Turismo incapazes e assistidos
O realojamento problemático,
o buxo sacrificado, a experiência imersiva
e o naufrágio nabantino
Se faz parte daquele grupo abençoado dos que detestam ler textos críticos, salvo quando são sobre futebol e afins, por favor passe adiante. Vá ler outra coisa, que o que segue não é para si e pode causar-lhe problemas de saúde, ou pelo menos de digestão.
Desde há anos que por aqui se vai tentando mostrar que em Tomar as coisas não vão bem e poderiam ir bastante melhor, perante a incredulidade de boa parte da população, cuja preparação cívica, infelizmente para todos, lhe não permite enxergar mais. Falei da poluição do rio e dos riscos para o turismo. Falei do realojamento mal programado do pessoal do Flecheiro, que prejudicou e prejudica seriamente outra parte da população.
Expliquei as origens da crise do buxo na Cerca, e indiquei o que se devia fazer para resolver o problema. Anotei a evolução algo caótica dos museus da Levada. Insurgi-me contra o modelo organizativo dos tabuleiros e o seu oneroso custo, e assim sucessivamente.
Aparece agora o percalço de "experiência templária imersiva", no Convento de Cristo, que durou apenas alguns dias até avariar.(ver link) Em todos os casos mencionados e em tantos outros, que lentamente vão provocando o naufrágio nabantino, aparecem as mesmas causas: eleitos impreparados e pouco competentes, com comportamentos autistas, ou mal aconselhados por oportunistas de vão de escada, à coca de dinheiros europeus e respectivas escorrências.
No caso do rio, acharam que bastava anunciar um investimentos de 20 milhões e a coisa ficava resolvida. Não ficou. O realojamento dos calés do Flecheiro até nem correu muito mal, mas ninguém ponderou antes as consequências nefastas para os novos vizinhos, que eram detectáveis, e elas aí estão. cada vez mais graves e frequentes, como era previsível. E depois ainda acham que quem vota no Chega é porque não regula bem da cabeça...
O caso do açude do Mouchão, tradicionalmente desmontável, que se tornou fixo para não sobrecarregar o pessoal braçal da Câmara, transformou-se numa anedota. A presidente de então reconheceu que tal não era a tradição, e que o açude aumentava o nível médio da água, mas garantiu que em caso de inundação não haverá agravamento provocado pelo açude. Mais comentários para quê?
Situação semelhante no caso do maltratado jardim da Mata. Cortada a água dos Pegões, alterou-se um ecossistema que já durava há três séculos, e cujo desaparecimento já causou e vai continuar a provocar sérios danos no coberto vegetal, a começar pela antiga Horta dos frades, o actual jardim da entrada. Do alto da sua competência, assessorada não se sabe por quem, Anabela Freitas.determinou e mandou publicar, à custa dos contribuintes, a sua sentença sem apelo nem agravo: é uma doença do buxo, um fungo, e os técnicos garantem que com uns tratamentos de insecticida o problema fica resolvido. Basta lá ir para ver que não ficou. Resta arrancar e replantar. Para depois secar novamente, enquanto a água não voltar a correr nos Pegões, até à torre de Dª Catarina, no castelo templário.
Falando em templário, surge agora, repentinamente, o caso da "experiência templária imersiva", que foi muito badalada, mas durou apenas alguns dias. Uma arreliadora avaria obrigou a encerrar a sala respectiva, que ninguém sabe quando reabrirá, pois depende de serviços de manutenção informática, que se ignora quando e de onde virão. Isto num monumento Património da humanidade, com problemas de estacionamento, de acesso, de segurança, de visitação, de horários, de sanitários e de recursos humanos preparados. Mas houve quem entendesse que era melhor instalar a tal sala imersiva, que permitiu arrecadar umas largas centenas de milhares de euros aos seus autores. A manutenção, as lacunas e os visitantes que se lixem.
De resto, há mais de dois anos, a autarquia encomendou a uma empresa de Braga, pela módica quantia de cem mil euros, um conjunto de sinalização turística a instalar no núcleo histórico. Onde está essa sinalização? E não se pense que são só casos do passado. Nos últimos dias, o Tomar na rede alertou para a queda de pedaços de reboco da torre sineira de Santa Maria dos Olivais.(ver link).
Ao contrário do afirmado na notícia, que foi útil e oportuna, o perigo é bastante relativo, pois o reboco já vem caindo há pelo menos dez anos (ver imagem) e ainda não se registaram acidentes pessoais. Mesmo assim, apareceu logo um usual comentador a recomendar "um aturado trabalho de manutenção em todo o conjunto, cuja importância histórica é por demais evidente." E a terminar com este encómio: "Merece uma atenção ao nível do que se praticou na Igreja de S. João." Que custou quase dois milhões de euros, convém recordar.
Azar dos azares, quem conhece aquele templo de além da ponte, sabe muito bem que apenas necessita um novo reboco com saibro em parte da torre sineira, e alguma atenção no portal principal, cuja recuperação é praticamente impossível, dado o estado avançado de degradação, provocada pelo salitre ou cancro da pedra. Tudo o resto está bem e recomenda-se, incluindo o telhado, que foi limpo e reparado há poucos anos. Mas os fundos europeus, e sobretudo as respectivas escorrências, são uma tentação neste desgraçado país. Mais uns milhões europeus para Santa Maria, vinham a calhar para certos bolsos, mesmo não havendo necessidade de grandes obras naquele outrora panteão templário.
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