domingo, 31 de julho de 2022

 





O trabalho dos funcionários públicos

e a evolução da recolha do lixo

Parece ter causado alguma celeuma a frase, incluída na crónica anterior, segundo a qual os funcionários públicos, neste caso municipais, "limitam-se a fazer o menos possível, quando sem profissão técnica definida". Não surpreende a indignação dos visados. É bem sabido que a verdade raramente é oportuna. Ainda recentemente um autarca da região se queixou do mesmo mal. O caso foi noticiado n'O Mirante, e tem sido um problema sério com funcionários municipais que se sentem ofendidos na sua dignidade.

Para que dúvidas não restem, esclarece-se que há funcionários públicos trabalhando arduamente, como por exemplo médicos, professores, enfermeiros, ou bombeiros, mas infelizmente a maioria dos outros não se distingue nem pelas tarefas quotidianas, nem pela assiduidade. É um facto. Só não sabe quem nunca foi funcionário, e o autor desta prosa foi professor durante três décadas, e chefe de divisão na autarquia tomarense, admitido por concurso público, ao qual se apresentaram sete candidatos.

Não se trata porém de acusar funcionários públicos de pouco apego ao trabalho. Apenas de tentar perceber algumas decisões das autarquias, que a população não compreende e ninguém se dá  ao trabalho de lhe explicar como deve ser.

Há uma incumbência municipal cuja evolução mostra claramente a tendência "quanto menos trabalho melhor", que infelizmente sempre imperou e impera na função pública. Trata-se da recolha do lixo, agora designado por "resíduos sólidos",  para cujo tratamento até se paga uma taxa específica.

Ao princípio, até aos anos 70 do século passado, havia umas carroças equipadas com uma campaínha, que iam passando porta a porta e despejando os baldes do lixo (ver imagem supra). Era trabalhoso e demorado, sem dúvida, porém bastante prático para a população em geral. Bastava abrir a porta e entregar o balde cheio de lixo.

Depois vieram os contentores cilíndricos, em plástico, protegidos por uma argola metálica fixada no chão, colocados à esquina de cada rua. Desapareceu a tracção animal e passou-se a veiculos a motor, com caixa de carga adaptada.

Foi sol de pouca dura. Algum tempo depois apareceram os contentores grandes, também em plástico, mas já com rodas, colocados só nalguns locais, onde podiam chegar os camiões especialmente equipados para a recolha dos detritos. (ver imagens supra)

Finalmente, por agora, até os contentores grandes estão a desaparecer, substituídos por instalações subterrâneas de recolha de lixo, facilmente acessíveis para os camiões modernos, (ver imagem). A justificação é sempre a mesma: aumentar a capacidade, evitar os maus cheiros e facilitar a separação de resíduos sólídos, bem como a recolha de óleos usados.

Convém contudo perguntar: Quem tem beneficiado com as sucessivas alterações dos locais de deposição e recolha, cada vez mais afastados da residência de cada cidadão? Os contribuintes? Ou os funcionários públicos da recolha, com tarefas cada vez mais mecanizadas e rápidas?

Aproveitem, caros compatriotas funcionários. É uma profissão tão digna e necessária como qualquer outra. Mas por favor não exagerem. Na função pública trabalha-se em geral pouco e mal. É triste, mas verídico. E a verdade é como o azeite na água. Acaba sempre por vir à superfície.

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