terça-feira, 19 de julho de 2022

Albufeira do Cabril

Tejo Ambiente

Uma empresa IM condenada à nascença

São agora conhecidas algumas das anomalias ligadas ao nascimento da Tejo Ambiente, uma empresa intermunicipal agrupando seis concelhos. Dois grandes (Ourém e Tomar) e quatro pequenos  (Barquinha, Ferreira do Zézere, Mação e Sardoal). Há um pouco de tudo. Falta de  cuidado, falta de realismo, falta de honestidade, falta de ideias claras, e por aí adiante.

Algumas das consequências desastrosas desse nascimento acidentado, e com múltiplas anomalias, são  agora já conhecidas. Cifram-se em milhões de euros e mexem com os bolsos dos consumidores, que vão ter de arcar, nesta fase, com mais 23% na fatura. Faltam porém outras, algumas das quais tão evidentes que até espanta não terem sido antes tomadas em consideração.

Uma delas, a principal, é a futura viabilidade do modelo de negócio da Tejo Ambiente, que embora certificado por dois EVEF, (que valem o que valem, como já se constatou com o primeiro...) não parece abarcar a inevitável evolução do sector, fortemente condicionado pelo inevitável agravamento climático.

Ao contrário da electricidade, a água não se produz em quantidade, nem se fabrica. Capta-se. Por conseguinte,  ou há nascentes e cursos de água, ou não. No caso, os seis concelhos da Tejo Ambiente são abastecidos sobretudo a partir da barragem do Castelo de Bode, que azar dos azares abastece igualmente a grande Lisboa. Origem comum: as águas do Zêzere.

Acontece ser já do domínio público que o nível da água na albufeira em questão está abaixo do habitual, tal como se sabe que há referências a eventuais transvases da água da barragem do Cabril, a montante do Castelo do Bode, para o Tejo. Com ou sem esses transvases, e tendo em conta a situação presente, alguém minimamente informado duvida que, quando a água do Castelo do Bode começar a ser insuficiente para abastecer regularmente a capital, Ourém, Tomar, Ferreira e Barquinha, por exemplo,  vão conhecer o racionamento hídrico? Como sempre, primeiro vão estar a capital do país e as casas dos senhores que nos governam. Depois os outros. O povo. Não tenhamos ilusões.

-Mas a água, temo-la aqui à porta, dirão os optimistas do costume. Pois temos. Mas mesmo assim, a EPAL, ou uma das suas associadas, conseguiu assinar um contrato "em alta" com os ex-SMAS-Tomar, nos termos do qual, a água "em alta" é mais cara em Tomar, que "em baixa" em Lisboa e arredores, à saída das torneiras domésticas. E quem fez e faz isto, fará decerto bem pior. É só haver ocasião para tanto.

Nestas condições, que vão agravar-se mais tarde ou mais cedo, quer queiramos ou não, que adianta andar a levar ao colo uma criança inviável, e nascida com tantos problemas, como a Tejo Ambiente? Será muito mais fácil dissolver a EIM e voltar à estaca zero, retomando cada município os seus pertences, e assumindo a sua parte nas dívidas entretanto contraídas. Depois, cada SMAS poderá recalibrar o seu modelo de negócio, livre de servidões e  desligando-se progressivamente, ou não, da EPAL e subsidiárias, para passar a abastecer-se "em alta" no vale do Nabão (Agroal, Mendacha, Fonte Quente), cuja água vai agora direitinha para o Tejo, via Zézere. É mais caro, por causa do calcáreo? É, sim senhor. Mas não vai haver outra solução tão prática, que nos colocará fora da dependência de Lisboa. E quanto mais tarde, pior maré. A não ser que em Lisboa já estejam a pensar numa central de dessalinização da água do mar, ali na Nazaré, por exemplo. Mas em Cascais era mais perto...

Resta o problema dos pequenos concelhos de Mação e Sardoal, cujas redes de águas e saneamento não confinam com nenhum dos outros concelhos da Tejo Ambiente. Caber-lhes-à portanto, uma vez dissolvida a Tejo Ambiente, procurar novos parceiros mais consentâneos com a realidade no terreno, optando depois pelos melhores fornecedores "em alta", uma vez tudo devidamente ponderado, coisa que aparentemente não terá acontecido desta vez...

Face à inevitabilidade do racionamento, quando faltar água para abastecer Lisboa, o que vai acontecer maios tarde ou mais cedo, não dissolver a Tejo Ambiente quanto antes, vai transformá-la pouco a pouco numa miniatura do aeroporto de Lisboa, cuja mudança está em estudo há 50 anos e até agora nada. Por conseguinte, se não queremos viver com o racionamento, vai sendo tempo de agir. Depois não venham com a treta "ninguém avisou!"


2 comentários:

  1. No artigo de opinião está a dar como certa a falta de água na barragem do castelo de bode e o consequente racionamento da mesma.
    A ciência todos sabemos estar muito avançada, mas daí a concluir-se que nos próximos invernos não irá chover parece-me algo exagerado.
    Na questão da delicada situação da Tejo Ambiente concordo, e acho que deveria haver responsabilização de quem produziu o primeiro EVEF e quiçá dos técnicos superiores da Tejo ambiente que deram o aval ao mesmo.
    Quanto ao Poder politico esse nunca é responsável por nada neste País, o contribuinte cá está para pagar tudo e sem reclamar.

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  2. Limitei-me a escrever aquilo que penso, tendo em conta os dados disponíveis dos últimos 10 anos na Europa do sul: aumento das temperaturas, redução da pluviosidade e por conseguinte do caudal dos rios, aumento do consumo de água nos grandes meios urbanos. Por este caminho...
    Tem contudo razão num aspecto. Ninguém pode garantir que nos próximos invernos não irá chover. Oxalá que chova "como vaca que mija", a expressão francesa homóloga da nossa "chover a cântaros".
    Ainda assim, aconselha a prudência que neste caso do abastecimento de água, como nos outros, ninguém fique "a ver se chove".

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