papeleiros, ou seus descendentes. Autenticidade portanto,
Mas também legitimidade. Os carregueirenses são todos gente porreira, porque habitam na antiga povoação de São Miguel de Porrais, onde se preparavam e vendiam muitas porras, cajados para defesa pessoal e para o então popular jogo do pau. Aonde isso já vai! Ainda hoje se diz em Tomar que "uma porra é um pau em Espanha." E também era em Portugal, quando as pauladas eram literais e não figuradas, como agora.
E vieram então forçados para S. Miguel de Porrais, cerca de 1530, expulsos pela Ordem de Cristo do Vale de S. Martinho, onde habitavam havia séculos. Ali frente à fachada poente do coro manuelino e da sua imponente janela, onde agora está o chamado Convento novo, a parte renascença do Convento de Cristo (Claustros Principal, de Santa Bárbara, Hospedaria, Micha, Corvos e Necessárias).
Têm por isso legitimidade os tabuleiros de Carregueiros porque, ao contrário do que o nome indica (um tabuleiro é uma coisa plana e não vertical), são reduções à escala dos botaréus da fachada poente do Coro manuelino. Exatamente aquilo que os seus antepassados viam quando habitavam o Vale de S. Martinho, e lhes serviu de exemplo para alterar a forma primitiva das fogaças de oferenda -os tais tabuleiros dos primórdios.
Aplausos portanto para o pessoal de Carregueiros. Todos gente porreira, que não abdica das suas tradições, afincadamente, mas também com realismo, rigor e modéstia numa época de triunfalismo bacoco, à custa do erário público.
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