As escolas de Tomar e os rankings nacionais
Aqui há dias, no Tomar na rede, (ou terá sido nesse alfobre de génios chamado Face?) fui asperamente repreendido por ter ousado começar uma crónica afirmando ser arriscado abordar dois assuntos complexos num mesmo escrito, devido às dificuldades de interpretação de texto de muitos leitores. Foi um drama! O anónimo contraditor, sem nunca o escrever, foi sustentando de modo implícito essas balelas do tipo "todos são igualmente inteligentes", "todos aprendem por igual", "todos lêem e interpretam textos em português sem dificuldade". Restos da era do facilitismo, que ainda por aí andam, infelizmente.
Foram agora conhecidos os resultados dos exames nacionais, excelente ocasião para comparar as várias escolas do país, em igualdade de circunstâncias. No país que deu ao mundo o estilo manuelino, e a sua ornamentação rebuscada, não se estranha que, a partir dos mesmos resultados, cada órgão informativo publique coisas ligeiramente diferentes. Os resultados que seguem foram em grande parte copiados do jornal digital OBSERVADOR. Os afastamentos de notas são cálculos pessoais, feitos a partir das notas publicadas.
Um jornalista local achou conveniente noticiar que a Escola Secundária Santa Maria do Olival foi terceira no distrito, sem contar as privadas, e 4ª contando-as. Sendo totalmente verídico, parece-me mais elucidativo dizer que Santa Maria ficou em 267º lugar no país, com uma média de exames de 11,73, numa escala de zero a vinte, enquanto a Jácome Ratton, (que frequentei noutros tempos), figura em 465º, com uma média de 11,01. É brilhante? Não. É vergonhoso? Também não. Apenas suficiente, quase medíocre em ambos os casos. Nada portanto para realçar em termos de Médio Tejo. Ourém fez largamente melhor, com o C. E. Fátima (privada) em 103º lugar e 12, 52 de média de exames, a Escola Básica e Secundária de Ourém em 140º lugar e uma média de 12,25, e o Colégio S. Miguel de Fátima (privado) em 167º e 12,05 de média de exames. Todos portanto mais de 100 lugares à frente de Tomar. A apenas 20 quilómetros daqui. (E depois ficam alguns muito surpreendidos por a população de Ourém estar a crescer e a de Tomar a diminuir...)
O mesmo acontece em Torres Novas, com a Escola Secundária Maria Lamas em 254º lugar e 11.74 de média de exames, e a Secundária Artur Gonçalves em 426º e 11,01 de média de exames.
Só Abrantes faz ligeiramente pior que Tomar. A Secundária Manuel Fernandes não foi além da 361ª posição nacional, com 11,31 de média de exames, enquanto a Secundária Solano de Almeida se ficou pela 476ª posição, com uma média de 10,72.
Mas há uma outra série de dados que parecem assaz elucidativos. Trata-se do afastamento entre a média dos exames nacionais e a média das notas internas, atribuídas por cada estabelecimento de ensino. Em Tomar temos 2,55 e 2,82, respectivamente em Santa Maria e na Jácome Ratton. Em Ourém apenas 1,91, na Escola Básica e Secundária, dado que nos privados as notas internas não contam, e por isso não figuram nos rankings.
Em Abrantes é maior o afastamento na Manuel Fernandes, com 3,63, mas inferior a Tomar na Solano de Almeida, com 2,52.
É contudo consultando uma amostragem no norte do país que nos damos conta da diferença de atitude dos professores classificadores internos:
Barcelos conseguiu o 60º e o 128ºlugares no ranking nacional, com afastamentos de apenas 1,21 e 0,0; a Covilhã está no 50º e 232º lugares, com afastamentos de 1,92 e 2,32, enquanto Bragança figura nos 86º e 305º lugares, com afastamentos respectivos de 1,65 e 2,14. Todos inferiores a Tomar
Conclusão
Em vez de procurar destacar-se, apregoando a igualdade de capacidades e inflacionando notas internas, talvez não fosse pior os docentes que exercem em Tomar assumirem um módico de realismo e incentivarem os alunos a obterem melhores resultados, preparando-os realmente para os desafios que vão ter de enfrentar durante a vida. Inculcar afigurações por meio de notas inflacionadas nunca deu bons resultados, que se saiba. Embora haja quem sustente o oposto.
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