quinta-feira, 14 de julho de 2022

 

Foto ilustrativa, de edição anterior, a mostrar que a bandalheira não é coisa de agora.

BALANÇO DA TEMPLEIRADA

Estava aguardando os dois semanários, para compor um texto-balanço da Festa Templária, que me pareceu uma Templeirada, mas mudei de opinião. Já tenho pontos de vista suficientes, e quase todos coincidentes. O primeiro e principal é o da própria templária responsável em chefe, a senhora vereadora Fernandes. 

Disse ela à Rádio Hertz que "Fazemos um saldo muito positivo". Atente-se no plural majestático, tipo "nós os da realeza", que tanto pode significar "nós a marquesa dos eventos", como "nós, eu e os meus colegas da maioria", ou ainda "nós, eu e os  meus funcionários". Em qualquer caso, fica sempre a dúvida: saldo muito positivo, baseado em que factos verificáveis? Blá-blá-blá já não basta, senhora vereadora. Já lá vai o tempo...

Certo é que, na mesma peça da vereadora, a Hertz escreveu que o Mouchão "esteve "pelas costuras" durante o fim de semana", opinião que nem todos partilham. E a respeitável autarca aproveitou o ensejo para agradecer calorosamente aos funcionários municipais, pelo seu esforço. Que esforço? A festa não foi comprada "pronta a usar", a uma empresa de Santa Maria da Feira, por 80 mil euros? Refere-se à venda de bilhetes? Agora com a informática, "No hay para tanto", diriam os espanhóis.

Do que vi e li, esta edição da Festa templária foi um fracasso relativo, bastante aquém das edições anteriores. Exactamente como aconteceu com a última edição das estátuas vivas, em relação à penúltima. Eis um rol incompleto dos reparos que ouvi ou li, sem grande esforço de busca, nem preocupações de escalonamento.

A ornamentação em geral já conhecera melhores dias. Era pouca e  com um ar usado, tipo pindérico. Tal e qual como a música ambiente, mais para o enjoativo, embora não tanto como em anos anteriores. O cortejo inaugural foi pobre e com um  ritmo pouco adequado. Tinha poucos cavaleiros, tratando-se da festa de uma ordem de cavalaria. E a abertura com os eleitos vestidos "à época" é fora de propósito. Tratou-se de uma festa popular evocativa e não de uma arruada de campanha eleitoral, embora parecesse o contrário. As aparências iludem.

O "jantar do povo" e o "jantar real" foram duas realizações para esquecer, embora por razões diferentes. Quem conheça  um pouco da realidade da Idade média, que a templeirada pretendeu relembrar, sabe que então os únicos "jantares do povo" eram as raras e gratuitas "sopas do espírito santo", como ainda ocorre  nos Açores. O resto era fome e mais fome. De forma que, tentar em 2022 vender um "jantar do povo" quando há também um "jantar real", só podia mesmo correr mal e correu.

Por razões bem diferentes, o "jantar real" causou reclamações e protestos. Houve à partida um erro crasso na designação. Podia ser um jantar dos Cavaleiros, um jantar da Ordem, um jantar dos Comendadores ou um jantar do Mestre. Nunca um jantar real, que o rei ou a rainha nunca jantariam publicamente numa casa templária. Era contra os usos da época. Os templários eram os "pobres cavaleiros de Cristo", pouco ou nada dados a ostentações. Cada qual nos seus domínios. A agravar as coisas, aquele refeitório conventual foi feito para os frades sucessores dos extintos cavaleiros de Cristo, por sua vez herdeiros dos templários. E um jantar real num refeitório conventual de frades, valha-nos Deus. Cada coisa no seu sítio!

Agravando a situação, o jantar foi caro (mais de 30 euros/pessoa) e a comida não esteve à altura das circunstâncias, tendo sido pouco adequada, e assim gorado as expectativas de muitos convivas, segundo várias testemunhas. O mal está feito. Falta agora conhecer as respectivas contas, e saber quem arrecadou o quê. Tardará muito?

Tomar a dianteira 3 ignora quem tinha a missão de promover a Festa templária, ela própria alegadamente para promover Tomar, segundo a autarquia. Fosse quem fosse, falhou completamente. Não veio nenhuma televisão, nem nenhum jornal de âmbito nacional, pelo que praticamente não houve difusão prévia nem cobertura noticiosa nacional, antes durante ou depois. A rever com urgência.

Nitidamente com pouca afluência de público, o que pode explicar-se parcialmente pelas temperaturas elevadas e pelo espetáculo inesperado na Praça de Toiros, é capaz de ter razão aquele espectador tomarense que nos confessou: "Esta festa deste ano, de 80 mil euros, não valeu grande coisa. Foi muito pobrezinha. Para depois dos tabuleiros é melhor comprarem uma de 160 ou 200 mil euros, que devem ser mais luxuosas e mais bem feitas." Serão mesmo? 

Não se mencionou o excesso de presenças femininas, na festa com o nome de uma ordem de cavaleiros que nunca teve mulheres, nem os templários de sapatilhas, de relógio de pulso ou com óculos de sol, que também havia, porque não valia a pena "bater mais na cèguinha". E seria desumano. 

1 comentário:

  1. Recomenda-se a leitura desta notícia n'O Mirante, a título de comparação. Para a Câmara foi tudo uma maravilha. O costume:
    https://omirante.pt/sociedade/festa-templaria-em-tomar-foi-um-sucesso/

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