Legislativas 2024
Os meus palpites para hoje
A sete mil quilómetros de casa durante largos meses, vejo a realidade nabantina e nacional de outro modo, mais amplo e sem influência da vizinhança ou do ambiente local. Resolvi por isso publicar as minhas previsões para o acto eleitoral, naturalmente acompanhadas dos encadeamentos teóricos a elas conducentes. Dei-me porém conta de que estamos em período oficial de reflexão, o que me levou a uma pequena alteração. Não faço previsões. Fico-me pelo palpite, o que me dispensa de publicar os entretantos, passando logo ao finalmente.
A nível local, é meu entendimento que vamos ter um ligeiro aumento da abstenção, bem como um quase empate AD/PS, com tendência para a vitória local socialista. O Chega registará no vale nabantino um acréscimo de votação, podendo vir a situar-se acima dos 12%.
Das restantes formações partidárias, só valerá a pena escrever sobre o BE e a CDU, uma vez que as outras nunca tiveram até agora qualquer expressão eleitoral significativa no concelho. Conquanto não o deseje, nem com isso fique contente, antes pelo contrário, parece-me que tanto os da Mariana como os do Raimundo tendem a ter, em Tomar e no país, cada vez menos votos, e agora não será excepção. A geringonça foi-lhes fatal, pois partidos de protesto não podem aliar-se com o alegado inimigo de classe, sob pena de graves punições eleitorais.
A nível nacional, pode bem vir a acontecer uma surpresa relativa, com a AD a obter bastante mais votos em relação ao PS, tendo em conta as previsões das sondagens. Mesmo que assim aconteça, é altamente improvável que Montenegro venha a conseguir uma maioria absoluta, contando com os votos da Iniciativa Liberal, que não deverá progredir muito em relação a 2022. Nestas condições, só o Chega poderá permitir a formação de um governo de direita, maioritário no parlamento.
Não vejo, de resto, o que possa impedir um acordo de incidência parlamentar AD/Chega, naturalmente com cedências de parte a parte, uma vez que estamos na União Europeia, onde os macronistas franceses conversam e aceitam os votos do RN, e em Espanha o Feijó só não governa porque os seus votos e os do Vox não foram suficientes para ultrapassar a manta de retalhos do PSOE e outros, incluindo os independentistas catalães.
Em Portugal, numa atitude que tem muito de adolescente, para não dizer outra coisa mais pesada, a esquerda liderada pelo PS traçou linhas vermelhas a não ultrapassar, assim uma espécie de quarentena imposta ao Chega. Porquê? Ó partido é ilegal? Os seus votos não são iguais aos dos outros? Ventura e os seus seguidores sofrem de lepra, ou de qualquer outra doença altamente contagiosa? Não será tempo de o PS e respectivos apêndices eventuais assumirem finalmente um comportamento político europeu? Em que outro país da UE se estabeleceram linhas vermelhas sectárias à volta de partidos legalizados ditos de extrema-direita? Na República somos todos iguais perante a lei e com igual dignidade.
O Montenegro e o Nuno Melo já avisaram variadíssimas vezes que não se coaligam com o Chega. Uma coligação só seria possível se eles se demitissem!!!
ResponderEliminarAcabei de ver uma entrevista do Nuno Melo, presidente do CDS, que reforça o que aqui já escrevi: o Chega nao é de direita, há muitas coisas no programa do chega que podiam ser perfeitamente do BE ou do PCP, como a estatização da TAP, a taxação dos lucros da banca e das gasolineiras, o darem reformas iguais ao salário mínimo a quem nunca descontou, etc... Diz o Nuno Melo, e muito bem, que o Chega não é de direita, é populista.
Mas os portugueses são burros e votam neles, e depois vão pagar as benesses que o chega promete para chegar ao poder. Não são as empresas como a Galp que o vão fazer, são os consumidores.
Os portugueses vão amanhã distribuir um bolo de mais de sessenta milhões de euros pelos partidos que atinjam determinados patamares de x número de votos, não me lembro se foi na última ou antepenúltima, para o PS foram vinte e muitos milhões de euros.
Respeito naturalmente a sua opinião, com a qual todavia não concordo totalmente. Leia por favor este excerto do LE MONDE de hoje, da autoria da enviada especial Sandrine Morel:
Eliminar"Há dois anos, o medo do Chega mobilizou o eleitorado de esquerda e garantiu ao PS uma maioria absoluta, nas legislativas de 2022. Agora, o medo já não parece ser o que era, e a extrema-direita espera tornar-se indispensável à direita para governar.
Montenegro afirmou que não se alia com o Chega de Ventura, mas já se nota alguma tensão no PSD e alguns, como o ex-primeiro-ministro Passos Coelho e o seu ministro Rui Gomes da Silva já disseram que não se deve fechar a porta a um entendimento com o Chega."
Sandrine Morel, Le Monde online, 10/03/2024
O Rui Gomes da Silva foi ministro do Santana Lopes e não do Passos Coelho, e tem pouco peso no partido. Quem ainda manda no partido é o Cavaco. Para eles se entenderem com o Chega teriam de se demitir o Montenegro e o Nuno Melo e isso seria um escândalo, não se admitiria que os líderes partidários saíssem tão cedo, os outros líderes partidários não lhes dariam tréguas. Eu acho que o governo que saíra destas eleições não dura muito.
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