Vista aérea do Açude de Pedra, outrora com serventia pública (ver imagem infra) a partir da Estrada do Prado, ultimamente fechada ilegalmente com uma cancela, perante a inoperância da Câmara.
Gestão autárquica
O medo doentio de perder votos
Anunciei três temas controversos para ilustrar a situação de falta de rigor, de facilitismo e mesmo de bandalheira, que reina em Tomar há décadas. Estava então a pensar em S. Francisco, Santa Iria e nos Pegões. Publicado o primeiro texto, sobre a embrulhada de S. Francisco, que já dura há 40 anos, resolvi mudar de agulha. Não adianta, salvo para memória futura. No presente e em termos práticos, a mentira do poder será sempre a verdade oficial, e a verdade factual de Tomar a dianteira 3 não passará de má-língua. Estamos assim, e dificilmente vamos mudar. Temos de cumprir a tradição, sentenciam os tomaristas. (Não sabe o que é um tomarista? É um tomarense só para o que lhe convém.)
Já no novo figurino, sem qualquer preocupação de demonstrar o que seja, chegou a vez de mencionar o problema do aqueduto dos Pegões. Basicamente é isto: Durante quatro séculos, não houve água corrente no Convento de Cristo, o segundo mais rico do país, a seguir à Abadia de Alcobaça. Quando, por causa da peste em Lisboa, a corte de Filipe II de Espanha, que estava a caminho da capital portuguesa, foi forçada a instalar-se em Tomar, a nobreza espanhola passou maus bocados, numas instalações que ignoravam ser tão primitivas em termos sanitários, quando comparadas com Castela.
O choque foi tal, durante os quase seis meses passados no vale do Nabão, que o rei mandou logo que se fizesse um aqueduto para abastecimento de água ao Convento, o qual só veio a estar concluído 32 anos mais tarde, em 1613. E até mereceu visita real do sucessor, atestando a importância do empreendimento. Está gravado na Cadeira d'El-rei.
Desde então, e até aos anos 80 do século passado, a água do aqueduto, dita "água dos Pegões", e deu origem e alimentou a um vasto ecossistema, com quatro tanques, duas nascentes e um ribeiro, permitindo uma mata verdejante no exterior das muralhas sul e nascente, bem como um pomar e uma horta muito produtivos.
A saída negociada do Seminário das missões, que até então ocupava parte do monumento desde os anos 30 do século XX, veio permitir uma melhor fruição do monumento, mas ditou a agonia do ecossistema existente. Deixou de haver um funcionário para fiscalizar todo o aqueduto, e os vizinhos logo aproveitaram o "deixa andar". A água nunca mais passou dos Brazões, e um agricultor mais afoito destruiu até um pequeno arco do aqueduto, para poder passar com a carroça ou o trator. Até hoje...
A partir de então, já sem água a correr no aqueduto, nem nos quatro tanques ou no ribeiro, e com a cobertura vegetal secando à vista de todos, tem sido uma beleza à nabantina. O Convento diz que faz o que pode. Os Amigos do aqueduto têm-se esforçado limpeza do dito. A Câmara mandou consolidar quatro arcos, pela bagatela de 400 mil euros. A RTP transmitiu uma mini-reportagem, que não passou para lá dos Pegões altos. E o aqueduto continua seco. Caso para dizer "Muitos ao burro e o animal no chão."
Pior ainda, tendo um dos intervenientes na citada reportagem TV aludido à conveniência da água voltar a correr no aqueduto, logo o presidente da Câmara esclareceu no mesmo programa, que ficava muito caro, havendo agora métodos mais baratos. Mostrou assim que não entende o problema e mentindo sem necessidade.
Não entende o problema, pois trata-se de restabelecer o ecossistema que funcionou bem durante mais de três séculos, e não de procurar o meio mais barato de obter água. Mentiu sem necessidade, uma vez que a água do aqueduto corre por simples gravidade, sem gastar energia, o que a torna mais barata do que qualquer outra.
Procurando ir ao âmago da questão, encontramos sempre a mesma causa na origem dos múltiplos problemas tomarenses a aguardar resolução: O medo doentio de perder votos. Da irmandade, no caso de S. Francisco. Dos Brasões, no caso do aqueduto. Dos vizinhos renitentes, no caso da rotunda da ARAL. Dos funcionários municipais, no caso do açude do Mouchão, que ao cabo de séculos, passou de amovível a fixo, para poupar trabalho, com os riscos daí advenientes em caso de inundação. Dos donos da Quinta da Granja, que privatizaram ilegalmente a serventia entre a estrada municipal do Prado e o Açude de Pedra, jnstalando uma cancela e assim impedindo o acesso ao choupal, que sempre foi público. Do gestor da massa falida, no caso dos vastos bens da Fábrica de Fiação, a degradar-se há décadas.
Se os socialistas locais já chegaram a isto, não fazerem o necessário para não desagradar, fica-se sem saber bem para que servem. Estarão à espera que seja a direita a assumir-se como garante das liberdades e do interesse público? Acham, uma vez mais, que o culpado é o PSD, que também não fez até há dez anos atrás?
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