O salão do edifício do turismo,
montra da tomada do poder pelos facilitados
Trata-se do nobre edifício da há muito extinta Comissão de Iniciativa e Turismo, edificado nos anos 30 do século passado, em estilo renascença e integrando muitos elementos do século XVI. Ali ao cimo da Rua da Graça, frente à entrada da Mata. Até aos anos 90, foi mantido tal como sempre esteve: posto de informação, sala de visitas e pequena biblioteca no r/c, exposição de pintura (legado João Martins de Azevedo) no primeiro andar, com nomes como Carlos Reis, João Reis, Falcão Trigoso, A. Martin Maqueda, Giuseppe Arcimboldo, etc. Tudo impecavelmente arrumado, com tapetes de Arraiolos.
Mais tarde, não dizendo exactamente quando para não ferir susceptibilidades, o pequeno museu do 1º piso foi desmantelado, e o piso térreo progressivamente "adaptado" aos novos hábitos dos facilitados.
(Facilitados são aqueles honrados cidadãos provenientes dos anos do ensino facilitista, logo a seguir ao 25 de Abril. A maior parte nunca foi avaliada capazmente, nem classificada em conformidade, ou submetida a exames nacionais. E nas universidades ou politécnicos, quando lá chegaram, beneficiaram de passagens administrativas, ou do chamado controle contínuo de conhecimentos. Os resultados aí estão agora, à vista de todos.)
Os anos passaram, e aí os temos exercendo o poder, uns como eleitos, outros como funcionários admitidos pela porta dos fundos, outros ainda como "pessoal de confiança política", que tem a vantagem de sair (às vezes) quando os patronos perdem as eleições.
Pontos comuns à maior parte destes simpáticos e escorreitos cidadãos: são intolerantes, sectários, alérgicos à crítica, incapazes de se auto-avaliarem de forma séria, e falham com frequência. Tendo tomado posse do nobre edifício do turismo municipal, ex-sala de visitas da cidade, foram transformando aquilo no que agora é. Uma espécie de escritório mal arrumado, de um qualquer professor universitário de Harvard, Berkeley ou Princeton. Há portas de vidro, secretárias fora de sítio e pejadas de papéis. Há processos espalhados, montes e montes de dossiers onde calha, incluindo em cima dos sofás. Uma confusão, quando afinal se trata do salão nobre de um edifício público, destinado a receber visitantes. Não bate a bota com a perdigota.
Tudo encenação, tentando mostrar que por ali é grande a labuta. Mas redundante e a chocar quem vê. Agora com a informática, basta um computador em cada mesa de trabalho, ligado à impressora central. Processos em suporte papel já tiveram o seu tempo. De resto, no piso térreo sempre houve 2 secretárias no posto de atendimento, à esquerda, mais três na subcave. Mais do que suficientes para o pessoal que ali está colocado. Que, em caso de necessidade, se podia instalar também no desmantelado 1º piso, sobretudo na sala pequena.
Mas não. Tratou-se e trata-se de mostrar poder. A tomada do poder pelos revolucionários, tal como se costuma ver naqueles filmes americanos. E também de ser visto. Por isso, nada de trabalhar nas 3 secretárias da subcave, ou no 1º piso. Isso era no século passado, no tempo da outra senhora! Agora os detentores do poder são outros. Bom senso, modéstia, discreção, requinte, respeito pelo património, ou bom gosto, que se lixem. Exactamente o mesmo que tem vindo a acontecer no Mouchão, com os sucessivos eventos, que nada justifica ali. É preciso vincar bem quem manda. A relva é que vai pagando. No sentido do Variações: "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que as paga..." E depois quem ousa criticar é que está mal da cabeça. Argumentação tipo soviétoide.
2025 é já ali adiante. Então, logo veremos se continua o mesmo teatro com os mesmos actores. Ou se haverá mudança significativa. Até lá, resta ir anotando e contentar-se com o que há: Uma peça sem grande interesse, com actores fraquitos, cheios de vícios cénicos. Na maior parte dos casos, simples cabotinos, é o que é. Boa gente, porém com os seus defeitos. Como todos nós. Uns mais do que outros.
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