quinta-feira, 14 de março de 2024


Política local - Debate


"Houston, temos um problema!"


Ao ler e reler a tribuna do PSD, aqui publicada ontem, sem comentários, como exige o estrito respeito pela democracia de tipo ocidental, senti-me um pouco como aquele astronauta que em tempos disse lá de cima para a base "Houston, temos um problema!", porque algo não funcionava a contento. Neste caso, não se trata de funcionamento, mas de incompreensão, quiçá provocada pela distância e pela diferença de temperatura. O comunicado partidário terá sido escrito no frio e eu li-o no calor, o que poderá ter embaciado o meu raciocínio.
Seja como for, há nele três pontos que, sem me provocarem azia, tão pouco me agradaram. O que me leva a esta contestação serena, no âmbito do normal debate democrático, sem acrimónia nem cedências. O primeiro e mais gritante é o próprio título. Não consigo entender em que se baseiam para afirmar que "AD cresce e aponta para a mudança em Tomar". Na verdade, conservaram os 3 deputados distritais, perderam em Tomar para o PS, e mantiveram a pequena diferença numérica desfavorável, que já vem das autárquicas de 2013. É isto que aponta para a mudança? Não se vê como. A não ser que estejam a pensar noutra mudança, aquela de que falou Camões, num verso célebre...
Afirmam que o PS perdeu 1.600 votos no distrito, e podiam até ter acrescentado que perdeu também 13 pontos percentuais , em relação a 2022, mas esqueceram-se de acrescentar que o beneficiário dessa queda foi o Chega, que passou de um para três deputados no distrito, sendo que nenhum deles é de Tomar, infelizmente.
O segundo ponto refere-se justamente aos candidatos a deputados. Já aqui foi dito, noutra altura, que a candidatura social-democrata tomarense foi um desastre, ao lograr apenas o nono e último lugar na lista partidária, contrastando com o 2º lugar do socialista Hugo Costa, o que terá sido uma das causas do fraco resultado local do PSD. Assim sendo, a que propósito resolveram mencionar a candidata de triste memória neste comunicado? Foi exigência da própria, que padece de cabotinismo? Nunca ouviram dizer que quanto mais se mexe em certas coisas, mais desagradável é o cheiro?
O terceiro e último ponto é sobre o próprio comunicado. É natural a divergência de opiniões, a tal ponto que, já no tempo da outra senhora, o professor José Hermano Saraiva tinha um programa na TV, cujo título nunca causou engulhos à censura de então: "Outras maneiras de ver". Só que há maneiras e maneiras. É a velha história da garrafa, meio cheia, meio vazia, ou meia, e todos têm razão. Ressalta todavia deste comunicado que, uma de três: ! - Os dirigentes laranja nabantinos estão a ver mal o problema das legislativas, em que foram vencidos em Tomar sem apelo nem agravo. 2 - Compreendem muito bem a situação, mas resolveram tentar iludir mais uma vez os eleitores. 3 - Não entendem bem as causas do que se passou, e resolveram proceder como habitualmente.
Como dizem os índios, que oficialmente são pardos, aqui pelo nordeste brasileiro "São brancos, eles que se entendam!" Não devem contudo esquecer que é a partir de agora que se ganham ou perdem as autárquicas de 2025, pelo que convirá refletir, afastando desde já quem seja demasiado susceptível, pois como é bem sabido, "quem tem calos não se deve meter em apertos", e com a extraordinária ascensão do Chega, a situação política ficou mesmo muito apertada. Passou-se de uma situação bipartidária, para uma tripartidária. Não é pouca coisa, sobretudo nas cidades mais pequenas, com executivos de cinco, ou de sete elementos.
Muito mais complicada ainda, é doravante a situação no concelho de Silves (Algarve), cuja Câmara é de maioria CDU (PCP-PEV), mas onde o Chega ganhou folgadamente, ficando aquela coligação de esquerda em 4º lugar, com 5,96%. Nas autárquicas de 2021, a CDU obteve 43,1% e 4 eleitos num executivo de 7. Aceitam-se explicações convincentes a respeito, partindo do princípio que não se devem comparar autárquicas com legislativas, embora os eleitores sejam os mesmos, nas mesmas condições exteriores.


 

4 comentários:

  1. Acho que o professor dá demasiada importância a ter um deputado de Tomar. A número 1 da lista do PS por Santarém nem sequer pertence ao distrito, o 'nosso' deputado Hugo nem sequer tem peso para número um, e isto não é nenhuma piada. O número 1 da lista da CDU por Santarém era o Bernardino Soares, ex presidente da Câmara Municipal de Loures!!! O nosso deputado de cada vez que sobe ao palanque fala de Tomar, terra dos templários, do convento de cristo património material da humanidade, mas não me parece trazer muito para a mesa. Quando o PS tinha cinco deputados por Santarém e era ele supostamente os chefiava deixou fugir o novo aeroporto para Alcochete. Agora já se fala que Santarém entra novamente nas hipóteses. Eu não o vejo como o CR7 da política mas espero estar enganado.

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    1. Não havendo eleição tipo inglês, com um deputado por circunscrição, parece-me que é preferível ter na AR deputados tomarenses, mesmo maus, do que não ter ninguém. Não lhe parece? Embora em Portugal possa não parecer, por causa do sistema de lista fechada, feita pelo partido, um deputado também serve para ajudar a resolver um ou outro problema dos eleitores. Se não houver ninguém de Tomar na AR, vai-se pedir a quem? Os exemplos que apresentou ajudam a explicar a ascensão rápida do Chega. Os eleitores desiludidos, não sabendo a que santo pedir, protestam.

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  2. Se ele, que chefia a distrital do partido mais votado em Santarém conseguir trazer o novo aeroporto eu faço lhe aqui uma vénia. Até lá tenho as minhas reservas...

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    1. Tanto quanto sei, que é pouco, vontade não lhe falta, mas há outros interesses em jogo, que têm muita força. Tanta que o problema já se arrasta há 50 anos, situação inimaginável em qualquer outro país europeu.

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