sexta-feira, 8 de julho de 2022

 


Festa templária

UM EVENTO TEMPLEIRO

Ocasionalmente, assisti à passagem do cortejo inaugural da Festa templária, edição 2922. Estava sentado ao fundo da Corredoura e vi passar a coisa. Meia dúzia de cavalos, uma centena de figurantes trajados ao que pensam ser a época. Os eleitos do executivo camarário em grande destaque, com aspecto de donos da quinta. 

Embora sempre demasiado exigente, para os padrões locais, não desgostei do que vi. Pareceu-me mais templeiro que templário, mas não envergonhar assim muito. Para o leitor ter uma ideia mais precisa do quadro, à passagem do cortejo havia poucos espectadores, e apenas uma senhora bateu palmas, a partir da entrada da Ponte velha. (Se calhar dos quadros da Tejo Ambiente. Ou da própria autarquia?) O resto não sei, nem tenciono vir a deslocar-me para saber. Está demasiado calor.

De que se trata afinal? O nome "Festa" acasala mal com "templária", pois não consta que os bravos cavaleiros da Terra santa fossem dados a folias. Apesar disso, teve a maioria municipal PS a ideia de organizar anualmente um "festa templária", nos anos em que não há tabuleiros, por falta de coragem e de meios para realizar a Festa grande anualmente. Basicamente, os elos de ligação entre a nova festa e os templários são o castelo, o cerco de 1190 e a igreja de Santa Maria dos Olivais, panteão da Ordem. Tudo o resto é pura encenação teatral, a começar pelo cortejo inaugural a desfilar entre dois locais, a Praça da República e o Mouchão, que nunca tiveram qualquer relação, mesmo longínqua, com os templários. Mas daí também não vem mal ao mundo. Como declarou o realizador americano John Ford, a propósito do filme "Álamo", "Quando a lenda ultrapassa a realidade, filme-se a lenda!"

Quanto aos momentos altos da festa, relacionados com a Ordem do pobres cavaleiros, há dois. Um, já acima referido, é a reconstituição de episódios do cerco de 1190. O outro, o grande cortejo final entre o Castelo e Santa Maria, parece-me ser a reconstituição possível do funeral solene de um mestre da ordem. Seja ou não, em termos de continuidade o que importa apurar, penso eu, são os eventuais benefícios que a festa possa trazer para a cidade e o concelho. Ou seja, se há ou não criação de valor acrescentado significativo, e para onde vai esse valor acrescentado.

A festa, encomendada "pronta a inaugurar" a uma empresa do norte do país, por 80 mil euros, inclui várias actividades pagas, entre as quais algumas refeições muito bem pagas. Convirá portanto que no final, e assaz rapidamente. as respectivas contas fidedignas e auditadas sejam apresentadas ao executivo municipal e na AM, para que de futuro não haja dúvidas, sempre aborrecidas. Como está a acontecer com a Tejo Ambiente.

A justificação da actual maioria camarária para a realização anual da festa é "promover Tomar". Argumento assaz vago, igualmente usado para os Tabuleiros e para as "cantorias várias" no Mouchão. Ocorre que tal justificação é pouco consensual, uma vez que, regra geral, os grandes centros turísticos só fazem promoção na época baixa. Isto porque fazê-la na época alta, como é o caso, inverte as coisas. Não é o turismo local que beneficia com a promoção, mas o evento promocional que benefícia com a afluência turística, típica da "saison". Por conseguinte, ou a Festa templária permite realizar valor acrescentado significativo, e deve continuar e aperfeiçoar-se; ou não alcança tal objectivo fulcral, e deverá mudar para Março ou Abril, na época baixa, para evitar equívocos. Do tipo considerar que atrai muita gente, quando se calhar, fora da época de normal afluência turística, não conseguirá atrair visitantes que a justifiquem. Aqui fica o alvitre gratuito e sem interesses eleitorais. Num concelho cuja Câmara orçamentou para este ano 2,2 milhões de euros para eventos. São 55 euros por habitante! Uma exorbitância em qualquer concelho do país, a braços com uma inflação superior a 8%, mas onde uma empresa intermunicipal ousa aumentar o seu tarifário da água mais de 20%




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