quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Política e o resto

Mordomo dos tabuleiros? Nem pensar!

Helder Silva, habitual leitor deste blogue, escreveu num comentário à crónica "Trabalhar pouco e  mal", de 28 de Outubro, que tenho requisitos para mordomo dos tabuleiros, mas que o PS nunca me vai escolher. Ainda bem, caro Helder, a quem agradeço a amável referência. Ainda bem que o PS não me escolhe. Não tenho pachorra nenhuma para tal função. 
Desde logo, porque um mordomo é um criado, coisa que nunca quis ser. Fui trabalhador em várias empresas, em Portugal e em França, bem como servidor do Estado durante 36 anos, incluindo de arma na mão durante a guerra em Angola. Mas nunca fui criado de ninguém. Nunca tive nem tenho essa mentalidade de senhores e criados.
Depois, sem querer ofender os tomarenses, mesmo os tomaristas, a festa dos tabuleiros é, no seu modelo actual e na minha pobre opinião, uma razoável salganhada, que alguma dia terá de ser corrigida. Dizem ser para cumprir a tradição, que consistia em dar de comer a quem tinha fome, mas há décadas que felizmente acabaram as manchas de pobreza em Tomar e no país. Agora a maior parte do pão dos tabuleiros vai para o lixo, e pouca gente se inscreve para receber a peza. É muito dinheiro gasto para tão pouca utilidade prática.
Acrescentam que se trata de um desfile religioso, mas o padre nem sempre acompanha o cortejo. Garantem ser uma festa das colheitas, mas estas são anuais e a festa é quadrienal, sem qualquer justificação plausível. E depois, há a tal questão do mordomo, uma alegada tradição muito recente, copiada da escolha por ajuntamento do "juíz da festa", nas aldeias  do concelho. 
João dos Santos Simões, que tive o privilégio de escutar durante as suas visitas guiadas no Convento de Cristo, foi comissário auto-nomeado dos tabuleiros. Bento Baptista, Mota Lima e Tó Carvalho foram comissários da Festa dos tabuleiros, porque presidentes da defunta Comissão Municipal de Turismo. Nunca foram mordomos. Talvez por isso, as festas de então foram proporcionalmente muito mais baratas...
Os defensores do modelo actual da festa, criados da maioria que na ocasião está na Câmara, vão defender com unhas e dentes o que está, contra qualquer tentativa de reforma. É natural. Alguns já mostraram com que linhas se cosem, aquando da tentativa malograda de retirar o cartaz do Chega da Rotunda, para não incomodar o cortejo.  Podem por isso, sem abuso, ser comparados aos defensores dos palestinianos, que também são intransigentes e obstinados, entre outras "qualidades" bem conhecidas.
Desde 1948, data da fundação de Israel, que os palestinianos, ou quem diz representá-los, pretendem expulsar os judeus daquela região, sem se darem conta do irrealismo e  da barbaridade da coisa. Já por duas vezes, nem os exércitos unidos do Egipto, da Siria e da Jordânia, conseguiram vencer as forças de defesa de Israel. Foram derrotados sem margem para dúvidas, o que já levou o Cairo e Aman a assinarem acordos de paz.
Agora foi o Hamas, um movimento terrorista, que caiu na armadilha do primeiro-ministro Netanyahu, com crescentes dificuldades políticas internas para se manter no poder. Segundo o relatório oficial israelita, publicado pelo Le Monde, em 7 de Outubro, 80 pelotões de 25 milicianos cada, penetraram em Israel através de 29 buracos, abertos na barreira de protecção. E os defensores israelitas não deram por nada., segundo a versão do primeiro-ministro. Os do Hamas  avançaram alguns quilómetros, cometeram milhares de atrocidades tipo medieval, e arrastaram para Gaza 250 reféns, homens mulheres e crianças, quase todos civis.
Como não são cristãos, os do Hamas se calhar não têm aquele provérbio, segundo o qual "quando a esmola é grande, o santo desconfia", pelo que não imaginaram sequer que eram demasiadas facilidades ao mesmo tempo, num país que tem dos melhores serviços de informação mundiais e o melhor exército da zona. E ninguém deu por nada? Dois mil homens fardados e armados, atravessando uma barreira de segurança previamente arrombada, é muita gente para passar despercebida
Agora, confrontados com a terrível reacção israelita, vá de alardear valentia, clamando que estão preparados para combater e vencer o invasor judaico, assim evitando o alegado genocídio. Enquanto isto, os tradicionais aliados políticos convocam manifestações e invadem as redes sociais, levando a ONU a propor uma trégua humanitária, e alguns países um cessar-fogo imediato, que Israel já rejeitou, com uma frase bíblica: "Há um tempo de guerra e um tempo de paz. Este é um tempo de guerra."
Situação assaz curiosa, porquanto há uma guerra na Ucrânia, em plena Europa, desde há quase dois anos, provocada por uma invasão russa, e até agora ainda não houve nenhuma proposta de trégua humanitária, ou de cessar-fogo. Nem da ONU, nem de qualquer país Porque será? O exército russo é mais civilizado que as tropas israelitas? Os habitantes de Gaza são mais frágeis que os ucranianos? Ou a esquerda ocidental está cada vez mais obstinada e miope?
Retornando ao início, após esta divagação que estava há dias atravessada na garganta, mordomo da festa dos tabuleiros, não. Obrigado. Mas se algum partido quiser ter a amabilidade de me incluir, em lugar elegível, nas próximas eleições para o Parlamento europeu, ficarei muito grato e desempenharei o melhor possível. Tomaram nota? Bem hajam!



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