terça-feira, 26 de julho de 2022


Direito à informação

RETROCESSO CÍVICO EM TOMAR

O escriba destas linhas deslocou-se à biblioteca municipal para aí confirmar, ou desmentir, uma hipótese antes formulada: Há em Tomar, par além da fuga da população, evidente retrocesso cívico, nomeadamente na área do direito e da liberdade de informação. Trata-se de um aparente paradoxo, que a consulta rápida de jornais locais dos anos 60 permitiu confirmar e até alargar.

Em 1964, ano das edições de Cidade de Tomar e d'O Templário que foram consultadas, havia indiscutivelmente mais notícias, mais críticas, mais opinião, mais análises e mais participação cívica nos jornais locais, apesar da censura, da polícia política, das prisões arbitrárias e assim.

Quase 60 anos mais tarde, há liberdade de informação, desapareceu a censura, não existe mais polícia política, e aumentaram os eventuais suportes informativos, com a extraordinária expansão da net. E no entanto... Os dois semanários consultados são agora uma pálida versão daquilo que já foram. Basta comparar. Quanto aos  novos suportes, é melhor não alargar, porque todos sabemos do que estamos a falar. Há vergonhas recentes que é melhor calar, a bem da salubridade pública. E participações cívicas que melhor fora nem terem existido, de tão reles e malcheirosas que se revelaram.

Porquê tal paradoxo? Um concelho governado pelo PS há 10 anos, com menos liberdade informativa e menos participação cívica?! Não direi que foi intencional. Ou que alguém da maioria socialista proibiu expressamente os órgãos locais de informação de publicarem críticas, ou notícias menos favoráveis. Contudo, o simples facto de, em paralelo, subsidiarem generosamente a media local e regional, enquanto vão alardeando sectarismo, alergia à crítica e intolerância, deu os frutos que tinha que dar inevitavelmente. Os vários intervenientes receptores são assaz inteligentes para recordar o velho dito popular segundo o qual "nunca se deve cuspir na sopa, ou morder na mão que nos dá de comer". Vai daí, estamos neste estado. "O calado meteu-se no comboio, foi a Lisboa e veio, e não pagou nada."

Há dúvidas? Pois consultem-se as notícias sobre o rescaldo da Festa templária deste ano, por exemplo. Excluindo as declarações da vereadora, na Rádio Hertz, e dois textos críticos no Tomar a dianteira, que mais se publicou? Os outros órgãos informativos não viram nada? Não souberam de nada? Porquê então o silêncio, numa sociedade com as liberdades fundamentais, entre as quais a de informação, garantidas na Lei fundamental do país?

É uso dizer-se, citando um célebre dramaturgo inglês, que algo está podre no reino da Dinamarca, lá para a Escandinávia. Tenho a impressão que não é só no reino da Dinamarca. E que podridão e emigração, anda tudo ligado. Fica aqui escrito, para memória futura.

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