Negócios nacionais e negociatas locais
A VINGANÇA DOS VENCIDOS
Não foi propriamente uma surpresa, antes uma confirmação, o escândalo de corrupção que acaba de ser parcialmente indiciado pelas entidades judiciais. Com um detalhe a reter, porque muito significativo: A Polícia Judiciária não foi envolvida nas buscas e detenções, apesar de ser a autoridade competente em matéria de economia, alegadamente por falta de efectivos disponíveis.
Foi a rapidez com que António Costa apresentou a demissão que surpreendeu. Não as causas da mesma, que de resto ainda estão por apurar na sua totalidade, segundo aquilo que até agora foi noticiado. De tal forma que reina a euforia no campo dos adversários políticos, geralmente pacatos e mais virados para o futebol e as suas escandaleiras. Um presente de Natal, que vem mesmo a calhar. Excepto para os da falecida geringonça.
Qual a causa remota do brusco aquecimento do ambiente político do país, justamente quando as temperaturas tendem a descer? Creio que a vingança dos vencidos. Desde pelo menos os tempos de José Sócrates, que se tornou comum uma certa liberdade com os dinheiros públicos. Como se fosse algo natural governar-se pessoalmente quando se governam os outros.
Recordo uma conversa com um eleito local, também dirigente de uma empresa de obras públicas, nos idos de 80 do século passado. Perguntei-lhe a dada altura quando é que começava determinada obra, e fiquei espantado com a resposta. Algo como "Foi entregue a semana passada aos gajos da sociedade X, que devem ter avançado com bom dinheiro, porque a gente também deu algum e perdeu."
Parece ser este o ambiente geral nos negócios públicos e privados, pelo menos dede o 25 de Abril, apenas rareando os escândalos por não haver quem os denuncie, seja por falta de coragem dos vencidos, ou devido à relativa modéstia das somas envolvidas. Como é bem sabido, tudo o que por aí tem havido em termos de crimes económicos do domínio público, é da ordem dos milhões de euros, e não de apenas alguns milhares. À justiça que temos repugna tratar de ninharias.
Aqueles respeitáveis cidadãos que agora viraram comentadores nas redes sociais, com visível satisfação, quando habitualmente nada escreviam sobre os temas locais, e até se manifestavam contra quem assumia tal tarefa, como o autor destas linhas, continuarão decerto convencidos de que a nível autárquico os eleitos são todos pessoas muito sérias, acima de qualquer suspeita. Assim é realmente, mas só até que se demonstre o contrário, nos termos da lei.
Umas ruínas avaliadas em 3 milhões de euros e duas décadas mais tarde cedidas por apenas 700 mil euros. Uma autarca que vai numa lista de outro partido, cujo mandatário é o comprador das referidas ruínas. Ajustes directos sem consulta prévia e contratos musicais, nunca cabalmente explicitados. Determinada empresa de fora, que arrematou em concurso público a exploração de certa unidade hoteleira, mas mais tarde se viu forçada a ceder a sua posição a uma empresa concorrente local, antes vencida, perante a catadupa de tranquibérnias municipais, manifestamente impeditivas. Projectos de obras públicas bem pagos, com erros de toda a ordem, incluindo ciclovias que acabam na frente de árvores, ou nas esplanadas de café. Uma empreitada de três milhões de euros, da qual foi retirada, já depois de iniciadas as obras, a requalificação dos sanitários públicos. Determinada equipa desportiva, com acesso a competições europeias, que tem como patrocinadores principais a Câmara e o Politécnico, ou seja o orçamento de Estado, caso único no país.
Tudo isto e muito mais, são aspectos do pântano tomarense, onde nem sequer falta o cheiro nauseabundo do rio, quando poluído por interesses pouco confessáveis, nunca foi devidamente apurado em termos legais, por falta de vencidos com coragem para denunciar. Sempre fomos, e continuamos a ser, o país dos brandos costumes, com uns acessos de febre legalista de tempos a tempos, quando valor€s mais altos se l€vantam e a tanto obrigam.
O melhor amigo do António Costa disse uma frase que me ficou no ouvido: "O António era um excelente advogado e se tem seguido advocacia (onde esteve muito pouco tempo) hoje era um homem rico, assim é pobre!!!". Veja lá o que esta malta não há de lucrar para conseiderarem um gajo com cinco casas pobre!!!
ResponderEliminarHá um termo que aparentemente o PS e a esquerda em geral ignoram deliberadamente: rigor. Quando não há, tudo pode acontecer, como está à vista. E aquilo que sempre fica por saber é muito mais que o exposto. Tem de haver em permanência uma alternativa entre caça ao voto e rigor. O meio termo não funciona.
EliminarO Professor já reparou que estes políticos carismáticos 'ditos' de esquerda como o Sócrates, o Lula, o Soares, o Costa, provavelmente todos eles maçons, têm uma coisa em comum: Eles tentam transmitir uma imagem de não serem ricos e não ligarem ao dinheiro, mas no início de cada mandato fazem a declaração ao tribunal constitucional onde declaram que têm 200 ou 300 mil euros em poupanças mais casa e carro, um ou outro tem também casa de férias, mas todos eles têm amigos de infância que são os seus testas de ferro a quem confiam os milhões da corrupção. Depois quando são descobertas estas 'amizades' dizem todos que são inocentes e que querem ser investigados. São levados a julgamento, com indicíos fortes, escutas, etc..., mas, pelo menos em Portugal, tem de ficar tudo muito bem explicado: o político x recebeu vantagem para fazer determinado favor. No Brasil não sei se é assim, o Lula foi condenado sem o sitío de Atibaia, nem o triplex estarem no nome dele. Mas repito, em Portugal é muito mais difícil o combate á corrupção.
EliminarAfinal "O Diabo " que António Costa dizia que nunca tinha vindo ,sempre apareceu ,ou seja nunca digas nunca !
ResponderEliminarMuito grave , mas mesmo muito grave ,o facto de não ter sido a PJ a força policial a ( par de outras entidades ) liderar as operações . O Sr. Luís Neves diretor Nacional da PJ era sempre tão eloquente a defender o governo ,pois em casos mais mediáticos quando seria necessário o maior recato ,lá estava em horário nobre e com hora marcada em todas as televisões a dizer que o sucesso da operação se devia também ao meios que o governo põe á disposição !
Então e agora o governo não pôs os meios á Disposição !!!?