quinta-feira, 28 de março de 2024





Assembleia da República

PSD: DERROTA VALENTE 

CONTRA O DISSIDENTE


Foi um início de sessão bem animado na Assembleia da República. A tal ponto que os comentadores encartados e os das redes sociais confundiram a normal barganha política com algo de burlesco e vergonhoso. Tudo porque, inesperadamente, o PSD não conseguiu eleger o seu candidato Aguiar Branco à presidência da A.R. Foi geral a surpresa e a incompreensão, com muitos a culparem o Chega pela irresponsabilidade, falando mesmo de birra, quando afinal não foi nada disso que aconteceu. As aparências iludem, sobretudo quem se quer iludir.
Desde sempre contra o dissidente Ventura, que ousou abandonar o partido social-democrata, Montenegro foi muito claro, sem todavia esclarecer os eleitores, durante a campanha das legislativas. Nada de conversas com o líder do Chega, em virtude das linhas vermelhas há muito traçadas pela extrema-esquerda e seguidas pelo PS e pelos social democratas, deu a entender o líder laranja, assim induzindo em erro os observadores menos atentos a estas coisas.
Começada a primeira eleição parlamentar, a do próprio presidente do órgão, sem grande poder mas protocolarmente 2ª figura do regime, houve surpresa para todos os partidos, menos para o PSD, onde já se sabia que o Chega ia abster-se ou votar branco na candidatura Aguiar Branco, não por causa das tais linhas vermelhas ou por se tratar de um partido intratável, mas apenas porque Montenegro se recusara a falar com Ventura e pretendia humilhá-lo, forçando-o a votar favoravelmente o candidato do PSD sem qualquer entendimento prévio, nem mesmo uma simples conversa. A punição do dissidente. Não vales nada e votas como o partido quiser, terá querido significar Montenegro.
Seguiu-se o primeiro desastre parlamentar laranja. Aparentando surpresa ante os votos brancos do Chega, em vez de remediarem logo, conversando com Ventura, como seria normal em qualquer parlamento de tipo europeu, insistiram na asneira do banimento de facto do líder do Chega. Procurando demonstrar a alegada irresponsabilidade do partido considerado não democrata, consentiram numa segunda volta eleitoral com três candidatos, de forma a levar o Chega a votar no candidato PS, que assim seria eleito, e provaria ser Ventura apenas um reles traidor.
Falhada a demonstração, seguiu-se a desorientação geral, com Montenegro desafiando a lógica política, ao negociar com o PS, em vez de o fazer com o Chega, o que lhe garantiria na prática um mandato tranquilo, com maioria absoluta no parlamento.
O resultado final, meio mandato para o PSD e a outra metade para o PS, na presidência da A.R., não é bom nem se recomenda. Logo a seguir, os socialistas esclareceram que ajudaram a salvar a situação, mas se mantêm como oposição. Em termos claros, o governo laranja só vai durar enquanto os socialistas quiserem que assim seja. Montenegro tornou-se dependente de Pedro Nuno, uma vez que na A.R. a esquerda é maioritária sem os votos do Chega e da IL
Aos social-democratas resta apenas uma réstea de esperança: que o Chega obtenha um mau resultado nas eleições europeias, já em Junho, assim ficando demonstrado que se trata de um fenómeno passageiro, tipo PRD, o que seria uma vitória para Montenegro na sua luta contra o dissidente modelo Zita Seabra, e lhe daria força na árdua negociação permanente com o PS.
Se, pelo contrário e como tudo parece indicar, Ventura conseguir um bom resultado nas europeias, o Chega terá uma auto estrada à sua frente rumo às autárquicas de 2025, com Montenegro vencido e de abalada, se conseguir sobreviver até lá. Como bem sabe quem tem Mundo, a política é implacável, condenando todos os que obstam ao seu normal funcionamento pragmático. 
É o que se vê por essa Europa fora, e também o caso paradigmático do PCP. Um passado brilhante, uma acção política sem mácula e com muito e bom trabalho político, mas apesar disso os votos são cada vez menos, e sem votos não adianta ter razão, arranjar desculpas, ou continuar a escarnir em relação a quem não vota comunista. Bem pelo contrário.


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