segunda-feira, 22 de maio de 2023


Desporto

Há vitórias e vitórias

É de euforia, de exaltação até, o ambiente desportivo em Tomar. E o caso não é para menos. Num curto lapso de tempo aconteceram a vitória de Sporting de Tomar, na Taça de Portugal, e agora a vitória do rival União, no Campeonato distrital de futebol. Cumpre naturalmente parabenizar ambos e festejar, porém sem exageros, nem ilusões excessivas. Mesmo contrariando a alegria da Filipinha, que naturalmente saltou sobre a ocasião, para distribuir medalhas e lembrar que com esta maioria PS é sempre a ganhar. 
Mesmo quem pouco tempo dedique à análise do futebol, ou do desporto em geral, não pode deixar de notar a triste realidade. No escalão máximo -a 1ª Liga- há duas equipas de Lisboa, no próximo ano duas do Algarve, e as restantes no Norte. Episodicamente, lá aparece uma equipa outsider, que passados alguns anos regressa às humildes origens, sempre por falta de base económica de sustentação. Já aconteceu ao Sporting da Covilhã, ao União de Leiria, ao Campomaiorense, à Académica de Coimbra, ao Chaves, e por aí adiante. Até ao nosso União de Tomar, que se aguentou menos de seis anos na então primeira divisão, graças aos esforços conjugados de empresários nabantinos que já morreram, e de empresas privadas que  entretanto já desapareceram.
É neste quadro pouco animador que o União acaba de vencer o Campeonato distrital, que lhe dá acesso à 3ª divisão nacional. Na última jornada venceu o Mação, clube de um pequeno concelho interior com apenas 5.900 eleitores, cinco vezes menos que Tomar, e ficou empatado em pontos com o Amiense, de Amiais de baixo, concelho de Santarém, uma simples freguesia com 1.470 eleitores. Uma Santa Cita escalabitana. Trata-se portanto de uma vitória escassa, num escalão modesto, a pedir muito bom-senso e muita cautela.
A participação no nacional de 3ª divisão vai exigir mais recursos humanos e sobretudo económicos, que não se vê muito bem de onde possam vir. A não ser talvez da autarquia, mas o orçamento municipal está cada vez mais limitado, dado o aumento de pessoal e o alargamento do quadro de subsidiados. A indústria do subsídio é de longe a maior do concelho.
Já o Sporting de Tomar obteve uma vitória a outro nível, no escalão máximo do hóquei em patins nacional, mas nesta modalidade tudo é mais pequeno, a começar pelas equipas, que alinham apenas cinco elementos. Mesmo assim, já apareceu um responsável sportinguista a dizer que agora a responsabilidade é maior e exige mais apoios. De quem? De onde?
O Sporting de Tomar, tem sido amparado em termos económicos pelo Politécnico e pela Câmara. Nada contra, mas trata-se de uma situação algo insólita em Portugal -um clube desportivo mantido sobretudo pelo Estado, via orçamento municipal e do Politécnico. Tal como acontecia na desaparecida RDA no século passado, cujos atletas eram célebres a nível mundial, apesar de o regime ter colapsado por falta de base económica viável.
No caso do politécnico tomarense, a situação é mesmo assaz curiosa. Por um lado, aquele estabelecimento de ensino superior já teve, em anos anteriores, sérias dificuldades orçamentais, que forçaram o governo a injectar milhões suplementares. Por outro lado, subsidia de facto uma equipa de hóquei em patins, quando afinal nem sequer oferece uma opção desportiva no elenco dos seus cursos.
Alegarão algumas "genovevas" locais que as maiores universidades americanas também patrocinam e até possuem equipas desportivas famosas. É verdade, sim senhor. Mas as universidades americanas são privadas, e cada uma pode fazer o que achar melhor, pois não têm de prestar contas aos eleitores. Apenas aos seus accionistas. É outro mundo. Nada de confundir lagartixas com jacarés, que são répteis bem diferentes.



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