sexta-feira, 29 de março de 2024

 

Imagem copiada de Tomar na rede, com os nossos agradecimentos.

História e património

O alegado forno romano do Flecheiro

e a história à medida das conveniências


Noticia o Tomar na rede que o pretenso forno romano do Flecheiro está ao abandono e o calheiro da água da "roda da Marchanta" desapareceu. Não houve comentários a respeito, porque o vasto leitorado do site dirigido por José Gaio é do tipo Correio da manhã. Lêem pouco e quase só fait-divers, escrevendo ainda menos. Se fosse um porco a andar de patins, ou uma ratazana a atravessar a Corredoura, ainda vá que não vá, agora umas ruinas romanas, isso interessa a quem?!?
Vamos lá então "agarrar" no problema, tentando ir um pouco mais longe. O alegado forno romano é por enquanto apenas um monte de ruínas, identificado de forma expedita por um arqueólogo, que não recorreu, tanto quanto se sabe, a qualquer processo científico de datação. Olhou, viu examinou e exarou o seu parecer, neste caso um mero palpite. Tanto pode ser um forno romano, como as ruinas de uma c cerâmica do século XIX.
Numa cidade com menos ignorância que em Tomar, logo que foi anunciada a descoberta dos restos e anunciado que se tratava de um forno romano, ter-se-ia seguido o princípio da dúvida metódica. Forno romano ali? Como? Porquê? Mas não. Foi o silêncio geral cúmplice. Incluindo o de quem isto escreve, de quando em vez cansado de pregar no deserto em relação a certos temas.
Agora que o assunto voltou à ribalta local, serei directo e objectivo: Não tem qualquer sentido um forno romano naquelas paragens. Se, como dizem, o fórum romano era na zona do quartel dos bombeiros, e a única ponte era a mais tarde apelidada de "ponte das Ferrarias", lá em baixo em S. Lourenço, como escoavam a produção do forno? A dorso de burros e mulas, que atravessavam o rio a vau? Pouco prático, mesmo para a aludida época.
Convirá portanto, antes de mais, estabelecer com precisão a natureza do achado, recorrendo a métodos científicos e a opiniões académicas variadas, antes de passar à fase da eventual protecção. Se assim não for, caminha-se para mais uma asneira monumental, gastando centenas de milhares de euros para preservar coisa nenhuma. Como está a acontecer com o alegado "Fórum romano".
Há anos que venho batalhando, no sentido de identificar capazmente tudo aquilo que foi encontrado e está à vista, antes de se ir eventualmente mais além. Até agora em vão. Importante mesmo era um projecto para dar dinheiro a ganhar aos amigos, e umas obras com o mesmo fim. Está feito. Agora, que já gastaram perto de um milhão de euros, é que chegaram à conclusão que afinal não há nada de grande valor histórico, ou sequer de interesse turístico, para guarnecer o pavilhão entretanto montado. Nem quem queira e saiba desempenhar essa ingrata tarefa.
Tempo perdido e dinheiro desperdiçado? Sem dúvida. Mas ainda estão a tempo de cobrir as ruínas, (depois de terem deixado um cilindro metálico contendo documentos de identificação e outros) e aproveitar o pavilhão para os bombeiros municipais, em vez de irem construir outro quartel em casa do Diabo mais velho.
Entretanto convirá seguir a prática europeia em matéria de património: Identificação prévia de forma completa e sem margem para dúvidas razoáveis, seguindo-se a preservação à vista (se tiver interesse turístico) ou enterrada, que fica muito mais barata e não carece de manutenção posterior.
À consideração dos jovens da governação municipal.

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