domingo, 21 de maio de 2023

Imagem do amigo e ilustre tomarense Carlos Piedade Silva, com os agradecimentos de TAD3.

Evolução social/Animação cultural

Noite de fados 
no outrora maltratado 
panteão templário de Santa Maria dos Olivais

Quem houvera de dizer, aqui há uns anos, que o título acima seria possível em Tomar? Que a Igreja nabantina abriria as portas dos templos a todas as formas de animação cultural consideradas canónicas? Pois foi o que acaba de acontecer. Houve noite de fados em Santa Maria, e dizem os que assistiram que foi uma maravilha.
A sessão foi tão inesperada que a "grande" comunicação local ainda nada escreveu sobre o assunto. Um espectáculo para recolher fundos para a Caritas, a instituição de solidariedade social dependente da igreja católica, o que explica em boa parte a escolha do local, pouco usual para tal fim.
Anteriormente, nunca a paróquia tomarense fora além das actuações do coro Canto Firme, e pouco mais. Maneira severa de interpretar o estatuto dos templos propriedade do Estado, que  a igreja católica pode utilizar livremente, o que  leva por vezes a alguns excessos, traduzidos em proibições disto e daquilo. Abusos.
Desta vez a Vigararia de Tomar deu mostras de evolução e ainda bem, pois ganhamos todos. Mas nem sempre assim foi e as anteriores restrições tiveram algum apoio entre os crentes. Para melhor entendimento de tal situação, cabe recordar um episódio com alguns anos, passado no concelho.
Determinada igreja paroquial, não pertencente ao Estado, sofreu um grave incêndio e houve necessidade de a restaurar. O pároco desenvolveu uma acção notável de recolha de fundos, a qual incluiu diversas actividades dentro do próprio templo, incluindo jogos de cartas e outros.
Alguns fiéis ficaram agastados com tal estado de coisas e resolveram manifestar a sua indignação junto do pároco. Surpreendido, este disse não perceber de todo a reclamação, por não entender o que estava afinal em causa. Os paroquianos foram então mais claros, clamando que era uma vergonha haver jogatanas dentro da igreja. -Não percebo porquê, rematou o sacerdote. -Porque é um local sagrado, senhor padre! retorquiram os paroquianos. -Só quando eu lá estou! rematou o pároco.
Chocados com a resposta, com a qual nem todos concordaram, os paroquianos retiraram-se, mas afinal o padre estava cheio de razão, e a respeitar a doutrina oficial da Igreja. Durante a sua formação nos seminários, ensinam-lhes na Teologia que, enquanto sacerdotes, são representantes de Deus na terra. Por conseguinte, o pároco disse bem -a igreja só é território sagrado quando no seu interior está um representante de Deus.
Em conclusão, a sessão de fados em Santa Maria foi um sucesso e ainda bem que aconteceu, constituindo uma feliz lufada de ar fresco na igreja local. Quanto à sacralidade do templo panteão templário, mesmo que o vigário ou um seu representante tenham assistido ao espectáculo, é óbvio que não estavam nessa qualidade, mas apenas como espectadores encantados com o que ouviam.

ADENDA ÀS 15H02 de 21/05/2023

Segundo informação no Facebook da leitora Ana Paula Pereira, que agradecemos, o espectáculo  foi para recolher fundos a favor do CIRE -Centro Infantil de Recuperação, tendo em vista a construção de  um lar para utentes daquela instituição, e nada teve a ver com a CARITAS. A não ser talvez, acrescento eu, o facto de Célia Bonet, anterior dirigente da CARITAS TOMAR, ser agora da direcção do CIRE, se não estou enganado.


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